Delfín, o futurista porta-mísseis soviético que era hidrofólio e submarino ao mesmo tempo

Ciência e Tecnologia
JAKOB OREKHOV
Nos anos 1950 e 60, a URSS estudava a possibilidade de construir algo nunca visto antes: um navio lançador de foguetes submersível que pudesse alcançar a velocidade de hidrofólios na superfície.

A ideia de criar um híbrido de submarino e hidrofólio recebeu o nome Projeto 1231 Delfín (Golfinho, em russo) e partiu do líder soviético Nikita Khruschov.

Ele ordenou a criação de um navio lançador de mísseis que pudesse navegar sob a superfície da água para evitar contato com aviões ou outros navios e emergir à grande velocidade lançando mísseis antinavios, quando necessário.

De acordo com o projeto do Escritório Central de Design de Leningrado, sob a direção de Ígor Kostétski, planejava-se construir um modelo do navio autopropulsado à escala 1:2 ou 1:3 para testar o formato do casco, o processo de imersão e emersão, o sistema de hidrofólio e a manobrabilidade debaixo d’água.

Um monstro bem armado

O Delfín teria 63 metros de comprimento e peso de deslocamento entre 450 e 600 toneladas. A sua velocidade, dependendo do modo de navegação, variaria entre 14 e 38 nós (26 e 70 km/h).

A ideia era que a tripulação do equipamento fosse composta por até 12 pessoas, dividindo espaço com mísseis de cruzeiro antinavios P-25 Ametist (versão reduzida do P-70 Ametist, criada especialmente para o Delfín).

Problemas e abandono

A tarefa de criar um porta-mísseis que reunisse as funções e caraterísticas de um navio de superfície e de um submarino acabou sendo tecnicamente muito complexa.

Era necessário alterar as fontes de energia, criar um novo tipo de central elétrica, administrar a sobrecarga dos motores principais durante a transição da navegação submarina para o hidrofólio – e assim por diante.

Como diversas peças, sistemas e dispositivos necessárias para o navio híbrido não eram produzidas em massa, o projeto foi abandonado quase que ao mesmo tempo em que Khruschov deixou o poder, em 1964.

Segundo o especialista do Centro Estatal de Ciências de Krilov, Eduard Aframeev, o Delfín “não teve chance de ser aplicado na prática, apesar dos esforços titânicos feitos pelos engenheiros soviéticos”.

Nem tudo perdido

Embora o projeto tenha sido cancelado, o desenvolvimento do Delfín levou à criação de várias novas soluções técnicas para a indústria da construção naval.

Os engenheiros desenvolveram, por exemplo, uma liga de alumínio, magnésio e titânio que permitiu criar cascos blindados de 40 mm de espessura. Também foram desenvolvidos novos motores a diesel, baterias de zinco-prata e sistemas de automação que anteciparam o surgimento dos submarinos soviéticos do projeto 705.

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