Homo sapiens chegou à Rússia antes do que ao resto da Europa, garantem arqueólogos

Ciência e Tecnologia
OLEG EGOROV
Local na aldeia de Kostenki, na região de Voronej, é o assentamento mais antigo de Homo sapiens descoberto na Europa – cerca de 45.000 anos atrás. Suas casas, construídas com ossos de mamute, estão preservadas.

Em 1949, Ivan Protopopov, um morador da pequena vila de Kostenki, na região de Voronej (500 km ao sul de Moscou), começou a cavar um porão em seu quintal. No entanto, em pouco tempo, sua pá atingiu um grande osso branco.

Segundos depois, para sua surpresa, vários outros objetos iguais foram tirados de seu jardim. Protopopov chamou o arqueólogo Aleksander Rogatchev, que estava conduzindo pesquisas em Kostenki, e as escavações subsequentes mostraram que Protopopov vivia sobre uma casa da Idade da Pedra construída com ossos de mamute.

Como mostra o estudo, a área está repleta de vestígios e artefatos da atividade humana do Período Paleolítico Superior (40.000 a 10.000 anos atrás).

 Paraíso arqueológico

Quase 70 anos depois, o Russia Beyond foi conversar sobre o assunto com a pesquisadora-chefe do Museu Arqueológico de Kostenki, Irina Kotliarova. Em um enorme buraco diante no centro do museu, estão os restos da enorme casa de ossos.

“O governo soviético decidiu construir o museu em torno desse local”, explica Kotliarova. “No começo, tratava-se de uma pequena casa de madeira, que se transformou no que vemos agora” – um cubo de concreto com o baixo-relevo de um mamute; com uma casa de ossos de mamute e outros itens em exposição, incluindo um mamute artificial, Stepan, bem como pontas de lança de ossos e pedras; e figuras de Vênus (estatuetas de fertilidade paleolíticas representando mulheres).

Kotliarova explica, porém, que o museu não é o único lugar de descobertas antigas – cerca de 26 locais em Kostenki e no vilarejo próximo de Borschevo exibem traços de civilizações da Idade da Pedra, e as escavações estão em andamento.

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Alguns anos atrás, quando a administração do museu tentou construir uma sala de caldeiras no quintal, foi encontrada outra casa de ossos, que agora está sendo escavada. “Parece que Kostenki é uma fonte inesgotável de tesouros arqueológicos, uma meca para os arqueólogos”, acrescenta Kotliarova.

Kostenki ganhou reconhecimento internacional em 2007, quando o arqueólogo norte-americano John Hoffecker, da Universidade do Colorado, afirmou que “os sítios arqueológicos de Kostenki e Borschevo contêm os primeiros vestígios conhecidos do Paleolítico Superior na Europa Oriental.”

Os americanos dataram os artefatos usando um método de termoluminescência, e as descobertas provam que “o Homo sapiens veio para cá, para o rio Don, muito antes do que para o resto da Europa” – quase 45.000 anos atrás, segundo estimativas.

Rússia pré-histórica

“Há cerca de 800 ossos de mamutes aqui, são os restos de aproximadamente 36 animais”, diz Kotliarova sobre a exposição do museu. “É improvável que até mesmo uma grande tribo tenha sido capaz de matar tantos mamutes – acreditamos que os caçadores de mamutes também trouxeram restos mortais de longe.”

Os caçadores de mamutes utilizavam os ossos para construir suas casas, cobrindo-as com pele de rena. O acesso era tão pequeno que só era possível entrar rastejando; e as pessoas viviam nas temperaturas congelantes do permafrost (solo congelado).

O clima mudou bastante nos últimos 45.000 anos, e agora é difícil imaginar a região de Voronej coberta de permafrost. No entanto, naquele época, os mamutes percorriam essas terras, e nossos ancestrais caçadores de mamutes os seguiam.

Investimento para turismo

O arqueólogo Aleksandr Rogatchev, que despendeu muito tempo e esforços para estudar Kostenki durante o período soviético, disse certa vez: “As autoridades [soviéticas] não entendem completamente a importância de Kostenki. No futuro, essa vila será um centro cultural para a região de Voronej”.

Hoje, isso é verdade – mas até certo ponto. Com seu museu e cenários pitorescos, Kostenki está situada a 70 km ao sul de Voronej, e é difícil chegar lá sem carro. Um ônibus parte da estação local todas as manhãs, mas não há rota direta de volta. Os visitantes devem seguir para outra aldeia e trocar de transportar para voltar a Voronej.

“Somente se formos notados em nível federal, conseguiremos atrair atenção e investimento para Kostenki”, afirma Kotliarova. Por enquanto, a região é uma meca para arqueólogos, mas não para turistas. “Mesmo assim, enquanto houver entusiastas da Idade da Pedra, Kostenki viverá como um importante local histórico.”

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