Mutação no espaço: como as viagens interplanetárias podem alterar os humanos?

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Se viajarmos para planetas distantes, nos tornaremos seres mutantes resistentes à radiação e à falta de oxigênio? Por meio do estudo de amostras de sangue de cosmonautas, cientistas russos planejam desenvolver novos medicamentos para os primeiros viajantes espaciais. O objetivo principal? Evitar mutações nocivas.

O organismo reage de forma incomum no espaço – o corpo fica confuso na ausência de gravidade e tenta compensar ativando os sistemas de defesa. “O sistema imunológico faz um grande esforço para lidar mesmo com patógenos menores”, diz o professor Evguêni Nikolaev, do centro de inovação Skoltech, em Moscou.

Ao longo do ano passado, a equipe de Nikolaev pesquisou amostras de sangue de cosmonautas russos para entender como os seres humanos se adaptam durante uma viagem espacial. “Queremos desenvolver novas drogas que ajudem o corpo humano a funcionar adequadamente e evitar mutações no caminho a Marte e outros planetas.”

Nós, os alienígenas

“A viagem espacial é totalmente estranha às nossas espécies. Deixar a gravidade do planeta tem um impacto sério sobre nossos corpos, e as pessoas podem ser submetidas a outra etapa da evolução no espaço”, defende Oleg Gazenko, o cientista responsável pelo programa soviético que enviou animais para o espaço. Segundo o especialista, é provável que, nesses casos, os seres humanos assumam uma aparência diferente. “Mais altos, com rostos extremamente alongados, assim como os braços”, sugere.

No espaço, o fluxo sanguíneo e o consumo de oxigênio são alterados, a coluna vertebral se alonga, e o pisar se torna leve. Mas também há radiação em excesso.

Recentemente, os cientistas pesquisaram o que acontece com o olho humano no caminho a Marte. “Se não houver proteção, a dose de radiação irá nublar a lente, e a visão será perdida. É preciso desenvolver antioxidantes especiais para evitar esses processos”, afirma Nikolaev.

Proteína da transformação

A equipe de Nikolaev estuda essas mudanças em nível molecular para determinar quais processos devem ser bloqueados a fim de evitar danos irreversíveis.

O estudo é centrado em proteínas porque, segundo os pesquisadores, são fatores-chave nos processos de adaptação do corpo. Durante a primeira fase da pesquisa, a equipe determinou os níveis de 125 proteínas no sangue de 18 cosmonautas russos que haviam concluído missões de longa duração a bordo da ISS (do inglês, Estação Espacial Internacional); agora, a pesquisa é de amostras de sangue no espaço.

“Os seres humanos possuem mais de 20 mil proteínas e muitas podem afetar nossos corpos durante a viagem espacial”, diz Nikolaev.

Devido à impossibilidade de pesquisar todas, o estudo se concentra em metabólitos, que são pequenas moléculas e um produto do metabolismo.

A vida secreta das células

“A síntese de metabólitos no corpo está ligada às proteínas pelas chamadas vias metabólicas [uma série de reações químicas onde uma reação fornece o substrato da reação seguinte]”, explica Nikolaev.

“Se obtivermos os dados sobre mudanças em certos metabólitos no sangue durante a viagem, podemos determinar quais proteínas devem, provavelmente, ser alteradas.”

A análise de metabólitos pode ser iniciada na Estação Espacial Internacional – os cientistas precisam somente de amostras de sangue seco, e os cosmonautas podem coletá-las em pedaços de papel grosso.

“Essas amostras retornam à Terra com informações sobre alterações temporárias no sangue, e a análise moderna de sangue permite extrair metabólitos dessas amostras”, diz Nikolaev. Uma vez que as proteínas forem identificadas, os cientistas poderão determinar os processos que levam a mudanças irreversíveis nos corpos no espaço.

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