Quando o primeiro avião supersônico comercial decolou de um aeroporto moscovita, há 40 anos, em 1 de novembro de 1977, os passageiros enfrentavam um grande risco sem saber. Apenas os pilotos sabiam que o aeródromo de pouso poderia rejeitá-lo devido às condições climáticas, e a aeronave não teria combustível suficiente para buscar outro local. Apesar disso, a feroz competição com os fabricantes de aviões ocidentais impossibilitaram que a liderança soviética abortasse o voo.
Nikita Khrushov teve a ideia de construir uma aeronave civil que superasse a velocidade do som em 1961 durante um show de aviação em Moscou. O líder soviético viu bombardeiros supersônicos Tu-22 e disse ao lendário projetista de aviões Andrêi Tupolev, que estava a seu lado: “Andrêi Nikolaevitch, você poderia transportar pessoas ao invés de bombas?”
O problema era que o Ocidente já vinha trabalhando há algum tempo em uma nova aeronave supersônica que parecia muito com o que Tupolev tinha em mente: era o Concord, criado em conjunto por França e Reino Unido.
Sob pressão
Em julho de 1963, a liderança soviética lançou um decreto instruindo Tupolev a construir e testar a nova aeronave o mais rápido possível – o avião tinha que estar voando pelos céus até o final de 1968.
“Havia uma pressão crescente constantemente. Quando o Ano Novo começou a chegar, o clima de ansiedade se instaurou entre os engenheiros... O avião voaria ou não?”, lembra Vladímir Vul, um dos engenheiros da aeronave.
Tudo estava pronto, mas as péssimas condições atmosféricas só melhoraram em 31 de dezembro de 1968, a data limite imposta pelo Partido Comunista.
O voo-teste teve êxito. Até o diretor da Pan American Airways ficou “muito, muito impressionado” pelo sucesso soviético e considerou a compra de um avião para o mercado norte-americano.
O celebrado Concord efetuou seu primeiro teste de voo em seguida, em março de 1969, mas os dois meses de antecipação foram considerados em alta conta pelo governo soviético.
“O beijo do tigre”
Mais testes se seguiram e, em 1° de novembro de 1977, o ministro da Aviação, Borís Bugáev, foi ao aeroporto Domodêdovo, em Moscou, para presenciar o primeiro voo comercial de um Tu-144 comercial com passageiros a bordo.
O ministro fazia oposição aos gastos do projeto Tu-144, mas o avião decolou e foi aterrissar apenas em Alma-Ata, capital da então república soviética do Cazaquistão.
Os passageiros foram recebidos por líderes locais do partido e jornalistas entusiasmados.
“Os pilotos costumavam dizer que pilotar o Tu-144 era como beijar um tigre”, lembra o então chefe do Departamento de Voos do Ministério da Aviação Civil da URSS, Vladímir Potiômkin.
Se o principal aeroporto de Alma-Ata impedisse o pouso ou o único aeródromo de Tashkent fosse fechado por qualquer motivo, os pilotos teriam sido deixados à prórpia sorte com um avião que estava ficando sem combustível e não tinha onde pousar.
Um ano depois, em 1978, os engenheiros soviéticos fizeram uma tentativa fatal para testar os novos motores que prolongaria a distância de voo das aeronaves, e o Tu-144 com as novas peças caiu, matando dois engenheiros de voo que estavam a bordo.
Insatisfeita com a incapacidade de gerar lucros da aeronave, a liderança soviética usou a queda como pretexto e cancelou os voos comerciais semanais do avião supersônico.
Um desastre no ano 200 também encerrou as atividades do Concord, quando 113 passageiros morreram na queda de uma aeronave que acabava de decolar em Paris, na França.
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