As teorias de catástrofes propositadamente provocadas por seres humanos aparece cada vez que a natureza impõe-se sobre as cidades. Alguns seguidores dessas teorias da conspiração, acreditam, por exemplo, que Moscou foi responsável pelo furacão Katrina, no estado americano da Louisiana, em agosto de 2005, e que Washington é culpado pela seca de 30 anos no Irã. Até mesmo o atual presidente americano Donald Trump estaria por trás do verão friorento que a Rússia presenciou neste ano.
Fato é que, embora não haja informações confiáveis sobre o uso pleno de armas climáticas pela URSS ou pela Rússia, houve, sim, tentativas de construí-las.
Bomba de tsunami
Uma das primeiras estações de pesquisa sobre a camada superior da atmosfera, a ionosfera, apareceu na década de 1950 em Zmiev, perto de Carcóvia (atual território da Ucrânia). O equivalente norte-americano era o Programa de Investigação de Aurora Ativa de Alta Frequência (Haarp, na sigla em inglês), no Alasca, que é, com frequência, responsabilizado por terremotos e outros cataclismos pelo mundo.
A estação de Zmiev era comandada pelo físico soviético Semion Braude, e os testes começaram durante o eclipse solar de 1954. A gigante antena parabólica, de 25 metros de diâmetro, assustava pela dimensão. Os moradores achavam que as ondas irradiadas podiam ser perigosas para a saúde. Com a queda da URSS, o financiamento desse projeto oneroso foi drasticamente reduzido e, enfim, interrompido.
Outra história, descrita nas memórias do físico soviético e Prêmio Nobel de 1975 Andrêi Sakharov, permanece apenas como um debate. Em seus relatos, ele fala sobre um projeto real da “Bomba de Tsunami” (um “ótimo produto”).
Um torpedo com arma termonuclear seria detonado a centenas de quilômetros dos portos inimigos, criando um tsunami capaz de inundar áreas costeiras.
“Essa ideia era baseada no sentimento de importância do nosso trabalho para manter o equilíbrio no mundo no quesito dissuasão nuclear”, explicou o cientista sobre sua participação informal no projeto.
“Não temia que alguém tentasse tornar essas ideias reais. Eles são muito fantásticas, caras e, em geral, nem tão interessantes”, acrescentou.
Durante a Guerra Fria, a URSS trabalhou em estreita colaboração com Cuba e Vietnã para influenciar a trajetória e a potência de um tufão. Os aviões soviéticos Il-18 e An-12 (especialmente equipados para servir como laboratórios meteorológicos) participaram do experimento, que envolveu também um número enorme de reagentes.
As substâncias foram liberadas em várias áreas do tufão, o permitia obter uma diferença de temperatura e pressão, forçando o tufão a rodar em círculos ou então permanecer em um ponto. O problema era que, a cada segundo, a equipe tinha que considerar uma multiplicidade de fatores.
No final da década de 1970, surgiu na URSS outro projeto para estudar a ionosfera. O sistema de rádio Sura, perto de Níjni Nôvgorod (a 423 km de Moscou) estudou o impacto de tempestades magnéticas. A ideia era que um submarino lançasse foguetes de plasma, com potência de até 1,5 megawatts, da zona polar (o lançamento jamais ocorreu). O plasma é uma barreira para o radar inimigo e, na atmosfera, forma algo semelhante a uma tela artificial, com a qual se pode controlar correntes.
Impacto generalizado
O Sura ainda funciona, mas esses projetos são tão onerosos que o sistema opera somente 100 horas por ano. Um dia de trabalho intenso pode custar o orçamento de um mês de uma área de lançamento.
Como muitos países, a Rússia dispõe de métodos para, de certo modo, influenciar o clima, mas apenas em nível local. A dispersão de nuvens para garantir tempo ensolarado foi, por exemplo, um truque usado em 2016 para os eventos do Dia da Vitória (9 de maio), do Dia da Rússia (12 de junho) e do Dia de Moscou. As acrobacias custaram aos cofres públicos um total de US$ 5,2 milhões.
“Certa vez, em meados da década de 1990, os russos assinaram um contrato com um país do Oriente Médio para apresentar uma tecnologia de ‘decantação’ da chuva. Isso é o mesmo que dispersar as nuvens”, diz Pável Konstantinov, acadêmico em meteorologia e climatologia. O país em questão apresentou precipitação, mas, em compensação, o vizinho enfrentou um período de seca. “Isso levou a um escândalo internacional com muitos processos judiciais, também contra a Rússia.”
Cientistas do Instituto de Física e Atmosfera da Academia Russa de Ciências também são céticos quanto à eficácia e confiabilidade de tais tecnologias.
“É impossível mudar o clima em uma parte da Terra sem alterar simultaneamente a condição da atmosfera ao redor do planeta”, diz Aleksêi Eliseiev. “o conceito de armas climáticas parece duvidoso, pelo menos considerando o impacto”.