Para que os esforços mentais se transformem em um comando claro, desenvolvedores utilizam detecção elétrica, mas a NeuroChat vai mais além.
Getty ImagesA cada ano, cerca de 400 mil pessoas perdem a habilidade de se mover após ataques cardíacos, lesões cerebrais causadas por traumas ou outras complicações.
“As altas taxas de mortalidade entre pessoas com paralisia que tenham sofrido um ataque cardíaco estão ligadas a sua falta de motivação para viver”, diz Natália Gálkina, diretora da Neurotrend, companhia que desenvolveu uma tecnologia para comunicação para pessoas com paralisia chamada NeuroChat.
Assim, a NeuroChat está buscando dar a pessoas com paralisia uma chance de se manterem ativas em profissões como programação, tradução e literatura.
Os piores casos de paralisia estão entre as pessoas que sofrem da “síndrome do encarceramento”, ou seja, quando o paciente não pode mover nenhum membro do corpo, apenas piscar os olhos, mas sua capacidade mental continua a se desenvolver.
Ainda que imóveis em uma cama, essas pessoas têm consciência e sentem tudo: a temperatura do ar no quarto, a dor de deitar em uma única posição, e podem ouvir conversas.
O ex-editor da “Elle” francesa Jean-Dominique Bauby sofreu um ataque cardíaco e conseguiu escrever um livro em tais condições. Ele foi ajudado por uma enfermeira para quem ditava letra por letra.
Bauby piscava seu olho esquerdo cada vez que a enfermeira pronunciava a letra correta para sinalizar que aquela era a letra que queria. Seu livro “O escafandro e a borboleta” foi publicado em 1997, ano de sua morte.
Poder da mente
A NeuroChat é uma plataforma entre o cérebro humano e um computador designado a ajudar pessoas com paralisia a se comunicar com o mundo ao seu redor.
Para que os esforços mentais se transformem em um comando, os desenvolvedores usam detecção elétrica. Apesar de o eletroencefalógrafo, que mede a atividade cerebral, já ser usado por muitos anos, o NeuroChat se propõe a ir além.
Por meio de uma espécie de capacete, a “intenção mental” é transferida para um computador via Bluetooth.
As pessoas têm a possibilidade de expressar seus pensamentos tanto por meio de letras, como de símbolos. Por meio de um símbolo, por exemplo, a pessoa pode dizer “tenho dor” ou “quero comer”, enquanto palavras e frases podem ser formadas com as letras.
No início de 2017, os especialistas da NeuroChat testaram o desenvolvimento de 10 pacientes paralíticos.
A tecnologia mostrou 95% de exatidão, já que o usuário pode se distrair por causa da deficiência e sua fadiga psicológica pode influenciar o resultado.
Além das fronteiras
Os desenvolvedores da NeuroChat acreditam que sua tecnologia possa vir a ajudar pessoas paralíticas a obter acesso a redes sociais e e-mails, tornando-se capazes de escrever mensagens, enviar materiais e utilizar aplicativos.
Além disso, pacientes de diversos países poderão se comunicar uns com os outros, já que o projeto tem um serviço de tradução embutido.
“Trabalhamos nisso há 10 anos, lidando com milhares de pessoas com deficiências motoras e de fala graves. Em geral, os pacientes usam o computador e o telefone por voz, com seus narizes e até a língua. Graças a tecnologias como a NeuroChat, as pessoas com deficiências espinhais e paralisia podem se tornar socialmente ativas novamente”, diz o diretor de serviço social do Centro de Reabilitação Preodolênie.
Quando estará disponível?
O Laboratório de Neurofísica e Neurocomputação do Departamento de Biologia da MGU (Universidade Estatal de Moscou), que é consultor científico e desenvolvedor da NeuroChat, está no momento aperfeiçoando o novo produto.
“Em dois anos e meio, teremos 500 peças prontas para serem testadas”, explica o chefe do laboratório da MGU e doutor em ciências biológicas Aleksandr Kaplan.
“O custo dependerá do material usado, das funções integradas do aparelho, assim como do capacete com os sensores na nuca e o amplificador biopotencial. O preço mais baixo será de 100 dólares, e será possível também alugar o equipamento”, completa.
Depois de lançar o equipamento piloto, os desenvolvedores da NeuroChat planejam conduzir testes envolvendo a comunicação entre os pacientes da Rússia e a Escola de Medicina da Universidade da Califórnia do Sul.
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