Projeto 2030 Mars é experiência psicológica na forma de um jogo
DivulgaçãoOs dedos estão dormentes por causa do frio nessa estação marciana abandonada. Com a ajuda da luz fraca de uma lanterna, tentamos de tudo para corrigir o sistema de geração de energia. O centro de controle está em silêncio há 30 minutos. Metade da equipe está trancada em outro compartimento; a escotilha foi acidentalmente fechada.
Eu não sei há quanto tempo estamos aqui, mas parece uma eternidade. Às vezes ouvimos batidas leves. “Faça alguma coisa, estamos ficando sem ar”, diz o comandante, atrás da porta fechada.
O pior é que ainda não descobrimos o misterioso vírus que infectou a estação. Para isso, precisamos desvendar a senha e ter acesso ao computador.
“Precisamos saber que ano é hoje”, digo à médica (lembro-me que na Terra ela tinha um nome, mas agora já não me recordo qual).
Sou uma pesquisadora na Mars 2030, e o objetivo é descobrir o que aconteceu com a missão anterior a Marte. Por que todos morreram?
Realidade paralela
Originalmente concebido como treinamento da equipe, o projeto Mars 2030, do Instituto de Problemas Biomédicos da Academia Russa de Ciências, é um experimento psicológico na forma de jogo.
As coisas ficam rapidamente claras ao nos isolarmos do mundo exterior, na realidade assustadora da missão Mars, e em condições de incerteza e tempo limitado.
Depois do experimento, os participantes conversam com psicólogos. Mas, em vez de pontuação ou recomendações, os especialistas os ajudam a tirar suas próprias conclusões.
Nos casos em que equipes corporativas fazem o exercício, por exemplo, é possível saber por que a comunicação entre o grupo é fraca, e as metas não são atingidas.
“Depende muito de quem está envolvido no experimento”, disse a criadora do programa de treinamento, Ekaterina Strijova, à Gazeta Russa.
“Certa vez, recebemos os funcionários de uma empresa russa de internet líder no mercado, e eles não só executaram as tarefas, como fizeram de modo brilhante. Eles sabiam, por exemplo, que em alguns pontos era possível usar a força, mas isso não era interessante para eles. Observá-los foi um prazer”, contou Strijova.
O custo do treinamento para seis pessoas varia 5.000 e 7.000 dólares norte-americanos, dependendo do conteúdo.
Até o momento, apenas equipes de língua russa realizaram o procedimento, mas segundo Strijova, o jogo poderá ser adaptado para estrangeiros.
Oculto atrás dos muros
O discreto edifício de tijolo do Instituto de Problemas Biomédicos está localizado em uma das áreas centrais de Moscou, embora escondido de olhares curiosos por uma cerca alta. Tanto é que a maioria dos transeuntes sequer suspeita que o local abrigue a primeira estação marciana soviética.
O centro é composto por cinco módulos de isolamento com alojamento para tripulação e uma unidade experimental.
Foi exatamente no módulo que simula a superfície no planeta vermelho onde o nosso grupo permaneceu após instalar explosivos na estação, na intenção de salvar a Terra de um ataque por um vírus perigoso que teria matado a tripulação anterior.
O protótipo da estação marciana foi construído no final dos anos 1950, com a participação de Serguêi Korolev, fundador do programa de foguetes soviético.
No final dos anos 2000, a antiga estação foi atualizada pela Academia Russa de Ciências, em conjunto com a Agência Espacial Europeia, para o projeto internacional Mars-500 (uma simulação de voo a Marte).
Chegada ao planeta vermelho
O projeto Mars-500, por sua vez, envolveu seis voluntários treinados – três russos, um francês, um italiano e um chinês – que passaram 519 dias em total isolamento.
O “voo final” foi concluído com êxito no início de novembro de 2011, e os resultados da pesquisa forneceram a base do programa de treinamento criado por Strijova e sua equipe.
“Percebemos que essa é uma experiência única que pode ser usada não só para treinar cosmonautas, mas também para ajudar as pessoas em seu desenvolvimento profissional”, disse Strijova. “Nós adicionamos personagens, inventamos cenário e criamos as tarefas que os participantes devem executar.”
Enquanto isso, de volta à minha missão em Marte, ouvimos um sussurro a todo o tempo: “Vocês têm que sair, já estão atrás de vocês. Vocês todos vão morrer”.
Começo a pensar que essas vozes existem apenas na minha cabeça. Gritos são ouvidos a partir do próximo compartimento. As luzes se apagam. Os explosivos foram implantados. A Terra entrou em contato, e a escotilha se abre. Sinto a areia do planeta vermelho sob meus pés e, finalmente, vejo as estrelas acima de nós.
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