Apesar de estudos, cirurgia de Spiridonov ainda carece de local e financiamento
Vladímir Smirnov/TASSTecnologias soviéticas permitirão executar com êxito uma operação de transplante de cabeça no programador russo Valéri Spiridonov, informou o cirurgião responsável Sergio Canavero. Spiridonov nasceu com uma doença chamada Werdnig-Hoffman, devido à qual tem atrofia muscular.
Segundo o médico italiano, o sucesso da operação dependerá da aplicação de Perftoran, também como “sangue azul”, um remédio de fabricação russa que poderá ajudar o corpo a lidar com a perda maciça de sangue quando a cabeça estiver separada do corpo.
A droga, inventada por um grupo de cientistas soviéticos liderado por Feliks Beloizartsev, no final dos anos 1970, é composta de hidrocarbonetos perfluorados que podem executar funções de intercâmbio de gases como o sangue natural. Além disso, é enriquecida com aditivos especiais, cuja proporção depende das necessidades individuais do paciente.
O uso de Perftoran foi sugerido a Canavero por pesquisadores do instituto ligado à Academia Russa de Ciências onde esse “substituto” de sangue foi desenvolvido. Os cientistas estão atualmente testando a aplicação de substância em transplantes de cabeça em animais.
Efeito siameses
O cirurgião vascular Anatóli Trochin propôs também uma nova maneira de salvar a vida de Spiridonov durante a operação no caso de uma eventual complicação. Canavero e Spiridonov estão agora avaliando a aplicação desse novo método.
Trochin propôs colocar a cabeça, uma vez separada do corpo, em um recipiente especial que tenha o tamanho e a forma do capacete de um astronauta. Este seria então conectado ao sistema vascular de um dador, possivelmente um parente de Spiridonov. “Externamente e em termos de formato, este recipiente deve ser adequado para o doador de sangue anexá-lo a seu corpo e carregá-lo por um longo período de tempo”, explica Trochin.
O aparato criaria um efeito semelhante ao de gêmeos siameses, e sensores especiais possibilitariam o fornecimento de drogas imunossupressoras para proteger a cabeça. O sangue processado pela cabeça poderia passar por um filtro antes de retornar ao dador.
O cirurgião descreveu seu método não só em artigos científicos, mas já publicou seu terceiro romance de ficção cientifica sobre o transplante de órgãos, intitulado “A cirurgia de transplante de cabeça é possível e desejada?”.
“É impossível prever a incompatibilidade psicológica entre as cabeças”, alega Trochin. “Essa questão só pode ser resolvida por meio de inúmeras substituições de doadores até que o par mais psicologicamente compatível seja encontrado.”
Segundo Gueórgui Stepanov, professor de traumatologia e ortopedia no Instituto Central de Traumatologia e Ortopedia (TsITO, na sigla em russo), usar os próprios vasos sanguíneos e nervos de outros tecidos do corpo do paciente eliminaria o problema da rejeição pelo organismo receptor.
Cabeça russa e corpo chinês?
Até agora, apenas o Vietnã, a Coreia do Sul e a China concordaram em participar da experiência de Canavero. Nenhuma clínica russa se dispôs a aceitar a responsabilidade pela cirurgia, e a própria legislação impede a realização do procedimento em território nacional.
No entanto, além de Spiridonov ter demonstrado preferência por realizar a operação na Rússia, esse tipo de transplante requer um organismo com características semelhantes.
“Não achamos local nem financiamento para a minha operação na Rússia”, disse Spiridonov. “Se a operação for realmente realizada em 2017, é provável que seja na China. O país fez progressos consideráveis nesta área”, completa, referindo-se aos mais de 1.000 experimentos chineses em ratos, macacos e cadáveres humanos.
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