O que acontece com o corpo humano no espaço?

Missão de um ano a bordo da estação espacial internacional teve início em março passado Foto: Kirill Kalínnikov/RIA Nóvosti

Missão de um ano a bordo da estação espacial internacional teve início em março passado Foto: Kirill Kalínnikov/RIA Nóvosti

A mais longa missão na estação espacial internacional (ISS, na sigla em inglês) foi lançada em 27 de março. Dois astronautas – o russo Mikhail Kornienko e o americano Scott Kelly – vão realizar testes médicos na estação durante um ano inteiro. Sabia quais dificuldades serão enfrentadas pelos exploradores.

Digestão

Alguns estudos anteriores mostraram que em condições de ausência de gravidade a comida não tem peso e, portanto, a sensação de fome ocorre com mais frequência. De acordo com o diretor científico do experimento, Boris Afonin, a baixa atividade física das astronautas associada ao aumento de apetite pode levar ao ganho de peso.

Também o sabor é diferente. “Isso não significa que o sal é doce ou azedo. Mas  aqueles alimentos que os astronautas acharam deliciosos no teste na Terra,  podem parecer menos apetitosos no espaço. Os astronautas às vezes se queixam de que eles comem sem prazer. Tentaremos entender do que exatamente dependem as mudanças”, diz Afonin. E as alterações não param por aí.

Quando os astronautas voltam à Terra, eles não atacam um bife, por exemplo. “Eles precisam de um período de adaptação. Isso ocorre porque a ausência de gravidade diminui o tônus e atividade muscular do trato gastrointestinal, o que, de fato, significa que o intestino desaprende a empurrar a comida para frente”, explica o diretor científico.

Um dos principais objetivos do atual experimento é descobrir quais partes da digestão mudam mais e se há o risco de transformações patológicas. Assim, será possível desenvolver os meios de proteger o sistema digestivo e criar uma dieta perfeita para astronautas. 

Metabolismo

Durante um ano, os cientistas também vão acompanhar o metabolismo do cosmonauta russo. A cada dois meses, o próprio Kornienko fará testes de sangue, passará por um exame no dispositivo especial ‘Sprut’, e anotará em um caderno os dados sobre consumo de água e a quantidade de comida ingerida.

Isso vai ajudar os cientistas a determinar como os sistemas hormonal e imunológico se comportam nas condições de ausência de gravidade. “Mesmo pequenas mudanças no sistema hormonal podem afetar a eficiência do astronauta”, sugere Galina Vassilieva, pesquisadora no Instituto de Problemas Biomédicos da Academia Russa de Ciências.

Outro fator significativo é desidratação do corpo. “Em ausência de gravidade, os grandes volumes de sangue da parte inferior do corpo vão para mais perto da cabeça. Os órgãos, em especial o coração, começam a funcionar em modo de emergência. Para se adaptar à situação, o corpo começa a se livrar do excesso do líquido. Assim, no primeiro dia do voo, os astronautas tem aumento da diurese”, diz Vassilieva.

O fenômeno inverso pode ser observado após o desembarque. Com o regresso à gravidade, o sangue é rapidamente devolvido para a parte inferior do corpo e, por isso, é muito difícil ficar em pé. “A pesquisa deve, assim, ajudar a facilitar e acelerar os períodos de adaptação no espaço e na Terra. 

Respiração

O teste UDOD, dedicado ao estudo do sistema respiratório, também está ligado ao efeito da desidratação. Ele será realizado pela primeira vez em condições de ausência de gravidade.

A ideia é que o aumento do fluxo sanguíneo para a parte superior do corpo provoca aumento da pressão intracraniana, que pode ser uma das razões para a deterioração da visão – uma queixa comum entre astronautas e cosmonautas.

Em condições de ausência de gravidade, sente-se quase o mesmo que uma pessoa pendurada de cabeça para baixo. “A respiração através de um dispositivo especial permite aliviar a pressão no peito e retirar o sangue da cabeça”, explica o gerente do laboratório, Aleksandr Suvorov.

“Os músculos respiratórios enfraquecem junto com os das pernas, porque se torna mais fácil respirar. Nessas condições, a máscara cria peso adicional para a inspiração e serve como um tipo de equipamento de treinamento”, acrescenta Suvorov.

Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies