Marinha russa se prepara para treinamento prático de colocação de minas em 1912 Foto: Divulgação
Estamos no ano de 1854. A Rússia está intrincada em um conflito com uma forte coalizão de países europeus e está sob pressão por todo o seu território. Na Crimeia, Sevastopol está sob cerco pesado, enquanto as forças anglo-francesas tentam invadir Petropavlovsk-Kamtchatsko, no Extremo Oriente, e bombardear o porto de Arkhanguelsk, ao norte.
A capital São Petersburgo será a próxima – a menos que a já sobrecarregada frota do tsar surja com um escudo de defesa eficaz ao redor de sua “janela para a Europa”.
À medida que a ameaça cresce, com a adesão de uma poderosa esquadra britânica, o físico alemão Moritz Hermann von Jacobi, que trabalhava na Academia de Ciências da Rússia, foi incumbindo de criar uma nova arma secreta.
Embora os primeiros tipos de minas navais tenham sido usados pelos chineses lá nos tempos antigos, essa arma só se tornou conhecida na Europa nos séculos 16 e 17. Mas o principal problema com os protótipos iniciais era justamente a destruição indiscriminada de qualquer navio quando acionados, incluindo forças aliadas.
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Os engenheiros russos chegaram a uma solução no início do século 19, quando montaram minas com detonadores elétricos, utilizando duas chaves simples ligadas a uma fonte de energia em terra. Elas se conectavam quando um navio passava, e os fluxo de volts acionava a carga explosiva.
Jacobi também equipou essas minas com detonadores alojados em um barril de madeira que continha 10 quilos de pólvora. No entanto, o primeiro uso dessas minas mostrou que o design rudimentar da carapaça fazia com que a pólvora ficasse úmida. O engenheiro acabou modificando a estrutura que revestia a mina, acrescentando uma camada adicional de cobre e aumentando a carga explosiva para 25 quilos de pólvora.
Mar cercado
A colocação de minas no mar Báltico, em torno de São Petersburgo, começou em abril de 1854 – foram posicionadas 100 unidades entre duas posições de artilharia que protegiam a cidade, separadas por 1.600 metros de águas abertas.
O uso dessa primeira versão russa de minas subaquáticas foi intensificado em junho de 1855. Em pouco mais de um ano, toda a porção oriental do Golfo da Finlândia abrigava quase 2.000 minas, das quais 500 foram construídas sob o projeto de Jacobi, e outras 1.500, no âmbito de um projeto semelhante Immanuel Nobel, filho do engenheiro sueco Alfred Nobel.
Implantação de minas de Nobel sob a cidade de Kronstadt Foto: Divulgação
Na época, quatro navios britânicos foram alvo de minas, mas, devido à carga explosiva reduzida, nenhum deles ficou seriamente danificado. Mesmo, elas cumpriram seu papel, mantendo o inimigo a uma boa distância de São Petersburgo.
O comandante da esquadra britânica informou a Londres as dificuldades colocadas por “dispositivos infernais” nos arredores do porto.
Durante a Guerra da Crimeia, as minas também protegeram os portos russos na Finlândia, na foz do rio Dvina, na Baía do Dnieper e no delta do Danúbio – no total, 3.000 dispositivos ajudaram a restaurar o equilíbrio de poder entre as frotas em conflito.
Carimbo britânico
O projeto para construção de minas foi continuamente aperfeiçoado até o final do século 19. O crescente poder explosivo e flutuabilidade, bem como a capacidade técnica da Marinha de colocá-los na profundidade desejada, causaram a destruição de inimigos.
Na guerra Russo-Turca, de 1877 e 1878, a colocação de minas pela Frota do Mar Negro praticamente paralisou a atividade dos navios de guerra turcos. Os alemães, que subestimaram as minas russas, pagaram caro pelo desdém: em novembro de 1916, o esquadrão alemão de 11 destroyers perdeu sete navios.
Porém, a Grã-Bretanha, que definia a evolução em matéria naval, soube apreciar as habilidades russas na “guerra de minas” e pediu que o país enviasse especialistas e tecnologia às suas terras.
Aleksandr Verchínin é doutor em Ciências Históricas e pesquisador sênior do Centro de Análise de Problemas.
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