A volta do Aurora – pela história e a São Petersburgo

Retorno do Aurora para o seu lugar permanente está previsto para 2015 Foto: TASS

Retorno do Aurora para o seu lugar permanente está previsto para 2015 Foto: TASS

Muitos turistas que chegam a São Petersburgo querem visitar o cruzador Aurora. Mas hoje ficam decepcionados: Onde está o navio? Descubra agora, entre outras curiosidades, para onde foi o principal símbolo da revolução de 1917.

Desastre de estreia

O cruzador Aurora foi construído há quase 120 anos,. Na época, o tsar era quem batizava os navios de grande porte na Rússia. Na lista estavam nomes como Varyag, Bogatyr, Boyarin, Polkan e Neptun, mas Nikolai II escolheu um nome feminino. Aurora era o nome da deusa do amanhecer na mitologia romana. Para surpresa de todos, o primeiro ataque contra esse cruzador partiu justamente de forças russas durante a Guerra Russo-Japonesa. Quando o Aurora navegava rumo ao Oriente para atacar os navios da frota japonesa, a esquadra russa confundiu a silhueta do Aurora com a de um navio de inimigo e decidiu abrir fogo. Duas pessoas ficaram feridas no bombardeio – uma delas, o sacerdote do navio, morreu.

Logo depois, dois novos passageiros foram adicionados à tripulação. Durante uma parada em um porto africano, os marinheiros decidiram levar dois crocodilos a bordo. O médico do Aurora relatou em suas memórias o medo de passar as noites no cruzador: ali tinha que conviver com crocodilos, jiboias, tartarugas e camaleões. 

Símbolo de fachada?

O Aurora é considerado o principal símbolo da revolução de 1917. Acredita-se que foram os tiros do cruzador que deram aos revolucionários o sinal para invadir o Palácio de Inverno, onde na época ficavam os inimigos dos bolcheviques – o Governo Provisório.

Por esse teoria, o cruzador tinha como missão fechar a ponte do Palácio, sobre o rio Neva, que fora aberta pelos cadetes subordinados ao governo. O Aurora executou a tarefa e ancorou perto da ponte. Às 21:45, disparou. O ataque ao Palácio de Inverno começou por volta da meia-noite.

“Isso não existe: o sinal foi dado e os soldados correram para executá-lo 2 horas mais tarde”, contesta Igor Kurdin, assessor do governador sobre a conservação do Aurora, que está preparando um livro sobre a história recente do cruzador. Em um artigo no jornal “Pravda”, de 29 de Outubro de 1917, os marinheiros do Aurora se manifestaram sobre acusações não provadas.

“A imprensa escreveu que  o Aurora abriu o fogo contra o Palácio de Inverno, mas os senhores jornalistas sabem que se nós abríssemos o fogo dos canhões não sobraria nenhuma pedra nem do Palácio de Inverno nem das ruas próximas a ele? Foi produzido apenas um tiro em branco de um canhão de 6 polegadas, que convocava todos os navios que se encontravam no Neva para vigilância e prontidão”, justificaram na época.

Revolução na telona

Depois anos depois ocorreu algo que finalmente transformou o Aurora no símbolo de uma revolução – do cinema. Em 1927, os cineastas Serguêi Eisenstein e Grigóri Aleksandrov, por encomenda do governo, filmaram o filme “Outubro”. Os cineastas precisavam de uma história de “espetacular”. Decidiu-se então usar o Aurora. De novo, igual há 10 anos, o cruzador disparou um tiro branco sobre o rio Neva.

O filme foi montado de forma que o espectador inexperiente, que o olhava como se fosse um documentário verdadeiro, visse que imediatamente após o tiro a massa de pessoas se dirigiu para a tomada do Palácio do Inverno. Assim, não só para o país soviético, mas também para o mundo inteiro, nasceu a lenda do tiro que supostamente serviu como o início de uma nova era na história da humanidade.

Bandeira do apelo

Durante a Grande Guerra Patriótica (como é conhecida na Rússia a Segunda Guerra Mundial), o Aurora encontrava-se na cidade de Oranienbaum, nos arredores de São Petersburgo. Em 1941, o cruzador foi submetido a ataques por aviões alemães. O Aurora ficou bastante danificado e saiu de serviço.

Até o final do fim do cerco a Leningrado (atual São Petersburgo), o Aurora permaneceu no mesmo lugar, onde era alvo de constantes bombardeios. Mesmo depois que todo o equipamento inteiro foi retirado, o Aurora manteve a bandeira hasteada, causando fúria entre os nazistas e inspirando os defensores de Leningrado: o Aurora ainda existia, e isso significava que a cidade estava viva.

Museu a bordo

Quando o cerco a Leningrado terminou, começou a construção do Colégio Naval de Nakhimov, que foi planejado como uma instituição para educação de filhos de marinheiros mortos na guerra. Para acomodar as crianças, era necessário espaço extra. O Aurora foi então ancorado no cais ao lado do colégio.

Quando os estudantes do Colégio Naval de Nakhimov foram transferidos para o litoral, o cruzador passou a abrigar um museu. Desde então, qualquer pessoa pode por os pés no convés do navio, olhar pela cabine do piloto e ver o canhão de onde foi disparado o tiro. 

Devolução do aurora

O Aurora está em Kronstadt, na região de São Petersburgo, onde está passando por uma manutenção programada. De acordo com o Ministério da Defesa, o retorno do Aurora para o seu lugar permanente está previsto para a metade de 2015.

 

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