Bibliotecas de São Petersburgo vão criar "Wikipédia alternativa"

Apesar de o futuro recurso de referência informativa sobre a Rússia ter um princípio de funcionamento radicalmente distinto do da Wikipédia, a mídia russa se refere abertamente a ele como a "Wikipédia alternativa" Foto: TASS/Denis Russinov

Apesar de o futuro recurso de referência informativa sobre a Rússia ter um princípio de funcionamento radicalmente distinto do da Wikipédia, a mídia russa se refere abertamente a ele como a "Wikipédia alternativa" Foto: TASS/Denis Russinov

Duas das maiores bibliotecas de São Petersburgo estão desenvolvendo um projeto russo de enciclopédia eletrônica. O recurso deverá se tornar uma alternativa à Wikipédia, que, segundo os autores do atual projeto, contém muitos erros. A Gazeta Russa foi descobrir como será o novo recurso.

A Biblioteca Presidencial e a Biblioteca Nacional da Rússia estão preparando um projeto que pretende reivindicar os louros de Wikipédia russa. De acordo com o assessor de imprensa da Biblioteca Presidencial, Valentin Sidorin, os funcionários da instituição não vão escrever o material do zero. Eles pretendem simplesmente organizar, digitalizar e colocar em acesso aberto material que já têm à disposição e que está relacionado com todos os aspetos do desenvolvimento histórico da Rússia.

"Desse modo, iniciamos a criação de uma alternativa à Wikipédia. A análise desta última mostrou que ela não permite a obtenção de informação detalhada e fiel sobre as regiões da Rússia e a vida do país", resumiu Sidorin.

A nova enciclopédia eletrônica será organizada segundo o princípio de biblioteca eletrônica, ou seja, não é qualquer pessoa que poderá fazer ajustes, do mesmo modo que nem todo mundo pode fazer alterações dos conteúdos dos livros.

"Mas poderão complementá-los com outras publicações e propostas. Estamos trabalhando com os leitores, com as pessoas, estamos interagindo ativamente com aqueles que nos propõem novos recursos", concluiu Sidorin.

Alternativa ou apenas mais uma?

Apesar de o futuro recurso de referência informativa sobre a Rússia ter um princípio de funcionamento radicalmente distinto do da Wikipédia, a mídia russa se refere abertamente a ele como a "Wikipédia alternativa". Isso se deve principalmente às declarações do diretor da Biblioteca Nacional, Anton Likhomanov, um dos autores da ideia.

Em abril, ao anunciar a criação do recurso em uma reunião do fórum sócio-pedagógico Educação na Rússia, Likhomanov disse que "o segmento russo da Wikipédia recebe cerca de um milhão de pedidos por hora, mas contém muitos erros e é praticamente impossível de fazer correções nele".

“A Wikipédia é controlada a partir dos Estados Unidos e a qualquer momento podemos ser confrontados com a mesma situação que acabou de passar com os sistemas de pagamento eletrônico Visa e MasterCard”, acrescentou Likhomanov, fazendo alusão ao fato de as sanções ocidentais poderem restringir o acesso dos russos à maior enciclopédia eletrônica.

Embora Likhomanov tenha sublinhado várias vezes que o novo recurso pretendia substituir a Wikipédia, Sidorin argumenta que o projeto não vai lutar nem competir com a Wikipédia. "Nós não estamos tentando substituí-la com o nosso projeto. Queremos, sim, criar uma enciclopédia baseada em fontes confiáveis", diz.

Futuro questionável

O diretor executivo da Fundação Wikimedia (ONG que apoia a Wikipédia na Rússia), Stanislav Kozlóvski, considera absurdo temer sanções ocidentais relativamente à Wikipédia russa.

"A Wikipédia é feita por mais de um milhão de russos sob uma licença livre. Sim, o servidor está nos EUA, bem como na Europa e no Sudeste Asiático. Na Rússia não há servidores. Mas ela de modo algum é controlada pelo governo dos EUA. Em toda a história do recurso, o governo dos Estados Unidos jamais tentou restringir o acesso à enciclopédia", diz.

Segundo Kozlóvski, existem no mundo poucos países que tentam intervir na Wikipédia e um deles é a Rússia.

"Sete artigos completamente inocentes da Wikipédia foram inseridos no registro russo de sites proibidos. Se algum organismo pode bloquear o acesso dos cidadãos à enciclopédia eletrônica, esse organismo será o Roskomnadzor (Serviço Federal de Supervisão das Comunicações, Tecnologia da Informação e Meios de Comunicação) e não o Departamento de Estado dos EUA."

Kozlóvski acrescentou que, sem dúvida, a Wikipédia tem erros. No entanto, existem 45 milhões de pessoas ao redor do mundo fazendo alterações no recurso e corrigindo esses erros diariamente.

Vladímir Kharitonov, diretor da associação de editores online da Rússia, concorda com essa posição.

"O nível de erros da Wikipédia é comparável com o nível de erros da enciclopédia Britannica. Os criadores da enciclopédia eletrônica da Rússia não precisavam reinventar a roda. Eles teriam feito melhor em concentrar seus recursos na melhoria da versão russa da Wikipédia", diz ele.

Ainda mais categórico em suas avaliações sobre a próxima enciclopédia é Ivan Zassúrski, chefe do departamento da nova mídia da Faculdade de Jornalismo da MGU (Universidade Estatal de Moscou). Ele não acredita que o projeto venha a ser implementado.

"Qualquer tentativa de criar uma ‘Wikipédia alternativa’ está geralmente associada ao controle do conhecimento e sua difusão. No entanto, o problema não é saber se a nova enciclopédia será objetiva ou não. Acontece que ela simplesmente não existirá”, diz Zassúrski. 

 

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