Programa Terra-3 tinha objetivo de criar sistemas de laser terrestres Foto: topwar.ru
Quando Albert Einstein expôs sua teoria sobre emissão estimulada de radiação eletromagnética, em 1917, o escritor russo Aleksêi Tolstói e outros autores mundo afora ficaram fascinados com a ideia de lasers. Após a onda de fantasia, veio a realidade. Hoje, lasers têm ampla aplicação, desde cirurgias ao processamento de dados. Mas foi a perspectiva de uma “guerra de lasers” que dominou a euforia popular – e continua chamando a atenção de cientistas militares.
Idealizada antes mesmo da Segunda Guerra Mundial por Einstein, pelos físicos franceses Charles Fabry e Alfred Perot, e pelos cientistas alemão Rudolf Ladenburg e soviético Valentin Fabrikant, o conceito do laser cativou a mente de acadêmicos na década de 1950.
Os físicos soviéticos e norte-americanos logo passaram todos à frente no desenvolvimento do laser. Os seus esforços culminaram com a atribuição do Prêmio Nobel, em 1964, aos físicos americano Charles Townes e russos Nikolai Basov e Aleksandr Prôkhorov.
Estimulados por militares e pela escalada da tensão entre o Oriente e o Ocidente, os cientistas buscavam meios de incorporar o laser aos arsenais das superpotências. Na URSS, um grupo liderado por Basov propôs usar um “gerador de ótica quântica”, ou laser, em sistemas de defesa antimíssil: um feixe direcionado deveria atingir mísseis balísticos.
Tiro no céu
Em 1966, os soviéticos lançaram o programa Terra-3 com o intuito de criar sistemas de laser terrestres; o projeto foi testado em novembro de 1973. Nada foi divulgado sobre os resultados, mas o Ministério da Defesa parecia satisfeito o suficiente para solicitar uma unidade mais poderosa, que foi chamada de 5N76.
O desenvolvimento de tais sistemas foi prejudicado pela constante falta de energia, já que o laser tinha que ser alimentado por um gerador de potência mais alta do que os existentes na época. O projeto 5N76 definhou, mas os experimentos com laser continuaram até o colapso da União Soviética, em 1991. Os resultados do programa Terra-3 ainda são mantidos em segredo.
Na época, havia um programa paralelo: Omega. Inicialmente concebido como um laser que iria caçar ogivas de mísseis, também poderia ser um dispositivo adequado para defesa aérea.
Em 1972, o campo militar de Sary-Shagan, no Cazaquistão, foi palco de testes da primeira unidade do Omega. A unidade foi usada para desenvolver sistemas de focalização, e sua versão mais poderosa a gás, o Omega-2, mostrou-se capaz de atingir alvos aerodinâmicos. Mas também ficou claro que o dispositivo não tinha poder destrutivo.
A falta de geradores. a vulnerabilidade às flutuações climáticas e o longo período de exposição necessário para atingir alvos impediam o desenvolvimento do laser como arma de combate.
Disputa de satélites
Os cientistas então buscaram lasers para derrubar sistemas de orientação e de precisão. Assim, o inimigo não seria destruído, mas ficaria simplesmente “cego”.
A partir do final da década de 1970, a União Soviética desenvolveu o módulo de combate espacial Skif, que, entre outros itens, carregaria uma arma a laser capaz de desativar o sistema eletrônico do satélite inimigo.
Em 1987, decidiu-se testar um modelo do dispositivo, juntamente com o novo foguete transportador Energia. Devido a uma falha técnica, o instrumento não conseguiu atingir a órbita desejada. Embora os controladores em terra tenham conseguido reunir alguns dados, o projeto do Skif foi descontinuado.
E, apesar de não ter chegado ao espaço com sucesso, o laser acabou encontrando o seu lugar no ar. Paralelamente a um programa similar nos Estados Unidos (laboratório de laser aerotransportado Boeing NKC-135ALL), os soviéticos testaram seu laser aerotransportado de combate A-60 no âmbito do programa Falcon Echelon.
O dispositivo foi instalado em uma aeronave de transporte militar Il-76MD modificada. Apesar das aparências, o laser não foi instalado no nariz arredondado do avião, que presumivelmente abrigava sistemas de controle e equipamentos de radar de longa distância. Com dois turbogeradores de cada lado da fuselagem, a arma estava escondida no fundo da aeronave.
Os testes foram iniciados em 1984, mas sabe-se que essa plataforma de desenvolvimento não foi apenas utilizada para experiências com laser na atmosfera, conforme divulgado oficialmente. Testes de disparo foram realizados contra balões estratosféricos, mísseis balísticos e satélites em órbita baixa situados a altitudes de 30 a 110 km.
Foram construídas apenas duas unidades do A-60, das quais uma pegou fogo no aeroporto, em 1989. A segunda versão atualizada do laboratório voador só foi lançada em 1991, quando os dias da União Soviética estavam contados. Mas o A-60 sobrevivente ficou de escanteio por mais uma década.
Laser à frente
Em 2002, o Exército norte-americano lançou o sistema de laser aerotransportado Boeing YAL-1, projetado sobretudo para destruir mísseis balísticos táticos. A Rússia decidiu rever os experimentos com laser e reiniciar o trabalho do A-60 em 2005.
Embora a evolução do projeto continue sendo mantida em segredo, o chefe do departamento de armamentos do Ministério da Defesa, Anatóli Guliaiev, declarou em 2011 que “o sistema de laser aerotransportado foi restaurado”.
De acordo com o canal de televisão do ministério, “o aparecimento real do combate com armas de laser é possível no período de 2015 a 2020”.
Aleksandr Korolkov é doutor em Ciências Históricas.
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: