O projeto de remotorização dos An-2 foi levado a cabo pelo Instituto de Pesquisa Aeronáutica Siberiano Foto: AFP/East News
O chefe do Departamento de Indústria Aeronáutica do Ministério da Indústria e Comércio da Rússia, Andrêi Baginski, anunciou que uma investigação da pasta sobre os documentos industriais do avião de transporte leve soviético An-2 concluiu que a propriedade intelectual do seu projeto agora pertence à Airbus Military.
“Nos tempos soviéticos, a documentação de produção do An-2 foi vendida à Polônia, que curiosamente repassou à Airbus Military”, afirmou Boginski.
Diante desta constatação, o ministério decidiu negociar o retorno da documentação. A situação envolve dois países cujas relações neste momento estão degradadas com a Rússia: Polônia e Ucrânia. Ocorre que o construtor original do avião era o Antonov, bureau projetista fundado em 1947 através de um plano para construção de aeronaves leves de transporte para a URSS. No período correspondente, a Polônia recebeu a licença para fabricá-lo.
A esperança da aviação leve
A Rússia planejava desenvolver com base no An-2 uma nova aeronave regional. Após o colapso da URSS, o país parou de fabricar aviões de tranporte de pequeno porte e os An-2 remanescentes ganharam apenas novos motores, mantendo o resto da estrutura original. O plano era modernizar ainda em 2014 62 unidades dos famosos “aviões stalinistas”.
O projeto de remotorização dos An-2 foi levado a cabo pelo Instituto de Pesquisa Aeronáutica Siberiano (SibNIA), que conseguiu realizar o procedimento em diversas aeronaves, atendendo a pedidos de clientes internos.
Segundo o ministério, no entanto, “a modernização em grande escala do An-2 está impedida por falta de documentação que antes era de propriedade do bureau Antonov, mas que agora não é encontrada na Ucrânia e na Polônia. A celeuma jurídica prejudicará a produção seriada da aeronave modernizada”.
Por outro lado, especialistas afirmam que juridicamente a transmissão dos direitos pela Polônia à companhia europeia não pode ser considerada legal.
“A empresa polonesa PZL Mielec não recebeu autorização do projetista original do An-2, ela não poderia transmitir nenhum direito de produção. Talvez, os documentos que foram transmitidos referem-se às Normas sobre Plantas de Produção, emitidas pelo Conselho para Assistência Econômica Mútua (CAEM) em acordância com o governo soviético sobre os regulamentos de produção aeronáutica”, pondera o colunista da revista aeronáutica “Arsenal” Oleg Jeltônozhko.
Além do mais, a concepção de “direitos da propriedade intelectual” era algo ausente na URSS e questões envolvendo documentos de produção eram resolvidas pelo CAEM. As normas emitidas pelo conselho estão todas revogadas na atualidade.
Caro e ineficiente
De qualquer forma, a perda sobre os direitos de construção do avião stalinista “não pode ser considerada danosa”, afirma Jeltônozhko.
“As estimativas sobre o custo-benefício da modernização seriada do An-2 não eram muito promissoras. No período pós-soviético, a maioria dos An-2 foram descartados justamente pelos custos de operação”, continua o especialista.
Além dos aspectos econômicos, há problemas de ordem técnica. O atual motor radial da aeronave é movido à gasolina aeronáutica, combustível já não mais disponível na Rússia, o que acarretou adaptações perigosas ao funcionamento do propulsor.
O melhor caminho para reavivar a aviação regional, segundo o entendimento do especialista aeronáutico Vladímir Karnozov, seria o “estabelecimento pelas autoridades russas de parcerias para pesquisa e desenvolvimento com empresas ocidentais produtoras de tais aeronaves. Projetos novos são mais viáveis do que a modernização de aviões da era stalinista”.
“Há um projeto alternativo à modernização do An-2, denominado An-2100, equipado com um turbohélice MS-14, desenvolvido pela Motor Sich ucraniana”, afirma o especialista.
O motor já está sendo produzido e é utilizado em outras aeronaves. Há, inclusive, um protótipo do An-2 localizado nas dependências da Antonov passando por testes. No entanto, devido às tensões internacionais, o projeto está totalmente sem perspectivas tendo em vista que o único cliente interessado na aeronave é a Rússia.
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