Desde 22 de agosto, trabalha na Guiné uma equipe russa especializada no trabalho antiepidêmico, composta por pesquisadores do Rospotrebnadzor Foto: Aleksandr Khrebtov/RIA Nóvosti
Além disso, uma equipe de epidemiologistas e virologistas russos está trabalhando em um laboratório móvel, construído pela fabricante de automóveis Kamaz, instalado em um dos três países mais afetados pelo vírus, a Guiné.
Os especialistas também atuam no hospital Donka, na capital guineense Conakry, em parceria com a OMS (Organização Mundial de Saúde) e a organização Médicos Sem Fronteiras.
Reduzindo a mortalidade
De acordo com dados divulgados pela OMS em 18 de setembro, 5.347 pessoas contraíram o vírus ebola e 2.618 morreram em decorrência da doença na África Ocidental.
A taxa de mortalidade do ebola chega hoje a 60%, um índice menor do que as epidemias anteriores, que atingiam os 90%. Os números, porém, ainda são assustadores, e este é o maior surto de ebola desde a descoberta do vírus, em 1976.
Mikhail Schelkanov, especialista do Instituto de Pesquisa Científica de Virologia Ivânovski, afirma que a vacina desenvolvida pelos russos, mesmo sendo experimental, pode ajudar a combater o vírus – embora o mais importante seja determinar o tratamento adequado.
Schelkanov integrou o primeiro grupo de virologistas russos enviados para a Guiné no início de agosto para combater a epidemia.
“Se o paciente for diagnosticado corretamente e submetido ao tratamento sintomático correspondente, a taxa de sobrevivência sobe para 10%. Se houver condições de submeter o paciente à terapia desintoxicante, as chances aumentam em mais 10%. Se houver suporte respiratório, acrescentam-se aí 20%. Com terapia hemostática, mais 10%. E, se for aplicado um antissoro, ganhamos mais 25 a 30% de chance de sobrevivência”, explica Schelkanov.
Segundo ele, a febre hemorrágica causada pelo ebola é perigosa devido à velocidade de sua evolução e porque surge em áreas de difícil acesso: locais onde não existem hospitais, e os pacientes não recebem socorro a tempo.
Assim, com tratamento adequado, o poder letal do vírus poderia ser reduzido a 5% ou 10%. “Um caso semelhante foi a febre hemorrágica da Crimeia-Congo, muito conhecida na época da URSS. Devido à ausência de normas sanitárias rigorosas em aldeias remotas da Ásia Central soviética, a taxa de mortalidade desse tipo de febre chegou a 50%”, lembra Schelkanov.
Atuar sobre o foco
O principal problema na África Ocidental é que a epidemia não foi freada em dezembro de 2013, quando os primeiros casos começaram a aparecer. “Agora, o vírus só pode ser interrompido com o envio de um contingente militar que isole as aldeias entre si”, diz Schelkanov.
Mas mesmo isso pode não ser suficiente para acabar com a epidemia. Os 3.000 militares que o presidente americano Barack Obama enviou recentemente à África Ocidental, de acordo com ele, somente reforçaram os postos fronteiriços.
Deter o surto de ebola é uma tarefa difícil. Controlar a circulação do vírus nos focos naturais das florestas da Guiné, Serra Leoa e Libéria é praticamente impossível nos dias de hoje. Para isso, seria necessário coletar informações por meio de uma estação epidemiológica - cuja criação está sendo negociada entre a Rússia e a Guiné.
Além disso, a África Ocidental é um dos territórios mais pobres do mundo. Praticamente não há saneamento básico moderno ali.
Essas condições são agravadas pela falta de competência administrativa e o alto nível de corrupção que reinam em muitos dos países africanos. Quando uma pessoa infectada consegue atravessar um posto de fronteira pagando uma propina de US$1,5, torna-se impossível tomar medidas para controlar epidemias com eficácia.
Cozido de morcego
Os focos naturais da febre do ebola são encontrados em regiões altas da zona florestal do norte da Guiné. O reservatório natural são os morcegos, que costumam habitar as áreas elevadas da floresta tropical e excretam a doença pelas fezes e saliva. Na sequência, infectam os primatas. Esses se tornam menos ativos,são caçados facilmente e contaminam os caçadores.
Mas as pessoas também são infectadas ao comer morcegos, prática que é comum em algumas áreas afetadas. Um morcego cozido não representa perigo, mas a infecção geralmente ocorre durante a preparação.
Confira outros destaques da Gazeta Russa na nossa página no Facebook
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: