Armamento: transferência de tecnologia atrai latino-americanos

O Peru poderá oferecer serviços de reparação independentemente e realizar manutenção dos helicópteros Mi-17/171 usados ​​por outros países da região Foto: PressPhoto

O Peru poderá oferecer serviços de reparação independentemente e realizar manutenção dos helicópteros Mi-17/171 usados ​​por outros países da região Foto: PressPhoto

Os países da América Latina se recusam a ser simples compradores de armamento russo. Essa região quer receber não apenas os equipamentos militares, mas também tecnologias russas para a produção de armamentos. Isso leva as relações a um nível completamente diferente e obriga a Rússia a assinar cada vez mais os acordos offset que preveem investimento de parte do dinheiro do contrato na economia do país importador.

No início de setembro, a Rússia e o Peru ratificaram um acordo para a construção de um centro conjunto de produção e reparação de helicópteros em La Joya (província de Arequipa, Peru). A construção desse centro de reparação, cuja abertura está prevista para 2016, é o resultado de um acordo offset de US$ 180 milhões, que faz parte do contrato assinado em 2013 para a venda de 24 helicópteros Mi-171SH a Lima. Se trata do maior contrato de tecnologia militar ente a Rússia e o Peru até hoje, cujo valor ultrapassa US$ 406 milhões.

Segundo esse acordo offset, o Peru poderá oferecer serviços de reparação independentemente e realizar manutenção dos helicópteros Mi-17/171 usados ​​por outros países da região. De acordo com as informações da corporação Rostec (empresa de desenvolvimento, fabricação e exportação de produtos industriais), o centro pertencerá ao Ministério da Defesa do Peru e "permitirá manter o parque de helicópteros e garantir sua eficiência nas operações de guerra contra o narcotráfico e o terrorismo".

 

A partir de 2016, o centro de helicópteros começará a produção de componentes e blocos independentes para esses helicópteros russos. Provavelmente, as Forças Aéreas do Peru realizarão a montagem final dos 11 helicópteros russos.

O Peru está usando os Mi-171 que foram importados em 2011. Atualmente, Venezuela, Argentina, Brasil, Colômbia e México utilizam cerca de 400 helicópteros deste modelo de várias modificações. Assim, o centro no Peru deverá se tornar a principal empresa de manutenção e reparação de helicópteros russos e atrair outros países da América Latina que utilizam esses equipamentos.

Vantagens 

O Mi-171Sh venceu a licitação das Forças Armadas do Peru em 2013. O helicóptero russo foi escolhido pelos peruanos não só devido às características técnicas, mas também por causa do programa offset oferecido pela parte russa.

Os acordos offset entre a Rússia e os países da América Latina se tornam cada vez mais comuns. Os países da região querem não só adquirir armas russas, mas também receber o direito de reparar, montar e produzir equipamento no seu território.

"Hoje, os países querem não só comprar os equipamentos, mas também localizar a produção de armamentos e equipamentos militares", disse o vice-ministro da Defesa da Rússia, Anatóli Antonov, à agência de notícia Itar-Tass.

Em junho de 2014, a Venezuela também assinou um acordo bilateral com a Rússia sobre a criação de um centro de helicópteros. Caracas utiliza não só os helicópteros de múltiplas funções Mi-17, mas também os de transporte pesados Mi-26 e de ataque Mi-35.

De acordo com o representante da Rosoboronexport (empresa estatal russa responsável pelas vendas de equipamento militar ao exterior) Vladislav Kuzmitchov, todos os acordos de fornecimento de helicópteros para a Venezuela foram cumpridos. Agora, no entanto, o país precisa reparar as aeronaves.

"Os nossos colegas venezuelanos precisam de peças e da ajuda na reparação e manutenção dos helicópteros”, diz Kuzmitchov.

Acordos offset com o Brasil

As empresas estatais russas então estudando as possibilidades de começar a produção conjunta com as empresas brasileiras. De acordo com o representante da Rostec, Serguêi Goreslávski, o objetivo da cooperação entre a Rússia e o Brasil é a criação de uma parceria tecnológica.

“Essa parceria deve envolver o intercâmbio de tecnologias e a criação de uma fábrica de montagem no Brasil que facilitará a penetração dos produtos na economia local", disse Goreslávski.

Especificamente, o contrato sobre o fornecimento de sistemas de mísseis antiaéreos "Pantsir", que deverá ser assinado no futuro próximo, também oferece um acordo offset: as empresas brasileiras serão responsáveis pela manutenção dos equipamentos russos. Além disso, os brasileiros produzirão munição para essas armas sob licença russa.

Segundo o especialista militar independente Vladímir Kliúchnikov, os acordos offset são muito populares em todo o mundo.

“Esse tipo de acordo permite ​expandir o mercado e aumentar a lealdade dos compradores”, diz Kliúchnikov.

“Agora, todos os países tentam receber acesso direto à documentação técnica. A Rússia prefere criar joint ventures com as empresas que representam outros países. As capacidades de produção na Rússia são sobrecarregadas e a criação de uma joint permite baixar a carga e enviar especialistas russos para trabalhar no exterior", completou.

 

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