Gansos no Ártico e prótons para combater o câncer: os avanços da ciência na Rússia

Os gansos são um indicador de condições favoráveis ​​em uma determinada área Foto: Shutterstock

Os gansos são um indicador de condições favoráveis ​​em uma determinada área Foto: Shutterstock

A Gazeta Russa selecionou projetos de cientistas russos apresentados na Semana da Ciência em Moscou.

De 8 a 12 de setembro, foi realizado em Moscou o evento Semana da Ciência, que reuniu especialistas de diferentes áreas da ciência da Rússia e de países estrangeiros para apresentar seus projetos e discuti-los. A Gazeta Russa  escolheu os projetos mais interessantes apresentados por cientistas russos. Confira abaixo.

Anticiclone no hemisfério norte

"No final do século 21, a temperatura média na Rússia crescerá sete graus e atingirá 5o C positivos", disse Aleksandr Tchernokúlski, pesquisador do Laboratório sobre Teoria do Clima do Instituto de Física Atmosférica de Obukhov. Segundo ele, a primavera de 2014 foi a mais quente na história das observações meteorológicas do mundo, atrás apenas da de 2010. A temperatura em maio deste ano foi 0,74o C superior aos indicadores do século 20 e atingiu 15,54o C.

A camada espessa de gelo no Ártico está diminuindo. "A liberação de metano aumentará o processo de aquecimento global. O ponto de não retorno para o ‘permafrost’ [tipo de solo encontrado na região do Ártico] já foi ultrapassado", disse Tchernokúlski. Segundo ele, recentemente os cientistas começaram a ter acesso a dados exclusivos de submarinos russos sobre a redução catastrófica da área de gelo. Alguns modelos de computadores mostram que entre 2040 e 2050 não existirá mais gelo no Ártico e não será possível evitar a mudança climática.

Uma pesquisa recente do laboratório onde trabalha Tchernokúlski prova que com as mudanças climáticas a frequência de fenômenos climáticos extremos, inclusive o anticiclone de bloqueio, poderá crescer no território europeu e em todo o hemisfério norte. Isso provocará secas catastróficas e calor extremo. Por exemplo, durante o anticiclone de 2010, em alguns dias a temperatura do ar em Moscou ultrapassou os 33o C. 

Migração de gansos no Ártico 

Piotr Glazov, pesquisador do Instituto de Geografia da Rússia, estuda a migração dos gansos do Ártico. Trata-se de gansos grandes de testa branca, que saem da Europa para o Ártico para lá criar sua prole. O objetivo do estudo é entender como controlar a população dessas aves para evitar a sua extinção.

Projetos semelhantes já existem há muito tempo na Europa, mas até recentemente a comunidade científica não tinha a menor ideia do que está acontecendo com os gansos no território da Rússia. Cientistas do Instituto de Geografia começaram a capturar os gansos a caminho para o Ártico para neles colocar um anel de monitoramento.

"Os gansos são um indicador de condições favoráveis ​​em uma determinada área”, disse Piotr Glazov. “Eles são muito afetados pelas condições climáticas e migram atrás da neve em busca de grama verde crescente.  Seu objetivo é chegar ao Ártico em boas condições, porque é disso que depende a viabilidade da prole. Durante a procriação, os gansos utilizam as reservas de gordura acumuladas durante o voo.”

De acordo com Glazov, o principal problema para os gansos na Rússia é o crescimento excessivo das terras agrícolas. Campos abandonados e árvores caídas não são adequados para as aves, pois a grama nesses lugares não é boa para a alimentação. Além disso, a população costuma caçar os gansos, portanto muitas vezes eles têm que pousar em lugares inesperados, inclusive em zonas industriais. Segundo os cientistas, na Rússia é necessário estabelecer uma rede de áreas especialmente equipadas para o descanso dos gansos.

Acelerador de prótons para tratamento de câncer

Há alguns anos, o Instituto Físico Lebedev desenvolveu um novo acelerador de prótons compacto, que é utilizado para o tratamento de câncer. Segundo seu criador, o acadêmico Vladímir Balákin, essa tecnologia permitirá criar uma pequena unidade em hospitais já existentes, em vez de construir um novo hospital em torno da unidade de tratamento por prótons, como está acontecendo agora. “Conseguimos eliminar todos os defeitos dos sistemas existentes”, disse Vladímir Balákin. “Nós aumentamos a precisão da dose de radiação e reduzimos o custo.” 

Foto: Press Photo

No ano passado, seu acelerador de prótons foi comprado pelo  Hospital Geral do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos. Participaram da licitação todos os fabricantes mundiais desse tipo de equipamento, mas ganhou a invenção de Balákin, relativamente barata e de alta capacidade.

De acordo com cientistas, o tratamento por feixe de prótons tem muitas vantagens. A gama de radiação usada na radioterapia não só afeta o tumor, como também destrói em seu caminho as células saudáveis. Por sua vez a radiação por prótons é mais suave. O feixe de prótons pode ser focado em uma área particular com precisão milimétrica. 

O tempo de exposição do paciente com câncer à radiação no equipamento de Balákin é de dez minutos, três vezes menor do que o de muitas outras tecnologias que existem no mercado hoje. Na Rússia, um novo acelerador de prótons foi instalado recentemente em hospitais regionais próximos às cidades de Púchino e Prótvino. “Em dez ou 20 anos, a radioterapia será aplicada principalmente com equipamentos de prótons", disse Vladímir Balákin.

 

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