Os antecessores de Gagárin

Os testes eram feitos por muitas pessoas, para que os primeiros no Espaço pudessem ter certeza de que o corpo aguentaria Foto: ITAR-TASS

Os testes eram feitos por muitas pessoas, para que os primeiros no Espaço pudessem ter certeza de que o corpo aguentaria Foto: ITAR-TASS

Os homens que testaram a tecnologia espacial foram os pioneiros no Espaço. Os testes foram feitos na terra, mas em condições duras, até mesmo críticas: por um lado, eles tinham de lidar com o desconhecido fora da terra, por outro, com a acumulação de conhecimento e o trabalho dos médicos da Força Aérea e dos fisiologistas soviéticos.

A história dos assistentes de testes espaciais começou em 1952, com o decreto governamental assinado por Stálin e a ordem do comando geral da Força Aérea para a criação de um grupo de assistentes militares para testes na base do Instituto de Pesquisa Científica para a Medicina da Aviação (NIIAM, na sigla russa). Para primeiro chefe do departamento de testes foi nomeado o médico militar E. Karpov (que mais tarde seria o primeiro chefe do Centro de Treinamento de Cosmonautas).

Os pesquisadores deste instituto secreto seriam futuros acadêmicos, mas Keldich, Korolov, Sedov e outros líderes daquele novo arranque para o desconhecido escutavam as palavras dos assistentes de testes.

Os testes eram feitos por muitas pessoas, para que os primeiros no Espaço pudessem ter certeza de que o corpo aguentaria. Por isso, a seleção de escolha dos assistentes de testes não foi menos rigorosa do que a seleção de escolha posterior dos próprios cosmonautas: de 5.000 militares, apenas cerca de 25 foram aceitos como aptos para fazer os testes. No total, e de acordo com Boris Bitchkovski, entre 1950 e 1970, o número de assistentes de testes contratados foi de aproximadamente de 900 pessoas. E havia ainda os autônomos –médicos-voluntários, engenheiros e técnicos de aviação.

Voar para o espaço permanecendo na terra

"Eu testei o equipamento em câmaras hiperbáricas, em particular os trajes espaciais de compensação VKK-5 e VKK-6”, recorda Bitchkovski. “Testamos também a resistência em situações de emergência (sob efeito de diferentes gases e vapores). No total, eu passei por mais de 80 testes."

Nikolai Burkun lembra:

"A minha especialidade eram os testes de altitude e de sobrevivência, fosse na câmara vácuo-térmica ou em condições naturais: no mar, no deserto da Ásia Central, na taiga gelada, na região ártica de Tiksi."

Depois do esforço físico, muitos dos homens passavam para a reserva ou iam parar no hospital.

"Tivemos dois deles assim. Foi quando fizeram uma simulação de aumento abrupto de pressão, como se estivéssemos subindo rapidamente até à altitude de 14 quilômetros –com máscara, sim, mas vestidos apenas com as túnicas militares. Afinal, a nossa aceitação no NIIAM levava o carimbo ‘Apto, sem limitações’".

Fiodor Chkirenko trabalhou lá entre 1959 e 1961. Basicamente, ele fazia testes de sobrevivência em altas altitudes e experiências psicológicas.

"Para compatibilidade, enviavam sempre dois: eu e um companheiro meu ficamos um mês em uma câmara de isolamento e, em seguida, puseram-nos em um grupo de cinco em uma câmara escura. Depois de algum tempo os médicos perguntavam a cada um de nós que horas eram. Não havia nenhuma luz, era como se fosse o Cosmos puro. Neste ambiente o que ajudava era conversar."

Ucranianos, bálticos, judeus, russos, cazaques –estavam todos no mesmo time. Alguns passaram por dezenas de testes, outros, por centenas.

“Respirávamos diferentes misturas de gases, suportávamos calor e baixas pressões, punham a gente nas centrífugas e nos lançavam, faziam vários testes de efeito psicológico. Testávamos as ferramentas e os trajes.”

O major Khlopkov efetuou mais de 400 testes. O major Gridunov ultrapassava valores para além dos limites e a única coisa que perguntava era: "E como estão os americanos, qual são os valores deles? Vamos dar mais."

Gagárin e Titov, todos os cosmonautas daquela primeira equipe, ficaram muito gratos aos instrutores, cientistas e "pré-cosmonautas". Eles vinham dar palestras no instituto perto da estação de metro Dinâmo, onde ensinaram, treinaram e prepararam os "falcões" –que era o apelido que Serguêi Korolov dava aos conquistadores do Espaço.

 

Publicado originalmente pelo Vetchérniaia Moskva

 

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