Como funciona um dos maiores telescópios do mundo

Grande Telescópio de Azimute, localizado a 17 quilômetros da aldeia, a uma altitude de 2.070 metros acima do nível do mar, é um dos maiores do mundo Foto: RIA Nóvosti

Grande Telescópio de Azimute, localizado a 17 quilômetros da aldeia, a uma altitude de 2.070 metros acima do nível do mar, é um dos maiores do mundo Foto: RIA Nóvosti

Por que os astrônomos gastam tempo para calcular a massa dos corpos celestes? De quais descobertas eles têm orgulho? Saiba como vivem e trabalham os astrônomos da pequena república de Karatchaevo-Tcherkéssia, no norte do Cáucaso.

A profissão de astrônomo é muito rara. Na Rússia, apenas 50 pessoas por ano obtêm essa especialidade. Na República da Karachaevo-Cherkessia, 100 astrônomos moram na aldeia de Níjni Arhiz, localizada em um vale pitoresco, cercada por todos os lados de montanhas e templos antigos. O astrônomo mais antigo é Iúri Vladimirovich Glagolevskij, de 82 anos de idade.

O Grande Telescópio de Azimute, localizado a 17 quilômetros da aldeia, a uma altitude de 2.070 metros acima do nível do mar, é um dos maiores do mundo. Apenas 30 pessoas o utilizaram para observar as estrelas.

"Há muita informação, por isso trabalhamos em equipe, que na maioria das vezes é internacional. Um artigo científico pode ter até 10 autores”, diz Iúri Balega, correspondente e diretor do Observatório Astrofísico Especial da Academia Russa de Ciências.

Existe vida dentro do telescópio?

No interior do Grande Telescópio de Azimute há todo o conforto: salas, cozinha e chuveiros. Das janelas tem-se a vista deslumbrante dos picos de montanhas cobertos de neve e dos vales tranquilos. Mas há  também uma desvantagem: a partir das 8h, o sono dos astrônomos sempre é atrapalhado pelos turistas. A cada dia, cerca de 500 chegam para ver o telescópio. Nos anos 70 e 80, quando o telescópio era famoso, havia  muitos simpósios e astrônomos internacionais reuniam-se ali.

“Naquela época, a vida do astrônomo soviético era muito dura”, diz Balega. “A jornada de trabalho dos astrônomos ia de cinco horas da tarde até sete horas de manhã. Os cientistas tinham que ficar em uma pequena cabine (os astrônomos deram-lhe o apelido de copo) e subiam junto com o telescópio. O teto de cúpula abria-se devagar, rasgando o céu estrelado. Era muito bonito. No andar de cima fazia muito frio, e a única coisa para aquecer os astrônomos era  a roupa especial aquecida. O astrônomo só podia sair depois de 14 horas, após o telescópio ser baixado.  Não podia se mover, caso contrário, as estrelas começavam a balançar, piorando a imagem fotográfica. Se você abandonasse a cabine antes do tempo seria um catástrofe.”

Cada minuto planejado

“De manhã, eu leio artigos escritos por meus colegas de diferentes países. Cada dia, ao redor de 50 artigos de caráter científico são publicados no mundo inteiro. Às vezes, leio um artigo interessante ao longo de todo o dia. Processo os dados recebidos do telescópio. Em seguida, tenho reunião com os estudantes de pós-graduação. Tenho algum tempo livre, pois a distância do laboratório  onde eu trabalho até a minha casa é de três minutos a pé. Tenho tempo para jogar badminton”, diz o doutor em Ciências Físico-Matemáticas Serguêi Fábrika.

Os colegas  de Serguêi também não perdem tempo. Os astrônomos têm até sua própria estação de esqui, construída do lado do observatório.

Ver o limite do universo

O Grande Telescópio de Azimute é um dos 20 mais eficientes do mundo e cientistas de todo o mundo reservam tempo para trabalhar  nele. Astrônomos da Alemanha, da França e dos Estados Unidos têm muitos projetos conjuntos com os colegas de Karachaevo-Cherkessia.

“Ele já foi usado para descobertas impressionantes”, diz Balega com orgulho. “Não  é possível ver o fim do mundo, mas se pode ver galáxias que estão a distância de 13 bilhões de anos-luz da Terra, no limite do universo.”

Cientistas de Karatchaevo-Tcherkéssia estudam os problemas dos buracos negros há muitos anos. Nesse aspecto, em nível internacional, são considerados os líderes. O grupo de astrônomos liderado pelo acadêmico Iúri Parijskij, por exemplo, descobriu um buraco negro gigante em uma galáxia distante 12,3 bilhões de anos-luz da Terra.

Cientistas do observatório têm orgulho de conseguir calcular a massa de estrelas gigantes, a origem e evolução do quais é ainda objeto de disputas entre astrofísicos.

O peso de estrelas tem parâmetros mais difíceis para medir, considera o doutor Fábrika. “Com essa técnica podemos prever a conversão de uma estrela  em um buraco negro, em uma estrela de nêutrons ou, como o nosso Sol, em um anão branco, se ela puder explodir como uma supernova.”

“A ciência é um processo contínuo”, acrescenta Balega. “Ao examinar o lado ‘interior’ do sol, cientistas criaram uma bomba de hidrogênio. Um estudo de outros corpos celestes pode revelar-nos os segredos de novas fontes de energia, matéria invisível ‘escura’ e muito mais.”

 

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