Preocupação com a segurança ou "acusações preventivas"?

Alguns especialistas dizem que a Rússia de fato tinha realizado um teste de míssil de cruzeiro projetado para armamento de bombardeiros de longo alcance ou para submarinos e navios de superfície Foto: RIA Nóvosti

Alguns especialistas dizem que a Rússia de fato tinha realizado um teste de míssil de cruzeiro projetado para armamento de bombardeiros de longo alcance ou para submarinos e navios de superfície Foto: RIA Nóvosti

Os Estados Unidos expressaram a seus aliados da OTAN a preocupação com a possível violação do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (Tratado INF) por Moscou. A preocupação de Washington, segundo meios da comunicação norte-americanos, deve-se à informação sobre testes realizados com um míssil de cruzeiro russo. O especialista militar Victor Litóvkin comenta sobre o tema.

O Tratado INF proíbe os EUA e a Rússia de produzirem, testarem e instalarem mísseis balísticos e de cruzeiro, lançados por terra, de médio (1.000 km a 5.500 km) e de pequeno (500 a 1.000 km) alcance. Segundo a mídia norte-americana, os Estados Unidos acreditam que a Rússia realizou um teste de foguete "suspeito" em 2008. A mídia não especificou o tipo de foguete, mas dá a entender claramente que talvez se trate do RS-26, chamado de Rubezh ou Avanguard.

O RS-26 Rubezh é um míssil balístico intercontinental (ICBM): atinge um alvo pela curva balística. O mísseis  de cruzeiro voam paralelamente ao solo, ao redor do relevo do terreno. Os mísseis intercontinentais têm alcance de até 11,5 mil  quilômetros, e os mísseis de cruzeiro, em geral, têm um alcance limitado de apenas cerca de 3.500 quilômetros.


Provavelmente, a ogiva do ICBM Rubezh tem características de míssil de cruzeiro. O RS-26 é lançado de um dispositivo móvel do solo diretamente para cima. Em seguida, a uma certa altura, começa a seguir curva balística com destino ao combate. Numa trajetória descendente, a poucas centenas de quilômetros do destino, a ogiva de repente "cai" para um nível mais baixo e continua seu voo já como míssil de cruzeiro.  Assim, um radar ou outros tipos de detecção não conseguem determinar esse tipo de ogiva, prevenir sua missão, derrubá-la ou destruí-la.

Resposta simétrica

Para a Rússia, a criação desse tipo de ogiva para seus mísseis é a resposta aos planos dos EUA de implantar um sistema de defesa antimísseis global ao longo das fronteiras da Rússia.

Os EUA já foram informados sobre o sistema de mísseis intercontinentais RS-26 Rubezh. Há pouco mais de seis meses, o chefe da direção principal do Estado-Maior General das Forças Armadas da Rússia, coronel-general Vladímir Zarudnitski, já tinha falado do assunto.

“Como parte do plano aprovado sobre o fortalecimento das Forças Armadas da Rússia foi realizado um teste de lançamento dos promissores mísseis Rubezh, junto com um míssil balístico intercontinental de alta precisão de impacto", disse Zarudnitski durante uma reunião com o presidente Vladímir Pútin.

O lançamento foi realizado da cidade de Kapustin Iar, na região de Astrakhan, para o polígono Balkhash, no Cazaquistão, em 6 de junho de 2013. Antes disso, do polígono Plesetsk, na região de Arkhangelsk, para o polígono Kura, em Kamchatka, a uma distância de 6.300 quilômetros. Segundo Zarudnitski, após os testes, o conjunto de mísseis Rubezh será adotado pelas Forças Estratégicas de Mísseis. O início do posicionamento do primeiro regimento de mísseis é previsto para este ano. Neste momento, estão sendo desenvolvidas as áreas de construção de infraestrutura, de treinamento de pessoal e de preparação ao combate.

Alguns especialistas dizem que a Rússia de fato tinha realizado um teste de míssil de cruzeiro projetado para armamento de bombardeiros de longo alcance ou para submarinos e navios de superfície. Esse tipo de míssil não é proibido pelo Tratado INF, desde que seja lançados de bases terrestres, o que é muito mais barato do que organizar testes no ar ou no mar. Este fato pode ter sido usado pelos militares dos EUA para denunciar as ações de Moscou. Mas essas denúncias provavelmente foram provocadas por outras circunstâncias.

Testes norte-americanos

Os EUA regularmente organizam testes para seu sistema de defesa antimísseis no arquipélago Kwajalein, no Pacífico, onde, como alvo para mísseis interceptores, são utilizados foguetes com motores de mísseis de médio alcance. Isso foi repetidamente dito por um dos maiores especialistas russos na área de armamento estratégico, o professor da Academia de Ciências Militares e major-general Midihat Vildanov.

Em julho do ano passado, na publicação “Revista Militar Independente", o general abertamente criticou o Pentágono, que, segundo ele, viola o tratado. Os militares dos EUA, de acordo com Vildanov, usam mísseis-alvos com alcance de mais de 1.000 quilômetros (HERA, com alcance de até 1.200 quilômetros; LRALT, de 2.000 quilômetros e MRT, de 1.100 quilômetros) para testar seus mísseis.

 



Isso é uma violação do Tratado INF. O Ministério das Relações Exteriores russo já tinha apontado esse tipo de violação em janeiro de 2001 e em agosto de 2010. Mas não houve nenhuma reação dos EUA.

A administração militar da Rússia prestou atenção não só nas acusações sobre a violação do Tratado INF reveladas na mídia norte-americana, mas também na sincronização dessas acusações com a declaração do ministro de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, durante a Conferência de Segurança, organizada em Munique, sobre o envio do destroier Donald Cook com um sistema de defesa antimísseis Aegis a bordo para um porto espanhol. Essa coincidência lembrou militares russos dos antigos métodos de condução de propaganda dos ataques preventivos durante a época do confronto entre os Estados Unidos e a União Soviética.

 

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