Os tanques que marcaram época na Rússia e na URSS

As lanchas que formavam o par do dispositivo de flutuação do Projeto 80 eram feitas de liga de alumínio de alta resistência, equipadas com um motor a diesel M-50, de 1.200 HP de potência Foto: divulgação

As lanchas que formavam o par do dispositivo de flutuação do Projeto 80 eram feitas de liga de alumínio de alta resistência, equipadas com um motor a diesel M-50, de 1.200 HP de potência Foto: divulgação

Em meados do século passado, equipamentos que se transformavam em uma embarcação fluvial ou marítima e, ao mesmo tempo, combinavam as melhores qualidades de um tanque médio começaram a ser desenvolvidos.

A superação das barreiras hídricas sempre foi uma tarefa difícil para os pesados veículos blindados. Na história da construção de tanques de guerra não são poucos os exemplos de criação de máquinas capazes de fazer a travessia até a margem oposta movendo-se tanto sobre a superfície da água quanto sobre o fundo do rio.

No entanto, a complexidade e o longo tempo dispendido na preparação do tanque comum, médio ou pesado, para uma movimentação subaquática ou a blindagem fraca e a impossibilidade de instalar um armamento pesado sobre os leves tanques flutuantes, obrigavam os engenheiros e construtores soviéticos a buscar outros caminhos. Era necessário um tanque anfíbio, com uma blindagem à prova de projéteis e um armamento, no mínimo, de um tanque médio, capaz de participar das operações de desembarque rápido para criar uma cabeça de ponte na margem e destruir com o poder de fogo de suas armas as fortificações costeiras e suprimir os pontos de disparo do inimigo.

Como parecia praticamente impossível construir uma máquina que atendesse a exigências tão elevadas, os fabricantes de tanques propuseram outras opções para a solução desse problema. Uma delas sugeria um aperfeiçoamento da máquina sem a introdução de mudanças significativas em seu projeto, ou seja, equipar um tanque médio, de série, com dispositivos de flutuação sobrepostos. Em caso de necessidade, eles permitiriam que o tanque fosse transformado em uma embarcação fluvial ou marítima, combinando as melhores qualidades de um tanque médio com as características de um veículo de transporte aquático de alta velocidade. Um destes projetos foi implementado na URSS em meados do século passado e tinha a designação de Projeto 80.

Os primórdios

Foto: ITAR-TASS

Os trabalhos nessa área começaram na União Soviética em 1951, a partir do desenvolvimento de flutuadores especiais, que eram fixados no tanque e permitiam que a máquina permanecesse à tona e se movesse independentemente sobre a água. Os dois primeiros projetos previam a instalação desse equipamento nos tanques das séries T-54 e T-55. Ambos os projetos foram concluídos com êxito.

Mais tarde, em 1959, foi decidido unificar todas as amostras e, depois disso, foi atribuída ao novo equipamento a designação PST-U (sigla em russo para dispositivo de flutuação de tanque unificado), sob a qual ele foi adotado como armamento do Exército Soviético, em 1960. O peso do PST-U era de aproximadamente 10 toneladas e o movimento sobre a água era realizado através da transmissão da força das rodas motrizes do tanque para duas hélices. A velocidade máxima sobre a água era de 12 km/h e por terra (com PST-U instalado) não mais que 20 km/h. Entretanto, o peso excessivo e a complexidade da instalação dos flutuadores sobre o tanque exigiam melhorias no dispositivo de flutuação, por isso os trabalhos não cessaram e, já em 1962, foram realizados testes com um novo dispositivo.

Dispositivo flutuante, com pequenos acertos, foi adotado como armamento em 1965 Foto: divulgação

Esse modelo era 4,5 toneladas mais leve, o que permitia aumentar a velocidade máxima de locomoção por terra para até 25 km/h e, sobre a água, para até 14 km/h. Ainda foi possível reduzir significativamente a carga sobre o chassis da máquina. A instalação de tanques de combustível extras permitiu aumentar a reserva de energia. Tendo recebido a designação de PST-63, o dispositivo flutuante, com pequenos acertos, foi adotado como armamento em 1965. Mais tarde o PST-63 foi aperfeiçoado e designado de PST-64 e PST-64 М.

O Projeto 80 se resumia em equipar o tanque médio com um dispositivo de flutuação composto de duas lanchas de alta velocidade sobre hidrofólios e foi desenvolvido no Bureau de Projetos "Volgobaltsudoproekt", cujo diretor na época era Mikhail Schúkin. No início de 1966, foi construída uma maquete do futuro dispositivo de flutuação, que serviu para testar várias soluções no âmbito do projeto. Em seguida, em 1967, foi elaborado o primeiro protótipo, que foi imediatamente enviado para testes nas águas do Mar Negro, próximo à cidade de Sevastopol.

Durante os testes verificou-se que a velocidade máxima alcançada, de 58 km/h, era superior à estimada, de 50 km/h. No entanto, os testes seguintes terminaram em fracasso devido à insuficiente resistência da estrutura. A barra que não permitia o distanciamento entre as lanchas que carregavam o veículo blindado se rompeu: em consequência, as lanchas se distanciaram, e o tanque afundou. Felizmente não houve vítimas: em pouco tempo a máquina foi erguida, e uma comissão especial foi criada para estabelecer as causas do acidente.

Lanchas

As lanchas que formavam o par do dispositivo de flutuação do Projeto 80 eram feitas de liga de alumínio de alta resistência, equipadas com um motor a diesel M-50, de 1.200 HP de potência, e eram acopladas às laterais do tanque através de peças de fixação especialmente previstas em seu design para esse fim. Os cilindros hidráulicos instalados nas lanchas eram destinados para a sua elevação acima do solo, durante a locomoção em terra e no abaixamento no caso da locomoção sobre a água. A instalação completa do dispositivo de flutuação no tanque levava cerca de uma hora, e a “retirada” era realizada em três minutos.

Os hidrofólios também possuíam duas posições: durante o transporte eram erguidos e durante a locomoção pela água eram baixados sob o fundo das lanchas que carregavam o tanque. Os hidrofólios traseiros eram equipados com hélices e um dispositivo de direção, o que permitia alterar a profundidade do rebaixamento da hélice. Isso permitia que o tanque passasse mesmo nos lugares de menor profundidade. No entanto, em 1971, por questões de conveniência e ausência de perspectivas, o projeto foi encerrado.

 

Publicado originalmente pelo Topwar.ru

 

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