O trajeto do bombardeiro soviético que não decolou

Modelos M-4 foram retirados de operação e desmontados para sucata em 1997 Foto: divulgação

Modelos M-4 foram retirados de operação e desmontados para sucata em 1997 Foto: divulgação

“Bison” soviético, como o bombardeiro estratégico a jato M-4 era conhecido nos Estados Unidos, foi o primeiro portador intercontinental de armas nucleares do mundo incluído em um exército. Apesar de ter sido inicialmente desenvolvido para transportar armas de retaliação aos Estados Unidos, a história da aviação acabou confiando ao M-4 um papel mais modesto e pacífico.

Depois de ter desenvolvido a sua bomba nuclear quatro anos depois dos norte-americanos, a União Soviética continuava atrás não apenas pelo tamanho de seu arsenal nuclear, mas também não tinha meios para levar armas de retaliação para o território inimigo.

A criação do bombardeiro intercontinental foi uma tarefa difícil, que exigiu o domínio de características de desempenho da aeronave. Tanto é que o construtor Andrêi Tupolev, a quem foi originalmente destinada a tarefa de criar o avião, recusou-se terminantemente a executá-la e defendeu a sua posição pessoalmente perante Stálin.

Em 1951, o trabalho foi então confiado ao pupilo de Tupolev, o construtor Vladímir Miassichev. No relatório enviado ao governo soviético, ele descreveu o projeto de construção de um bombardeiro com autonomia de voo entre 11 a 12 mil quilômetros e uma velocidade de 900 km/h. Depois de seis meses de trabalho árduo, as autoridades, com base no projeto de Miassichev, aprovaram o modelo do futuro bombardeiro.

A construção do primeiro protótipo foi elaborada em três turnos, e alguns meses mais tarde ele estava literalmente pronto para decolar. O M-4 realizou o seu primeiro voo de dez minutos em janeiro de 1953, seguidos por outros 27 voos de experimentação.

A principal força de ataque do M-4 era a bomba termonuclear RDS-37, com 2,9 megatons de capacidade. Com ela seria possível destruir toda uma cidade ou área industrial. A aeronave podia também carregar bombas nucleares e convencionais de baixa potência, minas marítimas e torpedos. Para completar, o M-4 era equipado com nove canhões de 23mm HP-23 ou seis canhões de 23mm AM-23. 

Projeto foi confiado ao construtor Vladímir Miassichev Foto Divulgação 

O M-4 acabou se tornando a primeira aeronave transportadora intercontinental de armas nucleares do mundo a fazer parte das unidades de combate. O avião entrou para o serviço da Força Aérea poucos meses antes de seu concorrente direto, o bombardeiro estratégico americano B-52.

Começo do fim

Por outro lado, iniciar a exploração do novo bombardeiro foi uma tarefa difícil. Em primeiro lugar, algumas dificuldades específicas com o sistema de controle permaneceram por muito tempo como o principal problema da nova aeronave. O avião era, no geral, considerado muito rígido na direção, especialmente durante a decolagem e o pouso, e a manipulação do leme era impossível sem emprego de grande esforço físico.

Características do M-4

Envergadura: 50,53 m

Comprimento: 48,70 m

Altura: 14,10 m

Área de asa: 326,35 m2

Velocidade máxima: 947 km/h

Autonomia prática: 8100 km

Teto de serviço: 11.000 m

Tripulação: 8 pessoas

Carga de combate: 9.000kg - normal, 24.000 kg – máximo

O poderoso sistema de ar condicionado representava um grande problema para os pilotos, que voar com roupa de pele bem quente, já que a temperatura dentro da cabine caia abaixo de zero quando em altitudes elevadas.

Durante os três primeiros anos de funcionamento, o avião apresentou diversos defeitos e teve, pelo menos, seis acidentes. Na cidade de Engels, que se tornara a base principal do M-4, as esposas dos pilotos chegaram a ir para a pista a fim de impedir os voos. Devido às dificuldades com a remodelação do M-4 para o transporte da “tsar bomba”, a primeira carga termonuclear acabou sendo lançada do Tu-95.

Mas o problema principal, detectado ainda nos testes, era a autonomia de voo. A distância máxima que o M-4 conseguia percorrer era de apenas 9.500 km, duas vezes menos do que o anunciado. Com esses indicadores, tornava-se impossível voar até os EUA, jogar a bomba e voltar para casa.

A única forma eficaz encontrada para resolver este problema era reabastecer a aeronave em voo. Foi criado então o sistema de reabastecimento “Cone” que, em sua essência, transformava o bombardeiro em um avião-tanque de combustível. Como resultado, no em fevereiro de 1957, o M-4 voou 14.500 km em 17 horas, com dois reabastecimentos.

Porém, nessa época já havia surgido uma modificação mais avançada do bombardeiro, o 3M, e foi decidido converter todos os M-4 em tanques de abastecimento, que operaram até o início dos anos 1990. Em agosto de 1997, todos os modelos da série foram retirados de operação e desmontados para sucata.

 

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