Kalashnikov veio de uma família de camponeses e desde criança se interessava por questões ligadas à tecnologia Foto: Reuters
Na noite desta segunda-feira (23), chegou de Ijevsk, capital da indústria de armamento na Rússia, a notícia do falecimento de Mikhail Kalashnikov, que ficou famoso por criar o rifle considerado por especialistas como o melhor fuzil de assalto da história.
Desde meados de novembro, Kalashnikov se encontrava em cuidado intensivo no Centro de Diagnósticos Clínicos de Ijevsk, onde foi hospitalizado devido a uma hemorragia gástrica. Ele sofria de problemas no coração.
“Kalashnikov era o nosso tesouro nacional, um homem como aquele nasce uma vez a cada mil anos”, disse o editor-chefe da revista Natsionalnaia Oborona (Defesa Nacional), Igor Korotchenko. “Apesar da idade, mantinha grande lucidez de espírito. Ele vivia pelos interesses da fábrica e pensava globalmente.”
Kalashnikov veio de uma família de camponeses e desde criança se interessava por questões ligadas à tecnologia. Aos 18 anos, foi recrutado para o Exército Vermelho, onde começou surpreendeu com sua inteligência e engenhosidade ao propor formas de melhorar a construção das armas dos tanques.
Em agosto de 1941, Kalashnikov foi para a frente de batalha, mas acabou gravemente ferido e levado para o hospital. Lá passou a maior parte do tempo livre desenhando os esboços do futuro AK-47, que iria imortalizar o nome Kalashnikov a partir de 1947.
Desde então, o mundo já viu mais de 70 milhões de unidades de todas as modificações da arma. Hoje a AK-47 é usada por agências de segurança em mais de 100 países e entrou para a lista das invenções mais proeminentes do século 20.
Kalashnikov, no entanto, defendia a proibição da proliferação descontrolada de armas de pequeno porte e admitia o abastecimento exclusivamente pro meio de agências governamentais. “Ele sempre dizia que não era a arma que matava, mas a pessoa que a disparava”, diz Korotchenko.
Obra-prima das revoluções
O inventor militar Dmítri Litóvkin chama a atenção para a singularidade do invento de Kalashnikov, que, segundo ele, teve papel fundamental na história militar. “É o rifle de assalto perfeito: eficaz, simples em sua construção, de produção barata e que não requer um grande treinamento militar daqueles que o manuseiam”, diz.
Segundo Litóvkin, Kalashnikov trabalhou na criação de uma arma que podia ajudar o país. Isso porque, em meados da década de 1940, o Exército soviético estava armado principalmente com os rifles Mosin, enquanto que o alemão tinha armas automáticas e o poder de fogo da Wehrmacht era superior à do Exército Vermelho.
“Para reduzir as perdas no campo de batalha, era necessário encontrar uma arma perfeita. Kalashnikov criou vários fuzis diferentes”, conta Litóvkin, “e no final chegou à arma que podia ser rapidamente produzida, cuja construção saia barata e que permitia ter superioridade fogo sobre o inimigo”.
O fuzil Kalashnikov pode ser mergulhado na água ou na lama e, mesmo assim, mantém a sua capacidade de disparo. “Até mesmo os soldados americanos no Iraque e no Afeganistão, em caso de necessidade e oportunidade, usavam a Kalashnikov, já que ela é, realmente, mais eficaz do que a M-16”, relata Litóvkin.
O diretor do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias, Ruslan Pukhov, concorda que o fuzil Kalashnikov desempenhou um papel significativo no curso de conflitos armados do século 20 em várias partes do mundo.
“Graças a este fuzil ter sido feito pela União Soviética ocorreram várias revoluções tão depressa e vários movimentos rebeldes foram bem-sucedidos. O fuzil de assalto Kalashnikov podia ser colocado nas mãos de um agricultor no Vietnã que ele imediatamente começava a luta contra os soldados bem treinados”, diz Pukhov. “O conceito de simples e mortal lhe permitiu se tornar mais do que apenas um tipo de arma. Kalashnikov representou uma revolução na arte militar.”
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