Como os aviões “Superjet” foram salvos da inundação

SSJ-100 Foto: wikipedia.org

SSJ-100 Foto: wikipedia.org

Durante a inundação que abalou o Extremo Oriente, as águas ameaçaram a fabricante dos aviões ”Sukhoi Superjet 100”. No entanto, o processo de produção não parou um minuto sequer. Como conseguiram os operários da fábrica proteger o mais ambicioso projeto russo na área da construção de aeronaves?

Nos últimos meses, a atenção de toda a Rússia se concentrou na cidade de Komsomolsk-em-Amur: aqui, no Território de Khabárovski, foi onde as cheias se revestiram de um caráter mais perigoso e ameaçador. Centenas de casas ficaram submersas; os habitantes da cidade, temendo corte nos abastecimentos por águas terem coberto as estradas, esgotaram os produtos alimentares das lojas.

Uma das vias se chama de Komchossé, e leva à Fábrica de Aeronaves “Gagarin” de Komsomolsk-em-Amur, a empresa que fabrica os aviões “Superjet” da última geração. A unidade de produção é a maior da cidade, e os aparelhos são muito promissores.

“Como chegávamos ao trabalho? Como podíamos. A água cobria as rodas dos ônibus. Avançávamos devagar: duas faixas se reduziram a uma, os veículos andavam ora numa direção, ora noutra, enquanto se bombeava a água da estrada”, conta um funcionário da fábrica. Quando só as pontas dos arbustos se viam acima da água, os ônibus tiveram que procurar outras saídas.

Na altura mais crítica da cheia, as águas do rio Amur alcançaram 912 cm e chegaram às paredes da usina. Um metro mais, e a torrente teria ultrapassado todas as linhas de proteção, inundando as instalações.

600 operários passaram a ocupar-se da construção dos diques. 400 militares e maquinaria especial do Ministério da Defesa chegaram de Novossibirsk. O primeiro dique foi levantado a 200 metros da cerca fabril; o segundo, já no próprio terreno da fábrica.

“Os nossos dias de trabalho dividiam-se em duas partes – lembra Vladimir, elétrico da montagem final dos “Superjets”. – De manhã, trabalhávamos quatro horas na montagem; de tarde, outras quatro nos diques de proteção. Esta sequência é a mais acertada, pois após o dique as mãos ficam tremendo, descomandadas, inaptas para o trabalho no sistema eletrônico do avião.” 

A montagem de aeronaves “Sukhoi Superjet 100” (SSJ-100) se efetua num hangar enorme. Aqui se reúnem sete unidades, em diferentes fases da construção, as quias compõem um ciclo cujo funcionamento pode ser comparado a tapete rolante: cada secção cumpre sua tarefa, após a qual o avião passa a outra.Na primeira etapa, a fuselagem se liga ao compartimento traseiro, à empenagem horizontal (leme e respectivos estabilizadores); na segunda, se montam as asas; a seguir – a “barriga” do avião; a quarta secção é responsável pela instalação da rede de cabos; depois, segue a montagem dos blocos no compartimento de aviônica (denominação do miolo eletrônico da aeronave); por fim, são instaladas as turbinas. Na sétima fase, entra a inspeção independente, finda a qual o avião é submetido aos testes e efetua o voo experimental.

“O aparelho passa dez dias em cada secção, o que significa que o ciclo completo da construção leva um pouco mais de dois meses – explica Vladislav Sidorenko, vice-chefe da produção. – Nos meados do ano que vem, planeamos diminuir estes prazos até aos cinco dias, contratando mais pessoal e trabalhando em três turnos.

Este ano, a produção deve atingir os 25 aviões SSJ-100, número que subirá para 45 no próximo ano.

“Em setembro, o ritmo laboral foi afetado pelas cheias, embora não drasticamente, pois já voltámos ao ritmo habitual – realça Sidorenko. - Catorze aviões estão prontos, estamos a trabalhar em mais dez para cumprir o plano até ao final do ano. Conseguimos.”

Nem as cheias, nem os testes fizeram parar a produção, mesmo quando as águas ameaçaram o aeródromo.

“Ainda bem que não tivemos que descolar no meio das águas, embora tenha sido real o perigo de inundação. Nos dias em que não voaram, os pilotos também trabalharam nos diques, pois a fábrica pararia caso fosse inundada a estação elétrica. No entanto, o plano dos voos não chegou a ser alterado”, assegura Serguêi Korostiev, chefe dos pilotos que estão testando os aparelhos, no âmbito do programa SSJ.

“Superjet” não é filho único da Fábrica de Aeronaves de Komsomolsk-em-Amur. Esta é o maior fabricante russo de aeronaves de combate Su-27, Su-30, Su-35, bem como das várias versões das mesmas. Além disso, é aqui que são montados os caças T-50. Enquanto os outros “Sukhoi” são montados e reparados aos olhos de todos, os T-50 se mantém em segredo rigoroso: na oficina, está oculto por uma parede de contraplacado, para evitar olhares de estranhos, sendo proibido de fotografá-lo. Mesmo durante as manobras, só de longe é possível captar imagens deste sofisticado aparelho.

Neste momento, as águas continuam a baixar, embora a situação ainda seja preocupante: as margens do rio Amur estão inundadas. Visto de cima, o rio lembra mais um mar do que um rio, deixando apenas à vista, espetadas, as copas das árvores. Mas tanto a cidade como os “Superjets” estão agora fora de perigo.   

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