Autoridades receiam uso de internet para “intervenção nos assuntos internos dos Estados" Foto: Kommersant
No final de semana passado, Pútin aprovou um documento intitulado “Bases da Política de Estado da Federação da Rússia no domínio da segurança internacional da informação para o período até 2020”, por meio do qual foi definida a política russa no campo da segurança internacional da informação.
Acredita-se que o documento elaborado pelo Conselho de Segurança, com a participação dos principais ministérios, tenha sido concebido, em parte, como resposta ao relatório norte-americano de 2011. Nele, os EUA equipararam pela primeira vez os atos de sabotagem informática com ações militares tradicionais, reservando-se o direito de reagir, inclusive, com o uso de armas nucleares.
No relatório russo estão relacionadas as quatro principais ameaças no campo da segurança da informação internacional. As três primeiras disposições, isto é, a utilização das tecnologias da informação e comunicação (TIC) como arma de informação com fins político-militares, a recorrência às TIC para fins terroristas, e o crime cibernético, incluindo o acesso ilegal e a disseminação de vírus, já estão identificadas nos relatórios da própria ONU.
A maior novidade no novo documento é a quarta ameaça proposta, que reflete uma abordagem puramente russa. Em uma seção especialmente destinada ao uso da internet para “intervenção nos assuntos internos dos Estados", “perturbação da ordem pública” e “discursos de ódio”, as autoridades russas evidenciam sua preocupação com movimentos como a Primavera Árabe, por exemplo, que demonstraram o potencial das redes sociais na organização e coordenação de ações antigovernamentais.
Pútin assinou recentemente um acordo sem precedentes com o presidente norte-americano Barack Obama, com a intenção de travar o aumento de incidentes cibernéticos nos conflitos internacionais. Fontes próximas ao líder russo garantem que a intenção do governo agora é firmar acordos semelhantes com outros países.
Com a ajuda dos seus aliados na Organização de Cooperação de Xangai, na Organização do Tratado de Segurança Coletiva e nos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), Moscou espera emplacar uma convenção da ONU que assegure a segurança internacional da informação, o desenvolvimento de regras de comportamento no ciberespaço, a internacionalização dos sistemas de gerenciamento da internet e o estabelecimento de um regime jurídico internacional para a não proliferação do ciberterrorismo.
De acordo com o especialista do PIR Center, Oleg Demidov, o caráter não confrontacional da estratégia russa se explica por dois motivos. “Primeiro pelo fato de que, apesar dos esforços intensivos para criar a sua própria estrutura de controle, a Rússia está, no plano tecnológico-militar, atrás dos EUA. Em segundo lugar, as autoridades russas não querem responder com força aos problemas no espaço cibernético, diz Demidov.
O especialista duvida, contudo, “até que ponto as metas são realistas e realizáveis”. Em um futuro próximo, o Conselho de Segurança e ministérios envolvidos apresentarão a Pútin propostas concretas para a implementação das disposições do documento.
Publicado originalmente pelo Vzgliad
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