Antiga fábrica de chocolate em Moscou foi transformada em espaço para exposições Foto: Lori / Legion Media
Considerada outrora o berço do proletariado revolucionário russo por possuir a maior fábrica de armas do Império, a cidade de Sestroretsk, nos arredores de São Petersburgo, tem a chance de se tornar o ponto de origem de outra revolução, dessa vez urbanística. Especialistas japoneses do consórcio Smart City Planning e da empresa de arquitetura Nikken Sekkei pretendem construir, em parceria com a empresa desenvolvedora russa Northwest Invest, a primeira cidade inteligente da Rússia: Novi Bereg (Nova Margem, em português).
No final de abril, o presidente da Nikken Sekkei, Mitsuo Nakamura, visitou Moscou com a comitiva do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. “Nossos países são muito parecidos. A maioria dos japoneses estudou a cultura russa na escola. Porém, o maior atrativo da Rússia são seus recursos naturais e setor energético”, disse Nakamura. “O Japão conseguiu resolver muitos dos problemas urbanos enfrentados atualmente pela Rússia e estamos dispostos a dividir nossa experiência”, acrescentou.
A experiência japonesa é especialmente relevante para o projeto Novi Bereg. Nos arredores de São Petersburgo, assim como no Japão, há poucos terrenos disponíveis para construção. Portanto, uma “cidade inteligente” será construída em uma ilha artificial. O projeto segue todos os princípios e requisitos básicos formulados pelos especialistas japoneses.
“Moscou é hoje tão lotada, empoeirada e suja como Tóquio dos anos 1970”, afirmou Nakamura. Naquela época, as autoridades japonesas sugeriram reconstruir um pequeno bairro com edifícios industriais. Depois que o conceito de cidade inteligente se mostrou viável, o governo de Tóquio aprovou, em 1988, uma lei municipal para o desenvolvimento policêntrico da cidade, transferindo as serviços municipais do centro da cidade para os subúrbios. “Tóquio foi reconstruída gradualmente, um bairro após outro”, contou Nakamura.
Por isso, o empresário japonês acredita que a transformação das cidades russas em mini-núcleos permitirá resolver muitos problemas existentes na capital e em outros centros urbanos do país. “A criação de sistemas de informação permitirá unir partes de uma cidade e melhorar a distribuição dos serviços públicos entre as casas. Cada morador da cidade poderá acompanhar seu consumo de energia elétrica, água e outros serviços urbanos”, adiantou Nakamura.
Tecnologia no trânsito
No entanto, o maior problema para os russos continua sendo o engarrafamento. Hoje em dia, não só Moscou, mas muitos centros regionais da Rússia também enfrentam congestionamentos quilométricos. A experiência internacional já demonstrou que a solução é reformar a rede rodoviária e adotar de sistemas eletrônicos de controle do tráfego urbano. Por isso, nos últimos dois anos, o governo moscovita liberou verbas para esse problema que são comparáveis ao orçamento total de uma cidade média russa.
Por iniciativa do prefeito de Moscou, Serguêi Sobiânin, as principais vias da cidade passaram a ter faixas exclusivas para transportes públicos e, no terceiro anel, foram instalados sistemas de controle automático do tráfego. Somado a isso, as ruas da cidade receberam 750 câmeras fotográficas e de vídeo para registrar infrações no trânsito.
Em um futuro próximo, será colocado em operação um sistema eletrônico de controle do tráfego que já funciona em grandes cidades da Europa e Ásia. Cerca de 8 mil ônibus e trólebus serão equipados com o sistema de localização por satélite Glonass, o que permitirá criar um centro de controle único e reunir informações sobre a circulação do transporte público em Moscou.
Mesmo assim, Nakamura não se mostrou impressionado com as inovações propostas. "Como mostra a experiência japonesa, nenhum sistema automatizado poderia ter resolvido sozinho os problemas de Tóquio. Era necessário também construir ligações entre as estradas em diferentes níveis e vias expressas, bem como transferir estabelecimentos administrativos e escritórios das empresas para os subúrbios”, disse. O processo de construção de novas vias em Tóquio levou mais de 20 anos, segundo o especialista japonês.
Publicado originalmente pelo Kommersant
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