"Tivemos de repensar e refazer todo o projeto da nova nave espacial", diz o projetista-chefe da Corporação Enérguia

Vice-Primeiro-Ministro russo Dmítri Rogózin (segundo à esquerda) visitando as instalações de produção de foguetes de espaço Corporação Energia. Foto: RIA Nóvosti

Vice-Primeiro-Ministro russo Dmítri Rogózin (segundo à esquerda) visitando as instalações de produção de foguetes de espaço Corporação Energia. Foto: RIA Nóvosti

O projetista-chefe de espaçonaves tripuladas da Corporação de Foguetes Espaciais Enérguia, Nikolai Briukhanov, falou ao jornal “Izvéstia” sobre o projeto de construção de uma nova espaçonave interplanetária.

Em reunião prevista para o dia 1º de fevereiro, o conselho científico e tecnológico da Agência Espacial Russa (Roskosmos) irá examinar um projeto de espaçonave tripulada destinada a substituir, em sete a oito anos, as atuais naves Soiuz.

O caminho percorrido pelo projeto foi longo e difícil. Concebido como cargueiro para missões em órbita circunterrestre, o projeto foi revisto de acordo com as novas indicações da liderança do país para virar uma espaçonave interplanetária para voos tripulados à Lua.

Em entrevista ao jornal “Izvéstia”, o projetista-chefe de espaçonaves tripuladas da Corporação de Foguetes Espaciais Enérguia, Nikolai Briukhanov, falou sobre o projeto.

Izvéstia: Quais alterações foram feitas ao projeto depois de a liderança do país ter ordenado preparar uma missão tripulada à Lua?

Nikolai Briukhanov: A indicação de alterar os parâmetros tecnológicos do projeto foi dada em abril do ano passado. Insignificantes à primeira vista, as alterações introduzidas nos obrigaram a refazer tudo o que fizemos no âmbito do projeto de espaçonave desenvolvido desde 2010.

Em primeiro lugar, aumentou a velocidade da reentrada na atmosfera dos anteriores 8 km/s para 11 km/s. Por isso, tivemos de recalcular todos os parâmetros decorrentes desse fator. A diferença é enorme: a nova espaçonave terá duas vezes mais energia cinética do que um veículo que retorna de uma missão em órbita circunterrestre. Além disso, como toda essa energia acumulada é convertida em calor, a nova espaçonave deve possuir um escudo térmico mais resistente.

Porém, o problema era que, após o encerramento do projeto Buran, o país não teve nenhuma pesquisa no campo do isolamento térmico de naves espaciais nos últimos 20 anos. Portanto, tivemos de realizar por conta própria pesquisas científicas nessa área e percorrer em um curto espaço de tempo o caminho que outros países percorriam em décadas

Realizamos experiências e obtivemos resultados positivos. O segundo problema mais complicado estava no plano balístico. No caso da Lua, era um desafio muito complicado

A Rússia está longe do equador, o que é ruim do ponto de vista do lançamento de cargas espaciais e ainda pior do ponto de vista do retorno de uma missão à Lua. Para que a cápsula de retorno possa pousar em campos de pouso na Rússia, serão necessários grandes esforços energéticos.

Izvéstia: Onde serão organizados campos de pouso?

N.B.: No sul do país. O retorno de uma missão à Lua é efetuado através do Pólo Sul. Portanto, quanto mais acima do equador um campo de pouso estiver, mais difícil será o retorno. Ao mesmo tempo, é preciso prever as mais diversas situações de emergência, como, por exemplo, o cancelamento da missão por motivos de saúde.

Em outros palavras, é preciso aprender a realizar retornos a qualquer momento e não só durante as janelas de retorno, que são muito raras. Por isso, o propulsor de uma espaçonave deve ser capaz de produzir a qualquer momento um impulso suficiente para permitir o retorno à Terra. Enquanto para os veículos em órbita circunterrestre esse impulso é de centenas de metros por segundo, para um veículo em missão lunar esses valores são muito maiores.

Para resolver esse problema, alargamos um pouco o compartimento de motor porque a nave precisa levar a bordo cerca de oito toneladas de combustível. No mais, o conceito ficou o mesmo: uma cápsula de retorno reutilizável aterrissando sobre os amortecedores, ou seja, sem dar cambalhotas, como no caso dos veículos Soizuz.

Izvéstia: O projeto leva em conta a necessidade de realizar missões a regiões prioritárias da Lua em termos de pesquisa científica?

N.B.: Fixamos o objetivo de resolver o problema mais difícil, o dos voos
à orbita polar da Lua. Partimos da tese de que, se conseguíssemos atingir a órbita polar, poderíamos pousar em qualquer lugar da Lua.

Cientes de que as regiões polares da Lua são de maior interesse para os cientistas, tentamos definir uma trajetória universal que servisse para a execução de diversas missões.

Izvéstia: O equipamento projetado para a espaçonave anterior também sofreu alterações?

N.B: Alteramos alguns parâmetros, sobretudo os sistemas de rádio, porque a distância é grande. O sistema de suporte de vida também deve ser diferente e utilizar princípios diferentes, porque uma coisa é voar em direção a uma estação orbital quando o voo dura dois dias, no máximo, e outra coisa é voar em direção à Lua.

Nesse caso, o sistema de suporte de vida deve ser mais confiável porque o retorno da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) pode ser efetuado a qualquer momento, enquanto um voo a partir da Lua leva três dias e meio.

Também tivemos de repensar os sistemas de controle de temperatura, alimentação elétrica e outros. Em uma palavra, tivemos de repensar e refazer quase tudo o que foi feito em 2011 e no início de 2012.

Izvéstia: Quando idealmente a nova espaçonave estará pronta para testes de voo?

N.B.: Não sei dizer. Segundo o esquema adotado, os trabalhos são realizados por etapas. Agora começa a fase mais dispendiosa: assim que a documentação técnica do projeto ficar pronta, começaremos a construir instalações e veículos experimentais para ser lançados por aviões e foguetes com vista à realização de testes de sistemas de resgate e outros.

A intenção é construir uma nave para voos não tripulados até pelo menos 2018.

 

Para a versão completa da entrevista em russo, acesse: http://izvestia.ru/news/543178#ixzz2Inz3ijLG

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