Em 1886, Korolienko publicou o seu primeiro livro: Ensaios e contos Foto: wikipedia.org
Em 7 de outubro de 1888, concederam a Anton Tchekhov (1860-1904) o prêmio Púchkin de literatura. Dois dias depois, ele escrevia ao amigo Dmítri Grigorovitch: “Há jovens escritores melhores e mais necessários do que eu, por exemplo, Korolienko”. Pois vejamos de quem Tchekhov estava falando.
O escritor e jornalista Vladímir Galaktiónovitch Korolienko nasceu em 1853, na cidade de Jitomir, na Ucrânia. Em 1871 ingressou no Instituto Tecnológico de São Petersburgo, mas, por motivos financeiros, foi obrigado a abandonar os estudos.
Em 1874 mudou-se para Moscou e ingressou na Academia de Agronomia, de onde foi expulso em 1876 por participação em círculos estudantis revolucionários. Inicialmente condenado ao degredo na Sibéria, teve a pena reduzida para liberdade vigiada em Kronchtadt, no noroeste do país.
Em 1877 entrou para o Instituto de Engenharia de Minas. Dois anos depois, publicou a sua primeira novela. Por denúncia de um agente da polícia tsarista, passou seis anos em prisões e campos de trabalhos forçados.
Em 1885 obteve autorização para residir em Níjni-Nôvgorod, às margens do rio Volga, onde morou durante dez anos. Este foi o período mais fecundo de sua literatura, resultando em reconhecimento do público e da crítica. Em Níjni-Nôvgorod, Korolienko casou-se com Evdokia Semiónovna Ivanóvskaia. Foi nesta cidade também que ele conheceu Maksim Górki (1868-1936).
Em 1886, Korolienko publicou o seu primeiro livro: Ensaios e contos. Em 1895 mudou-se para Petersburgo, de onde saiu definitivamente em 1900, por causa de problemas de saúde, para residir em Poltava (cidade natal de Nikolai Gógol). O escritor faleceu em 1921, de pneumonia.
Para completar esta breve cronologia da vida de Vladímir Korolienko, nada melhor do que a tradução de um de seus contos feita especialmente para esta postagem.
Luzes
Certa vez, há muito tempo, numa escura noite de outono, aconteceu-me estar navegando por um tenebroso rio da Sibéria. De repente, numa curva do rio, ao longe, no sopé de montanhas escuras, cintilou uma luzinha.
Cintilou clara, fortemente, bem perto...
– Ah, graças a Deus! – disse eu, contente. – Um pouso logo ali.
O remador virou-se, olhou a luz sobre o ombro e voltou a remar apaticamente.
– Longe, longe!
Eu não acreditei: a luzinha estava bem ali, mostrando-se no meio da treva cerrada. Mas o remador tinha razão: afinal, ela realmente estava longe.
São assim as luzes noturnas – aproximam-se, vencendo a escuridão, cintilam, prometem, atraem com sua proximidade. Fazem parecer que daí a pouco, daí duas ou três batidas de remo: fim da jornada... Entretanto, estão longe!
Nós navegamos ainda muito tempo pelo rio negro como carvão. Desfiladeiros e penhascos passavam por nós, surgiam e desapareciam, perdiam-se lá atrás, na vastidão interminável, enquanto a luzinha continuava ali, à frente, reverberando e atraindo – tão próxima e ao mesmo tempo tão distante...
Agora, com freqüência, vêm à minha lembrança aquele rio negro, coberto pela sombra das montanhas escarpadas, e também aquela luzinha. Muitas luzes, antes e depois, atraíram-me mais de uma vez com sua proximidade. Mas a vida continua correndo entre as mesmas margens sombrias, enquanto as luzes permanecem longínquas. E mais uma vez é preciso remar...
Mas ainda assim... ainda assim... há luzes à frente!
1900
Sugestões de leitura
Contos de Korolienko
“O sonho de Makar” (tradução de Denise Sales), em Nova antologia do conto russo (1792-1998). Org. Bruno B. Gomide. Editora 34.
“Uma rapariga estranha” (tradução de Aurélio Buarque de Holanda), em O livro de ouro dos contos russos. Org. Rubem Braga. Ediouro.
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