Foto: ITAR-TASS
Em seminário recente aqui em Moscou, um entrevistador perguntou a empreendedores como eles viam seus negócios em cinco anos. É interessante fazer previsão, mas nossa tendência é a extrapolação linear, projetar o presente no futuro, sem saltos ou tombos exponenciais e sem rupturas. E não poderia ser diferente, já que o mundo contemporâneo é um sistema complexo demais para caber num modelo, qualquer que seja. Quem poderia prever o fim da União Soviética, o iPhone, a crise de 2008? Ao mesmo tempo, as previsões são necessárias para a tomada de decisões.
Então, o que fazer? Os empreendedores iam respondendo hesitantes, por intuitivamente saberem que suas previsões não têm base e que, no final das contas, o mais importante é criar modelos de negócios adaptáveis à mudança. Isso significa, por exemplo, criar marcas que possam se adequar a produtos e serviços que ainda não foram inventados; incorporar na cultura da empresa uma atitude de inovação permanente com base no princípio de buscar sempre fazer mais ou melhor com menos, ou a mesma coisa de maneira diferente; enfim, procurar possíveis concorrentes além dos limites da indústria em que se está inserido.
Isto, claro, funciona num ambiente competitivo. Na prática, há segmentos, não só no Brasil, em que impera monopólio ou oligopólio, daí não haver muita (ou nenhuma) necessidade de inovação, já que a concorrência inexiste. Há também setores em que o diferencial competitivo não é fazer melhor ou ter menores custos, e sim ter acesso a um financiamento oficial subsidiado ou generoso contrato público. Daí os melhores recursos das empresas desses setores não irem para inovação, mas para lobby.
Em outras palavras, é improdutivo gastar dinheiro público com inovação quando os incentivos concorrenciais predominantes na economia apontam para o lobby. Improdutivo mas não completamente inútil, já que há sempre empreendedores que nadam contra a corrente e buscam a inovação a qualquer preço, mas estes tendem a ser exceção. Daí não ser surpresa que recente estudo do Banco Mundial sobre empreendedores na América Latina tenha concluído ser muito baixo o grau de inovação nas empresas da região de todos os tamanhos e tipos. Claro que as causas disso são múltiplas e justamente objeto do referido estudo.
Então, para responder onde estará o Brasil daqui a cinco anos, melhor olhar para fora, pois a maioria das inovações serão importadas, e teremos de nos adaptar a elas. Portanto, quanto mais abertos formos na economia e flexíveis na regulação, mais rapidamente nos adaptaremos. Mesmo sendo a nona ou oitava economia do mundo, em matéria de inovação somos periferia. Nesse quesito, o resultado das eleições presidenciais de 2014 será irrelevante, ao menos levando em conta os prováveis candidatos hoje.
Sobre o Brasil daqui a cinco anos, eu diria ainda. Inovação e produtividade andam de mãos dadas, e sem aumento da produtividade não há aumento sustentado do padrão de vida da população. Outro grande desafio será aumentar a produtividade da economia (tanto a produtividade do capital, quanto a do trabalho), o que envolve recuo da intervenção do Estado nas decisões de investimento e consumo, redução das despesas fiscais, da carga tributária e da burocracia para se desenvolver novos negócios, além de ênfase crescente em educação e treinamento.
Daqui de Moscou, num país com alguns problemas semelhantes aos do Brasil, eis como enxergo o Brasil de amanhã: não mediante um ou mais cenários, mas como uma sociedade diante de dois desafios básicos: adaptação às transformações por que passa o mundo contemporâneo e busca da produtividade perdida.
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