Foi engraçado quando os meninos e meninas me perguntaram: “Cadê o seu filhinho? Você está aqui para ver a performance dele?” Foto: arquivo pessoal
Em agosto passado, quando estava na Ucrânia, visitei uma pequena vila perto de Odessa chamada Novaya Yemetovka. Lá, tive a chance única de assistir a uma simulação da Segunda Guerra Mundial. Sim, é verdade! Aparentemente, esse tipo de atividade é bem comum na Rússia e na Ucrânia. É como se fosse uma aula de história ao vivo com os atores vestidos de acordo com a época, equipamento e espectadores.
Em sua maioria, os participantes são crianças e adolescentes que já ouviram muitas histórias de guerra dos seus avôs e pais e que têm curiosidade em vivenciar o cotidiano de 1945.
Alguns dos adolescentes que eu conheci eram órfãos. A comunidade religiosa da Igreja Ortodoxa Russa os acolheu e agora se responsabiliza pela criação e educação deles.
Foto: arquivo pessoal
As crianças que têm pais e moram nas vilas próximas também participaram do evento. Suas famílias sabem que a vida em uma cidadezinha ucraniana se limita, na maioria das vezes, a álcool e drogas, por isso, querem que os filhos tenham outros interesses e acesso a um pouquinho de história e cultura.
Foi engraçado quando os meninos e meninas me perguntaram: “Cadê o seu filhinho? Você está aqui para ver a performance dele?”. Depois que eu expliquei que estava no evento apenas por interesse e que não tinha filhos, as crianças grudaram em mim querendo brincar e conversar. Senti uma carência enorme não só dos órfãos, mas também das crianças que têm pais. Como na Ucrânia ter filho normalmente não envolve planejamento nenhum, quase ninguém tem condições materiais para sustentar uma criança, e muito menos tem uma cabeça suficientemente madura para criá-la.
As pessoas decidem ter filhos por causa da pressão da sociedade ainda tão tradicional e rígida. Aí, os pequenos crescem sem o amor e sem o carinho tão essencial na infância (e na vida em geral). Crescem como as flores do campo: descuidados, mas muito lindos. Passei horas correndo atrás deles, para surpresa dos pais que estava ali, dos responsáveis da comunidade e talvez para surpresa das próprias crianças. A tia estranha realmente dava bola para elas!
Foto: arquivo pessoal
Nesse mesmo dia conheci Rostik, um menino fofo e muito solitário. Ele tinha a mãe e o pai, mas parece que nenhum dos dois adultos se importava com a sua existência. Com o rosto todo sujo, ele andava de lá pra cá usando um casaco enorme, que provavelmente pegou de alguém mais velho, e com tabuleiro de gamão nas mãozinhas com unhas pretas. Pelo que eu percebi, ele gostou da brincadeirinha de ser fotografado e até falou que se sentiu importante. Depois, nos sentamos juntos no chão e jogamos gamão. Detalhe: nenhum de nós sabia jogar de verdade, mas isso não atrapalhou a nossa diversão.
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