Denis Okhótnikov e “Mestre Leão” lutam em roda da escola “Só Força”, de Moscou
Kristina Kis @ZapomniteA partir dos anos 1970, capoeiristas brasileiros começaram a sair mundo afora para divulgar sua arte, que hoje já está difundida em, pelo menos, 150 países. A Rússia, claro, não ficou de fora, e hoje a capoeira é uma das maiores propagadoras da língua e da cultura brasileira no país.
Apesar das dificuldades encontradas pela Embaixada do Brasil em Moscou para precisar o número de escolas do esporte no país, o número de praticantes ultrapassa os 50 mil, de acordo com seu adido cultural e de imprensa, Igor Germano.
“Em 2011, segundo informação do representante da ‘Federação Russa de Capoeira’, os maiores grupos de capoeiristas no país encontravam-se, além da capital, nas cidades de São Petersburgo, Anapa, Sôtchi, Volgogrado, Omsk, Tiumen e Barnaul”, disse Germano à Gazeta Russa.
Hoje, para além das visitas e intercâmbios de capoeiristas brasileiros, que foram facilitadas com a queda do regime de vistos de turismo entre os países a partir de 2010, quem lidera a maior parte dessas escolas são os próprios russos.
Maria “Onça Branca” Cherstneva, 34, uma das fundadoras da escola “Sabotage Capoeira”, criada em 2007, em Moscou, incentiva seus alunos a se aprofundar na filosofia do esporte e aprender o português e a cultura do Brasil.
Especialista em tecnologia da informação e design gráfico, “Onça Branca” ainda pratica surfe e mergulho, mas isso não lhe impede de se dedicar com afinco ao estudo do português brasileiro.
“Ainda não falo tão bem a língua, mas o mestre já se acostumou com meu sotaque. Além disso, já consigo conjugar bem os verbos, não fico só no infinitivo”, conta.
Já o fundador da Federação Russa de Capoeira, Roman Belov “Mestre Leão”, domina a língua e se dedica integralmente ao esporte.
Em 2002, a federação empreendeu esforços para que a capoeira fosse reconhecida oficialmente pelo Ministério dos Esportes russo. Com o credenciamento concedido, hoje os capoeiristas do país podem receber título oficial de “mestre” sem sair da Rússia.
Alunos da escola “Sabotage Capoeira”, fundada pela designer Maria “Onça Branca” Foto: Foto do arquivo pessoal
“Nós, russos, parecemos muito com os brasileiros. Se tivéssemos um clima quente o ano todo, certamente seríamos irmãos. Gostamos de brincar em público e chamar a atenção através da beleza do esporte, o que nos aproxima muito dos brasileiros”, afirma “Mestre Leão”.
Estilo de vida
Até encontrar seu caminho como treinador de capoeira na federação, o moscovita Denis Okhótnikov, 29, tocava trompete e estudava engenharia.
“Não terminei a universidade porque escolhi a engenharia sem pensar, mas as artes marciais e a capoeira me ajudaram a colocar a cabeça no lugar”, diz.
Em 2013, Okhótnikov conquistou segundo lugar no Campeonato Mundial de Capoeira em Baku, no Azerbaijão.
Na Rússia, até os capoeiristas mirins mostram sua ginga. A escola “Abadá-Capoeira”, em Tcheliabinsk, tem um grupo para crianças a partir dos 3 anos.
“As mães incentivam os filhos na luta. A capoeira é o esporte ideal para as crianças gastarem a energia em excesso”, diz o treinador Serguêi Lvov “Gato”.
“Gato” já não consegue conceber a vida fora da cultura da capoeira. “Como muitos na Rússia, me interessei depois que vi o filme ‘Esporte Sangrento’ (Only the Strong, 1993). Comecei só por curiosidade, mas depois fui arrebatado pela capoeira e por tudo que se relaciona a ela”, diz.
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