Filme silencioso do expressionismo alemão, “Raskôlnikov” (Robert Wiene, 1923), está no programa do festival.
DivulgaçãoKatsnelson, Maksimishin, Pletnev, Shchedrin, Prokofiev, Stravinsky, Tolstói, Dostoiévski. Entre os dias 10 e 20 de setembro, várias gerações de russos estão convocadas para uma estadia em Tiradentes, cidade histórica de Minas Gerais, onde acontece a 4ª. edição do Festival Artes Vertentes.
O evento reúne, além dos nacionais, representantes de 11 países: Rússia, Argentina, México, Eslovênia, Lituânia, Portugal, Espanha, França, Alemanha, Israel e Nigéria.
Serão 55 personalidades, entre escritores, músicos, artistas e intelectuais em geral, protagonizando 45 atrações, grande parte gratuita, nas áreas de dança, música, literatura, cinema, teatro e artes visuais, todas tendo como mote o livro “Crime e Castigo”, de Dostoiévski.
"O tema foi pensado há dois anos e escolhido porque pode ser tratado em diversas linguagens artísticas e permite uma discussão sobre ética e moral, temas bem atuais na sociedade contemporânea", disse à Gazeta Russa o curador e diretor artístico do festival, Luiz Gustavo Carvalho.
Além dos eventos em Tiradentes, as cidades de São Paulo, Recife e Igarassu (região metropolitana do Recife) receberão atrações isoladas.
Ruínas soviéticas
Entre os convidados russos do festival, estão o fotojornalista Serguêi Maksimishin, vencedor em duas edições do World Press Photo, e o pianista Jacob Katsnelson, professor do Conservatório Tchaikovsky e do Instituto Gnessin, ambos em Moscou.
Maksimishin, que gosta de retratar a vida cotidiana e a decadência de cidades e povos, começou a apurar seu olhar no exército russo, onde era fotógrafo. Mais tarde, clicou para os maiores veículos jornalísticos do mundo.
O fotógrafo nunca expôs na América Latina e trará para sua estreia a mostra “O Último Império”, que já rodou vários países. As imagens revelam, por um período de 20 anos, os vestígios do esfacelamento da União Soviética.
Vencedor de dois World Press Foto, Serguêi Maksimishin retrata o cotidiano de diversos povos. Foto: Divulgação
“São 50 fotos coloridas, que retratam os destroços positivos e negativos do império soviético. É um trabalho extremamente aguçado, que remete à fotografia documental russa, de grande tradição, mas com um olhar extremamente contemporâneo, no que se refere ao enquadramento e à estética que ele usa para a abordagem desses sujeitos”, explica Carvalho.
Já o pianista russo Jacob Katsnelson, que também estará pela primeira vez no Brasil, vai se apresentar como camerista e solista, e executará obras de Prokofiev, Pletnev, Shchedrin, entre outros.
"Katsnelson é um dos pianistas mais interessantes de sua geração, e executará um programa difícil de se ver no país", diz o curador.
Dança, teatro e música
Na área da dança, o destaque é a “História do Soldado”, de Igor Stravinsky e Charles-Ferdinand.Ramuz. A coreografia, dirigida por Fabio Mazzoni e Gustavo Lanfranchi, tem a participação do ator Alvise Camozzi e da coreógrafa Jacqueline Gimenes, ex-bailarina do Grupo Corpo.
Inspirado em um conto popular russo, o espetáculo é uma mistura de dança, teatro e música, com uma dramaturgia enxuta.
“História do Soldado” foi escrita logo após a Primeira Guerra Mundial, há quase 100 anos.
“Stravinsky compôs essa peça numa época de extrema pobreza, ciente de que nenhum teatro poderia montar grandes produções”, diz Carvalho.
A apresentação, que conta a história de um soldado seduzido pelo diabo, foi uma encomenda especial da organização do festival.
O curador destaca que será “um verdadeiro encontro com o desconhecido”, porque ninguém, nem mesmo a organização, sabe o que acontecerá no palco.
Personagens de Tolstói e Dostoiévski
Duas atrações do festival se inspiram em personagens literários russos, que são levados para o palco e para a tela.
Na programação de teatro, está prevista a apresentação da peça “Sonata Kreutzer – uma História para o Século 19”, de André Capuano e Ernani Sanchez.
A montagem é inspirada na história de Pózdnichev, protagonista de um crime passional na obra de Lev Tolstói “Sonata a Kreutzer”.
A obra foi batizada por Tolstói a partir da composição homônima de Beethoven, que integra a trilha sonora da peça.
Entre as atrações cinematográficas do festival está “Raskôlnikov”, filme silencioso do expressionismo alemão, de 1923, dirigido por Robert Wiene, mesmo diretor do conceituado “O Gabinete do Dr. Caligari”.
O título da película é uma referência ao protagonista de “Crime e Castigo”, de Dostoiévski.
“'Raskôlnikov’ tem uma ligação direta com o tema deste ano, e é o primeiro filme feito sobre a obra de Dostoiévski. Com trilha eletrônica executada pelo DJ Paulo Beto, pretendemos estabelecer um diálogo entre a música e o cinema”, afirma a curadora de cinema e diretora executiva do festival, Maria Vragova.
Já a seção de literatura do festival contará com a presença do poeta, novelista, dramaturgo e ensaísta esloveno Drago Jancar e da poeta portuguesa Matilde Campilho.
Ele fará o lançamento de “Desejo Debochado”, seu primeiro livro traduzido para o português, enquanto Campilho, musa da Flip 2015, volta ao Brasil para uma sessão de leitura de suas poesias no festival mineiro.
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