Ilustração: Serguêi Iólkin
O recente encontro entre o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Grigori Karasin, e o representante especial do premiê georgiano para as relações com a Rússia, Zurab Abachidze, em Genebra foi o primeiro contato oficial entre os dois países nos últimos quatro anos.
O tema do encontro foi a agenda bilateral –as questões relacionadas com a Abkházia e a Ossétia do Sul não foram abordadas.
Os obstáculos a um diálogo construtivo entre os dois países são muitos e decorrem, inclusive, da guerra de agosto de 2008, quando a Rússia reconheceu a independência da Abkházia e da Ossétia do Sul e a Geórgia retaliou rompendo as relações diplomáticas com Moscou e reconhecendo legalmente suas ex-repúblicas autônomas como territórios ocupados.
A Rússia quer que a Geórgia anule a lei "da ocupação", reconheça a Ossétia do Sul e a Abkházia como partes do conflito e deixe de praticar a política de não-reconhecimento dessas repúblicas. Também gostaria que Tbilissi suspendesse o apoio aos refugiados georgianos na ONU e em outros organismos internacionais.
Em outras palavras, Moscou espera da Geórgia passos concretos que comprovem que a guerra contra a Rússia acabou.
A Geórgia, no entanto, está lutando em todos os fóruns internacionais para impedir a Rússia de fixar a independência da Abkházia e da Ossétia do Sul.
Além disso, a Rússia insiste em que a Geórgia suspenda o processo de integração à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e à União Europeia. Acredito que, nessa questão, um acordo entre os dois países será impossível.
A hipótese mais provável é que a Geórgia aceite diminuir a retórica antirrussa, volte a transmitir a TV russa no país, liberte os cidadãos russos presos, inclusive os suspeitos de ações de espionagem, e restabeleça ligações aéreas regulares com a Rússia.
Já Moscou poderia aceitar anular ou, pelo menos, simplificar o regime de vistos para os cidadãos da Geórgia, se comprometer a não empregar força militar contra o país, suspender os procedimentos de reconhecimento da Abkházia e da Ossétia do Sul e restabelecer as relações comerciais e econômicas com o país.
Com vontade política, alguns outros problemas também podem ser resolvidos. A OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) e a ONU, por exemplo, não têm missões na Geórgia porque a Rússia usou seu poder de veto. A Geórgia poderia negociar com Moscou a reabertura das missões desses organismos internacionais em seu território, assim como o acesso à rodovia transcaucasiana Transcam.
Sem acordo
Porém, surge a pergunta: é possível fazer isso em um momento em que não há acordo sobre o status da Abkházia e da Ossétia do Sul?
Na minha opinião, o diálogo pode acontecer de qualquer maneira. Enquanto as questões fundamentais da disputa territorial estão pendentes, a Geórgia pode iniciar conversas com a Rússia, bem como com a Abkházia e a Ossétia do Sul, e tomar medidas concretas para melhorar as relações bilaterais.
Isso pode acontecer se a Rússia e a Geórgia reconhecerem que não podem chegar a um acordo sobre o status dos territórios e pararem de impor uma à outra as questões relacionadas ao esse assunto.
Ao reconhecer isso, os dois países poderiam declarar que a questão não deve afetar as relações entre as duas nações. Essa atitude deve constituir um ponto de partida para o desenvolvimento das relações entre as novas autoridades da Geórgia e o governo russo.
O mais importante, no entanto, é que os dois países façam uma análise correta e realista dos erros cometidos, abdiquem da prática de acusações mútuas e estabeleçam um diálogo construtivo, que, naturalmente, será apoiado não só pelos parceiros ocidentais da Geórgia e os aliados da Rússia, mas também pelos povos dos dois países.
Ígor Gvritishvili, cientista político e membro da presidência do movimento social russo "Para o bem da Geórgia"
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