Maior banco da Rússia e Yandex Dêngui assinaram um acordo de colaboração. Na foto (de esq. a dir.): Presidente do Sberbank, Guêrman Gref, diretora do Yandex Dêngui Evguênia Zavalíchina e CEO de Yandex Arkadi Voloj. Foto: ITAR-TASS
Na noite de 19 de dezembro, anunciou-se a compra de 75% menos uma ação do Yandex Dêngui, um dos maiores sistemas de pagamento eletrônico da Rússia, pelo banco estatal Sberbank.
O Yandex, controlador do Yandex Dêngui e de um dos maiores motores de busca do país - que no ano passado realizou seu IPO (oferta pública inicial de ações) na Nasdaq – ficará com 25% de participação menos uma ação. A nova companhia resultante do acordo terá no conselho de diretores três representantes do Sberbank e dois do Yandex.
A transação causou polêmica no mercado. Apesar de o presidente do Sberbank, Guêrman Gref, conduzir uma política de modernização, o maior banco da Rússia não consegue se livrar da reputação soviética demasiadamente burocratizada.
Além disso, o Yandex é visto como exemplo bem-sucedido da iniciativa privada na Rússia, capaz de competir em condições de igualdade com gigantes globais como o Google.
"Se o Yandex Dêngui tivesse sido comprado por alguém que provasse poder lidar com ativos como esse, todo o mundo teria acolhido a notícia de forma diferente e estaria discutindo agora os detalhes do novo serviço", diz Vladislav Solodki, presidente do fundo de capital de risco “Ambiente para a Vida”.
Modelo
Utilizando o modelo de negócios do Yandex, a nova parceria se tornará o principal player do mercado.
"Se o Sberbank injetar grandes investimentos no Yandex Dêngui e não intervier em suas atividades, o mercado bancário ganhará um concorrente muito sério e perigoso não apenas nos serviços de pagamentos eletrônicos, mas também para os bancos tradicionais", afirma o diretor do Promsviazbank, Algirdas Chakmanas.
"Caso o Sberbank tente intervir nas atividades do Yandex Dêngui para integrá-lo a sua estrutura bancária, o mercado poderá ficar tranquilo. Essa tentativa dificilmente produzirá algo viável", completa.
Os protagonistas da nova parceria explicam que o Sberbank não irá interferir na gestão operacional do Yandex Dêngui, e que a empresa manterá até mesmo a diretoria anterior ao acordo.
"O conselho de diretores só irá se reunir para aprovar orçamentos e solucionar questões de importância estratégica", disse à Gazeta Russa Evguênia Zavalíchina, diretora do Yandex Dêngui e presidente do conselho de diretores da empresa unificada.
Além disso, ela acredita que a transação foi mais um passo na política de modernização do serviço, e que o trabalho conjunto deve ter um efeito positivo na reputação do Yandex.
Já o vice-presidente do Sberbank, Denis Bugrov, afirma que as duas empresas são muito semelhantes em termos de visão e gestão de negócios. "Não temos aqui um conflito de culturas", disse à Gazeta Russa.
Entre os planos declarados pelo Sberbank e Yandex está adotar um sistema eletrônico para pagamentos pequenos, principalmente de contas de gás, luz, água e telefone, entre outros, para desafogar as agências bancárias do banco estatal.
A medida também permitirá que o Yandex Dêngui amplie sua base de clientes. Para Evguênia Zavalíchina a experiência do Sberbank com milhões de clientes, muitos dos quais ainda não familiarizados com a internet, será importante para o serviço.
"O Yandex possui dezenas de milhões de usuários de Internet e uma rica experiência de desenvolver serviços de massa. Juntos poderíamos criar produtos únicos para todos", afirma Zavalíshina.
O que é o Yandex Dêngui?
O sistema de pagamento eletrônico Yandex Dêngui foi lançado em 2002 como uma parceria entre o Yandex e a empresa PayCash, comprada em 2007 pelo Yandex.
Por meio de uma conta eletrônica, o usuário do sistema pode pagar suas contas de telefone celular, internet, Skype, jogos, gás, luz, telefone, comprar ingressos para shows, passagens aéreas ou de trem etc., assim como transferir dinheiro para uma conta bancária e para usuários de outros sistemas de pagamento.
O limite de valor da operação para um usuário anônimo é de 15 mil rublos (cerca de R$ 1.000) e 100 mil rublos (cerca de R$ 6.700) para usuários identificados. O número de operações é ilimitado.
Segundo o fundador e diretor-geral do Yandex, Arkádi Voloj, o sistema de pagamentos Yandex Dêngui foi concebido para que anunciantes pagassem ao Yandex pelos serviços prestados via transferência eletrônica.
Hoje, o Yandex possui 12 milhões de usuários, a maioria dos quais não é anunciante. De acordo com dados de fevereiro de 2012 fornecidos pela empresa de pesquisas de mercado TNS, o Yandex Dêngui possui o maior percentual de usuários de dinheiro eletrônico do país, 54%.
Em 2011, a receita do Yandex Dêngui, exceto em US GAAP, foi de 383 milhões de rublos (cerca de R$ 25,8 milhões), alcançando 374 milhões de rublos (cerca de R$ 25,2 milhões) nos nove primeiros meses de 2012.
Por que as ações foram vendidas?
Já em 2011, o diretor-geral do Yandex, Arkádi Voloj, declarou que uma fatia majoritária do Yandex Dêngui poderia ser vendida após a entrada em vigor da lei "Do sistema de pagamento nacional", em 29 de setembro de 2012.
A lei revolucionou o mercado de pagamentos eletrônicos, até então não regulados por nenhum órgão. Eles foram oficialmente reconhecidos como uma das formas de pagamentos sem utilização de papel-moeda e as empresas do setor passaram a ser regulamentadas pelo Banco Central.
A lei obrigou todos os sistemas de dinheiro eletrônico a assumir, a partir de 2013, a condição de banco ou de instituição de crédito não bancária.
Desde que entraram em vigor as mudanças, instituições de crédito devem cumprir as normas de liquidez e de capital mínimo estabelecidas pelo Banco Central (18 milhões de rublos ou cerca de R$1,2 milhão para as instituições de pagamento não bancárias e 300 milhões de rublos ou R$ 20,2 milhões para os bancos).
Os proprietários dos sistemas de pagamento eletrônico tiveram que investir recursos enormes para adaptar seus negócios às normas.
"Também tínhamos receio de que o Banco Central nos obrigasse a relatar diariamente as operações de pagamento efetuadas em nossos sistemas", explica o diretor-geral da rede de notícias econômicas RBC, Sergêi Lavrúkhin.
Assim, quem tinha nos pagamentos eletrônicos um negócio secundário livrou-se desses ativos. Lavrúkhin lembra-se que, no terceiro trimestre de 2012, a holding RBC vendeu seu projeto RBC-Money a um acionista minoritário, Andrêi Morozov.
O Yandex Dêngui rendia ao Yandex menos de 2% da receita, de acordo com Voloj. Segundo ele, o Yandex desenvolveu o sistema de pagamento, atraiu clientes e elaborou uma interface amigável, mas não quis se dedicar a ele. Portanto, apesar de o Yandex Dêngui ter recebido neste ano o status de instituição de crédito não bancária, a empresa controladora decidiu vendê-lo.
Por que compraram o serviço?
Com a compra do Yandex Dêngui, o Sberbank obtém acesso a uma ferramenta mais prática e mais avançada para o usuário. Essa deverá ser mais comum no futuro que os cartões de crédito e contas bancárias, segundo o presidente da Associação Nacional de Comércio Eletrônico, Boris Kim.
Segundo Kim, o Sberbank foi um dos primeiros bancos do mundo a compreender o quão importante é ocupar o nicho do mercado de pagamentos eletrônicos. Até agora, nenhum dos gigantes do mercado global de pagamentos eletrônicos, seja o PayPal ou Google Wallet, tem uma parceria com bancos físicos.
"Para o Sberbank, esse é mais um instrumento para atrair clientes. A partir de agora, ele pode oferecer contas eletrônicas a pessoas que não têm contas nem cartões do Sberbank, e que consideram mais cômodo fazer pagamentos via transferência eletrônica", diz a vice-presidente do Conselho de Administração do Sviáznoi Bank, Oksana Smirnova-Krell.
O Sberbank teria começado a conceder empréstimos a redes comerciais neste ano, de acordo com uma fonte de um grande banco. Os clientes podem fazer compras através dos sites de lojas com empréstimos do Sberbank recebidos por meio do Yandex Dêngui e reembolsá-los usando o mesmo serviço.
Com o jornalVedomosti e o portalCossa.ru
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