Víktor Línnik Foto: Divulgação
O mercado agrícola russo está mudando. A adesão do país à OMC (Organização Mundial do Comércio) e o aumento do controle sobre a qualidade dos produtos importados são alguns dos fatores novos que marcam a atual situação.
Em entrevista ao jornal Vedomosti, Víktor Línnik, presidente da empresa Miratorg, uma das maiores holdings agrícolas russas, falou sobre essas mudanças.
Víktor Línnik e seu irmão, Aleksandr, se especializaram em importação de produtos de carne.
A Miratorg representa uma holding agroindustrial verticalmente integrada, com um faturamento anual de mais de US$ 1,3 bilhão, e é líder nacional na produção de carne suína.
Vedomosti:Como as mais recentes mudanças no mercado agrícola do país afetarão a Miratorg? Como o senhor avalia a adesão da Rússia à OMC?
Víktor Línnik: Estamos analisando a situação decorrente da adesão da Rússia à OMC. Se ela melhorar em termos de subsídios, mas o apoio do governo piorar, nossos novos investimentos na indústria de carne nacional ficarão comprometidos.
Nos próximos dois a três anos, estaremos trabalhando com nossos projetos em andamento. Temos todos os contratos de crédito assinados. Daqui a seis meses, vamos lançar um projeto para produzir 100 mil toneladas de carne de ave por ano.
A atual situação é muito mais complicada. A adesão do país à OMC pôs em ação processos de integração complexos, estamos entrando em uma nova fase de desenvolvimento e aumento da concorrência com os países da organização.
Devemos nos preparar para o cumprimento de novos regulamentos técnicos. Temos uma meta desafiadora de começar a vender externamente não só grãos, mas também produtos de elevado valor agregado, como carne, por exemplo.
Vedomosti:Qual é a participação dos produtos agrícolas importados em suas vendas?
V.L: Os produtos importados representam cerca de 45% do volume total de vendas de nossa empresa. Importamos principalmente carne bovina do Brasil, frango do Brasil e da Europa e carne suína da Europa, do Brasil, do Canadá e dos EUA.
Vedomosti:Às vésperas da adesão da Rússia à OMC, as empresas de carne da Polônia, Letônia e Lituânia começaram a aumentar o rebanho de suínos na expectativa de a Rússia reduzir os impostos de importação.
V.L: Ao entrar na OMC, a Rússia se comprometeu a reduzir os impostos de importação dos atuais 40% para 5%. Algumas empresas de carne dividiram o processo a fim de aumentar rapidamente o volume de carne exportada.
Na Dinamarca, por exemplo, há empresas especializadas na criação de leitões. Quando os leitões alcançam um peso de 25 a 30 kg, eles são levados para a Letônia, Estônia ou Lituânia, onde permanecem até atingirem um peso de 115 kg.
Em seguida, são exportados para a Rússia. Segundo nossas avaliações, as empresas produtoras de suínos podem aumentar a oferta para três milhões de cabeças em dois ou três anos. Já as próprias empresas europeias falam de cinco a sete milhões de cabeças.
Vedomosti:Mas a vigilância veterinária russa fechou o mercado nacional ao gado europeu, incluindo os suínos, devido à doença causada por pelo vírus Schmallenberg e a febre catarral ovina. Não encontra alguma afinidade entre esse embargo e algumas proibições às importações impostas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Rospotrebnadzor)?
V.L: As restrições veterinárias são uma questão técnica, afetam às autoridades competentes e não aos empresários e políticos. A função da vigilância veterinária é garantir a segurança veterinária e biológica dos produtos importados e produzidos internamente, tanto que mais de 25 países, incluindo os EUA, têm restrições semelhantes.
De acordo com as normas internacionais, cada país tem o direito de estabelecer seus próprios requisitos de segurança dos produtos, desde que sejam razoáveis. A unificação dos regulamentos dentro da OMC leva dezenas de anos.
Até agora, a União Europeia mantém seu mercado fechado à carne de aves proveniente dos EUA porque considera que os americanos ainda não apresentaram provas suficientes de que os frangos clorados não impliquem riscos para a saúde pública. Já os americanos afirmam que não há provas de que essa carne seja perigosa para a saúde humana. A disputa continua.
Publicado originalmente pelo jornal Vedomosti
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