Multidão enfrenta frio intenso para protestar contra Pútin

Foto: Ruslan Sukhushin

Foto: Ruslan Sukhushin

Apesar de as temperaturas oscilarem em torno de -17˚C, uma considerável multidão de pessoas se reuniu no centro de Moscou neste sábado (15 ) para participar de um protesto não autorizado contra o governo do presidente russo Vladímir Pútin.

O protesto aconteceu na praça Lubianka, em frente à sede do Serviço Federal de Segurança, órgão que sucedeu o KGB. Diversos ônibus ficaram estacionados nas ruas vizinhas à espera dos manifestantes detidos, e um helicóptero pairava baixo sobre a multidão, na tentativa de abafar o ruído dos manifestantes.

“Caros cidadãos, esse evento vai contra as leis de Moscou. Por favor, sigam em direção ao metrô para evitar que sejam detidos”, repetiam os diversos policiais em megafones durante a manifestação.

Entretanto, nem a presença da polícia ou a temperatura baixa foram suficientes para conter os manifestantes. O grupo incluía pessoas de todos tipos, desde famílias com crianças e adolescentes até pensionistas.

Os relatórios sobre a quantidade de pessoas presentes variam; segundo as autoridades, havia 700 pessoas, mas o líder da oposição Serguêi Udaltsov insistiu que cerca de 5 mil participantes estavam reunidos no local.

Ao participarem de um protesto não autorizado, todos se arriscaram a receber multas de até US$ 1.000 ou US$ 6.500 para os organizadores, conforme a lei recentemente assinada por Pútin.

“Não tenho medo de estar aqui; Pútin é que deve ter medo de nós”, afirmou Lilia Sokolova, uma ativista que disse participar de protestos desde 1960, ainda na época da União Soviética.

Os manifestantes deixaram flores brancas (a cor da oposição) no monumento de Solovetski, em memória às vítimas do stalinismo, erguido após a queda da União Soviética.

“Esse é o lugar mais quente de Moscou”, brincou a figura de longa data da oposição Boris Nemtsov, que foi vice-primeiro-ministro durante o governo de Boris Iéltsin.

No entanto, a massa não era composta apenas por liberais como Nemtsov. Ativistas nacionalistas, liberais e dos direitos gays também compareceram ao protesto na Lubianka.

Os comunistas, por sua vez, realizaram sua própria manifestação sancionada no início deste sábado em uma região diferente da capital. A única coisa que esses grupos díspares tinham em comum era o desejo profundo de ver Vladímir Pútin deixar seu mandato depois de quase 13 anos no poder.

“O peixe apodrece pela cabeça”, disse uma participante chamada Valentina Ostak-Pengur, que não acredita que as iniciativas atuais de Pútin contra a corrupção terão algum resultado significativo.

Um dos mais famosos líderes anticorrupção da Rússia, o advogado e blogueiro Aleksêi Naválni também esteve presente e foi imediatamente cercado por repórteres, fotógrafos e fãs. Ele saudou a multidão antes de ser detido pela polícia, mas foi liberado horas depois. Cabe lembrar que, nesta sexta-feira (14), investigadores russos acusaram o ativista e seu irmão, Oleg, de fraude e lavagem de dinheiro – acusações que, segundo o próprio Naválni, têm motivação política.

O líder do Frente de Esquerda, Serguêi Udaltsov, e a ativista da oposição Ksênia Sobtchak também foram detidos. Segundo os últimos dados oficiais da polícia de Moscou, 40 ativistas foram detidos durante a manifestação.

A licença para realizar o protesto havia sido negada no início da semana, após o fracasso de negociações.  “Estou furiosa porque nossa manifestação não foi oficialmente autorizada, apesar de termos apresentado a solicitação a tempo. Nunca fomos violentos. Eles não têm o direito de negara permissão”, disse a pensionista Tamara Kojevnikova.

Depois de cerca de uma hora e meia de protesto, os policiais começaram deter as pessoas. “Perigo! Perigo!” e “Rússia sem Pútin!” foram ouvidos enquanto os manifestantes eram arrastados. Mas o protesto só terminou realmente quando os policiais se uniram formando uma corrente que empurrou os manifestantes para fora da praça.

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