Foto: AP
No último fim de semana, o Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor) suspendeu as importações de carne de animais que recebem adição de ractopamina, aditivo utilizado na alimentação animal, com origem nos EUA, Canadá, Brasil e México.
A reação mais forte veio dos EUA. A Rússia é o sexto maior mercado para a exportação da carne americana, avaliado em aproximadamente US$ 500 milhões por ano.
A primeira vez que a Rosselkhoznadzor se declarou preocupada com o uso de ractopamina na produção de carne para o mercado russo foi em 6 de outubro de 2011. A declaração da Rosselkhoznadzor dizia respeito às empresas de carne brasileiras que exportavam a carne para a Rússia. Durante o ano passado, missões russas visitaram várias vezes o Brasil para resolver a situação. A mais recente visita ocorreu no outono passado. Como resultado, a parte russa disse que iria tomar uma decisão definitiva sobre a reabertura do mercado russo à carne brasileira depois de examinar os documentos apresentados pelo lado brasileiro.
Em nove meses de 2012, as exportações da carne suína americana para a Rússia totalizaram US$ 208 milhões, ou 14% a mais que no mesmo período do ano passado, segundo dados da Associação Americana de Exportadores de Carne. No mesmo período, as exportações de carne bovina subiram 25%, para US$ 242 milhões.
A ractopamina é utilizada como aditivo nutricional em alimentos para suínos e bovinos. Segundo a Rosselkhoznadzor, o consumo da carne com ractopamina implica riscos para o sistema cardiovascular do homem. A intenção da Rússia não é proibir as importações de carne, mas pedir que a carne importada venha acompanha de uma documentação comprovando que os animais não foram alimentados com dietas contendo ractopamina.
Como os EUA não têm tais certificados, o pedido do lado russo significa o fim das exportações, disse o porta-voz da Associação Americana de Exportadores de Carne, Joe Schüle, citado pelo Wall Street Journal.
A Rosselkhoznadzor promete aplicar um período de transição até o fim de janeiro de 2013 em relação aos países que não possuem competências necessárias. Enquanto isso, os laboratórios russos irão testar por conta própria a carne importada para a presença de ractopamina e fazer seguir de volta os lotes em que o aditivo for detectado.
"Os EUA pedem à Rússia para anular as novas regras e reabrir seu mercado à carne suína e bovina americana", diz o comunicado conjunto do secretário da Agricultura dos EUA, Tom Vilsack, e do representante EUA, Ron Kirk.
O Ministério da Agricultura dos EUA está em negociações com a vigilância veterinária russa e invoca o Codex Alimentarius, documento aprovado pela OMC e que admite uma pequena quantidade de ractopamina na carne. O Codex foi aprovado em julho de 2012 pelos 186 países membros. Rússia e União Europeia votaram contra.
Participantes do mercado e especialistas atribuíram o embargo decretado pela vigilância veterinária russa aos recentes passos políticos dos EUA.
"A medida é uma represália política à Lei Magnitski, aprovada pelo senado dos EUA", afirmou a agência ITAR-TASS, citando analistas da Federação Americana de Exportadores de Carne, cujos nomes não foram divulgados.
"Não tenho nenhuma dúvida a esse respeito", disse Rich Nelson, chefe do setor de análise estratégica da Allendale Inc., citado pela agência Reuters.
"Minha primeira reação à medida [de Moscou] foi tentar entender como ela se relacionava com a geopolítica e em que medida a Rússia estava disposta a chegar a um acordo sobre as questões políticas, exercendo pressão sobre nossos bolsos", disse, por sua vez, o presidente da Global Commodity Analytics, Mike Zuzolo.
Um dia antes, o Senado norte-americano havia aprovado por 92 votos contra 4 a Lei Magnitski, que proíbe os cidadãos russos responsáveis pela violação dos direitos humanos de entrar no país e realizar operações financeiras nos EUA.
Já a Rosselkhoznadzor assegura que a Lei Magnitski não tem nada a ver com o embargo.
"A Rosselkhoznadzor considera necessário lembrar ter dito, há mais de um ano, que o uso de ractopamina na produção de carne para o mercado russo era inadmissível", afirmou o órgão em comunicado.
Na última sexta-feira (7), os preços dos contratos futuros de carne suína na Bolsa Mercantil de Chicago caíram 1,4% e chegaram ao nível mínimo das últimas duas semanas.
"Para o mercado, é uma notícia pessimista", disse John Kleist, analista sênior da sociedade corretora Ebottrading.com.
"Não faz mal, teremos mais carne no mercado americano, as coisas não chegarão ao ponto de nosso mercado ficar saturado com carne suína", acalma o especialista da Paragon Economics, Steve Meyer. "Não foi o Japão que deixou de comprar nossa carne.”
O Japão é o maior importador da carne suína americana e compra quatro vezes mais do que a Rússia.
Enquanto isso, os EUA possuem a quarta maior participação no mercado da carne suína importada pela Rússia. A carne suína importada tem uma fatia de cerca de 33% do mercado de carne russo.
Para a versão na íntegra do artigo em russo, acesse: http://www.gazeta.ru/business/2012/12/10/4884985.shtml
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