Serguêi Ivanov Foto: http://state.kremlin.ru/
No dia 1º de dezembro, a Rússia assumiu a presidência do G20, o grupo das 20 maiores economias do planeta.
O chefe do Gabinete da Presidência da Rússia e presidente do comitê de apoio à presidência russa do G20, Serguêi Ivanov, falou, em entrevista ao apresentador do telejornal Vesti Sergêi Briliov, sobre a agenda comum do mundo contemporâneo.
Vesti:O que é o G20, cuja presidência rotativa foi assumida pela Rússia? Por que é tão importante para a Rússia presidir esse organismo?
Serguêi Ivanov: O G20 é um fórum informal das maiores economias do mundo, que concentra 90% do PIB (Produto Interno Bruto) e 80% de todo o comércio mundiais e dois terços da população do planeta.
V.:A próxima cúpula do G20 acontecerá no Palácio de Constantino, em São Petersburgo [em 2006, o local sediou o encontro do G8]?
S.I.: Sim.
V.:Portanto, não há necessidade de novas injeções financeiras?
S.I.: Não há necessidade de novas injeções financeiras grandes. Gostaria de deixar claro desde logo que falamos de G20, enquanto, na realidade, o encontro de São Petersburgo reunirá 33 delegações. Estamos alargando o formato com a intenção de mostrar que o G20 não é um clube fechado nem exclusivo, apesar de seus membros produzirem 90% do PIB mundial.
Escutamos outras nações e agimos no interesse da economia global, que envolve todos os países, independentemente de seu nível de desenvolvimento. Além disso, convidamos dirigentes de grandes organizações internacionais. Portanto, em comparação com os preparativos para o encontro do G8, os atuais trabalhos de organização são mais intensos. Por outro lado, a infraestrutura básica já existe: é o Palácio de Constantino.
V.:O G20 envolve, entre outros, países não acostumados a ouvir as opiniões dos outros. A Rússia, com o terceiro ou quarto lugar no mundo em reservas em ouro e divisas, segundo diferentes estimativas, pode dizer, por exemplo, o seguinte aos EUA: “uma vez que compramos seus recibos de depósitos bancários e outros valores mobiliários e financiamos sua economia, vocês podem finalmente nos escutar e fazer o que dizemos?”
S.I.: Por um lado, não posso deixar de lhe dar razão. É verdade que os americanos não gostam de receber conselhos. Por outro lado, não posso dizer que eles rejeitam todos e quaisquer conselhos. Os americanos têm o papel da liderança no FMI. No entanto, a última cúpula do G20 salientou a necessidade de rever as cotas e a distribuição dos votos no FMI de modo a atender ao crescimento das economias dos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
V.:Na atual conjuntura internacional, consideravelmente alterada, existe a possibilidade de se chegar a um acordo quanto à problemática energética? Afinal, a energia volta a estar na agenda do G20?
S.I.: Se estamos falando sobre o Terceiro Pacote Energético, esse problema é da Rússia e da União Europeia, não tem dimensão global e dificilmente estará em debate no encontro do G20. Por outro lado, o pacote gera muitas perguntas. Discordamos radicalmente da postura europeia e não escondemos isso: o Terceiro Pacote Energético dificulta a conclusão de contratos a longo prazo e pode causar simplesmente uma escassez de recursos energéticos na Europa. A prospecção geológica de gás e petróleo exige cada vez mais dinheiro porque as novas jazidas se encontram nas regiões ao norte. Por essas razões –transporte, refinação e distribuição–, sai mais caro. Pela lógica da União Europeia, essas operações devem ser separadas. Então surge a pergunta: quem vai investir na prospecção e no transporte se isso não faz sentido?
V.:Na sua opinião, quais moedas serão usadas para as reservas internacionais dos países dentro de, digamos, 20 anos?
S.I.: É muito fácil errar aqui. É como tentar prever o resultado de partidas de futebol. Obviamente o dólar e, possivelmente, o euro e várias outras moedas que podem ser encaradas como eventuais meios de reserva. Dentre elas estão o franco suíço, moeda muito segura, e a libra britânica.
V.:E o dólar australiano, em que a Rússia investiu bastante.
S.I.: E o iene japonês. Muito se tem falado sobre a criação de uma moeda asiática única. Se isso acontecer, acho que a moeda única vai ser, naturalmente, o yuan. Por outro lado, o yuan não é totalmente conversível. Por isso, esse processo levará mais alguns anos. O mundo árabe também tem falado da necessidade de ter sua própria moeda regional.
Enquanto isso, o rublo russo tem chance de se tornar moeda de reserva regional para os países da CEI (Comunidade de Estados Independentes - ex-repúblicas soviéticas). O respectivo trabalho está sendo realizado. As operações comerciais no âmbito da União Aduaneira (Rússia-Bielo-Rússia-Cazaquistão) são efetuadas, em parte, em rublos. Começamos a usar o rublo no comércio com a China para evitar os riscos adicionais decorrentes da volatilidade das principais moedas internacionais, o dólar e o euro. Isso confere à nossa economia uma maior estabilidade e confiabilidade.
Para ver o texto original em russo, acesse: http://www.vesti.ru/doc.html?id=973418
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