Aleksêi Mechkov Foto: Michele Palazzi
Em entrevista à Gazeta Russa, o representante permanente da Rússia na FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e no PAM (Programa Alimentar Mundial) e embaixador extraordinário e plenipotenciário da Rússia na Itália e San Marino, Aleksêi Mechkov, falou sobre a situação alimentar no mundo e das consequências dos desastres naturais de 2012 na produção de alimentos.
Gazeta Russa:O senhor é o primeiro representante permanente da Rússia na FAO e, cumulativamente, no PAM. Como está a reforma da FAO?
Aleksêi Mechkov: A reforma foi iniciada pelo senegalês Jacques Diouf, que esteve à frente da instituição durante 18 anos, e está sendo desenvolvida pelo novo diretor-geral da organização, o brasileiro José Graziano. A reforma tem por objetivo descentralizar os trabalhos e priorizar os trabalhos “in loco”. Apoiamos sem reservas essa ideologia e estamos trabalhando nesse sentido.
G.R.:Como a FAO avalia a situação alimentar no mundo? O mercado de grãos e carne ficou muito prejudicado com os desastres naturais deste ano?
A.M: A quebra da safra de milho, soja e grãos nos principais países produtores exerce certamente uma determinada pressão no mercado. Mas seu impacto é menor do que o produzido pelas crises alimentares ocorridas há vários anos.
Isso pode ser explicado por dois fatores. Em primeiro lugar, a produção mundial de arroz cresceu significativamente. Em segundo lugar, os estoques restantes da safra anterior estão bastante altos. A FAO salienta que a atual situação é difícil, mas não desesperadora. Além disso, a organização faz o possível para evitar o deslizamento para a crise. Enquanto isso, nos mercados de produtos agrícolas, há especuladores interessados em provocar a alta dos preços e essa agitação. Por isso, é necessário estudar a situação do mercado, utilizando as estatísticas reais da FAO.
Nos últimos anos, foi criado um mecanismo de mercados mais transparente, o que permite avançar rumo às metas traçadas. No entanto, os desafios a longo prazo não são nada fáceis. Conseguimos, certamente, diminuir o número de famintos no mundo, mas essa diminuição não foi muito grande devido, em parte, à crise dos anos passados. Atualmente, o número de pessoas com fome é de cerca de 900 milhões. Já em 2050, a população mundial subirá para 9 bilhões, o que exigirá a duplicação da produção agrícola mundial. Esse problema é multidisciplinar e se refere tanto à produção agrícola quanto à pesca, aquicultura e problemática da água, como às florestas e à situação socioeconômica.
A Rússia é um ator ativo em todos os segmentos. A FAO avalia a situação alimentar na Rússia como estável. Nesse aspecto, estamos no mesmo patamar dos países desenvolvidos. Embora a Rússia continue a ser importador líquido de carne, estamos avançando com firmeza rumo à autossuficiência, sobretudo em carne de aves. A Rússia está entre os maiores produtores mundiais de grãos e é encarada pela FAO como uma das importantes fontes de crescimento da produção de alimentos. Faço notar que o tema da segurança alimentar é um dos prioritários na agenda da próxima presidência russa do G20 e do G8.
G.R.:Atualmente, em muitos fóruns internacionais, verificamos o aumento da coordenação entre os representantes permanentes dos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A FAO também verifica essa tendência?
A.M: Claro. Na FAO, mantemos estreitos contatos de nossas representações permanentes. Um dos exemplos notáveis de nossa coordenação foi a eleição de José Graziano para o cargo de diretor-geral da FAO. Eram dois candidatos, mas o representante do Brics venceu em votação secreta por uma margem de dois votos.
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