Rússia não descarta hipótese de levantar embargo às importações de carne brasileira

Foto: RIA Nóvosti / Vitali Ankov

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Decisão definitiva pelo fim do embargo será tomada após a Rússia analisar todos os documentos apresentados pelos brasileiros e depois de as partes chegarem a acordo sobre um sistema de acesso de produtos desses Estados brasileiros ao mercado russo, disse o diretor do Rosselkhoznadzor, Serguêi Dankvert.

Duas notícias de impacto diametralmente opostos chegaram após as negociações entre as autoridades sanitárias russas e brasileiras no final deste mês. O Serviço Federal de Fiscalização Veterinária e Fitossanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor) anunciou não descartar a hipótese de levantar o embargo às importações de carne brasileira dos Estados de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.

A decisão definitiva pelo fim do embargo será tomada após a Rússia analisar todos os documentos apresentados pelos brasileiros e depois de as partes chegarem a acordo sobre um sistema de acesso de produtos desses Estados brasileiros ao mercado russo, disse o diretor do Rosselkhoznadzor, Serguêi Dankvert, em uma reunião com o embaixador do Brasil na Rússia, Carlos Antônio da Rocha Paranhos.

O embargo foi decretado em 15 de junho de 2011 em relação a 85 empresas de carne do Brasil e teve como causa uma violação das normas e exigências veterinárias e sanitárias da Rússia e da União Aduaneira (Rússia-Belo-Rússia-Cazaquistão). Mesmo assim, os produtos brasileiros mantêm a liderança no mercado russo.

"A Alemanha e outros exportadores europeus de carne não podem competir com os países latino-americanos. Comprar carne no Brasil é muito mais rentável, apesar da grande distância. O país oferece melhores condições e tem um melhor apoio do Estado ao setor", disse o diretor-executivo da União Nacional de Processadores de Carne da Rússia,  Vasili Prochenko.

No entanto, um dia antes, em uma reunião com o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Enio Antônio Marques Pereira, o diretor-geral da vigilância veterinária da Rússia, Evgeni Nepoklonov, manifestou a preocupação das autoridades russas com o uso extensivo na pecuária brasileira de agentes melhoradores de desempenho da classe dos beta-agonistas, como a ractopamina. Segundo ele, caso esses agentes continuem a ser detectados na carne importada do Brasil, Moscou pode proibir todas e quaisquer importações de carne brasileira.

A ractopamina pertence ao grupo dos agonistas beta-adrenérgicos e atua como agente melhorador da produção de tecidos musculares e promotor de crescimento. Seu uso está proibido nos países da União Aduaneira e na Europa.

Em agosto, o Rosselkhoznadzor pediu ao serviço veterinário do Brasil para criar um sistema de controle a fim de garantir seguramente que a carne de animais que receberam adição de ractopamina não chegasse ao mercado dos países da União Aduaneira. Se a substância fosse detectada na carne proveniente do Brasil, as despesas com a destruição da mesma correriam por conta dos importadores russos, salientou com especial ênfase a entidade russa.

Como essa substância é também utilizada nos EUA, Canadá, México e Austrália, o Rosselkhoznadzor também está de olho na carne originária desses países. A Rússia insiste que o Brasil conceda garantias do não uso de promotores de crescimento para cada lote de carne importada.

"Para tanto, o Brasil deve ter um sistema de monitoramento que possa garantir documentalmente que os produtos enviados à Rússia preenchem os requisitos vigentes na Rússia e na União Aduaneira", disse Nepoklonovo.

Segundo ele, resíduos de ractopamina foram detectados em uma das amostras de carne bovina brasileira. Violações semelhantes foram descobertas também pelas autoridades competentes chinesas.

Segundo o Rosselkhoznadzor, o Brasil insiste que a declaração do fabricante anexada ao certificado veterinário é suficiente para comprovar que a ractopamina não foi utilizada. Para a Rússia, porém, esse documento não pode substituir a vigilância ativa por parte do Serviço Veterinário do Brasil.

Ao que tudo indica, Moscou utilizará o embargo às importações de carne brasileira como último recurso. Enquanto isso, sua intenção é fazer com que o Brasil cumpra as exigências. Se a Rússia fechar seu mercado aos produtos brasileiros, o Brasil não terá para onde comercializar o excesso de oferta de carne. Por outro lado, a Rússia sofrerá uma grande escassez do produto e uma disparada de preços no mercado de alimentos.

"A produção nacional de carne está na fase inicial, para não  dizer em estado embrionário. Nós dependemos muito das importações", disse Vasili Prochenkov.

Além disso, segundo ele, ninguém sabe realmente se essa substância é mesmo nociva.

"A Europa impôs a proibição por causa de seus problemas econômicos e políticos e para apoiar suas indústrias. Nós não somos atores ativos nesse mercado", disse o especialista.

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