“Interesse entre os jovens pelas ciências naturais vem diminuindo”, diz decano do Instituto Físico-Tecnológico de Moscou

Decano da Faculdade de Problemas de Física e Setor Energético do IFTM (Instituto Físico-Tecnológico de Moscou), Aleksêi Leonov.Foto: mipt.ru

Decano da Faculdade de Problemas de Física e Setor Energético do IFTM (Instituto Físico-Tecnológico de Moscou), Aleksêi Leonov.Foto: mipt.ru

Em entrevista ao jornal Gazeta.ru, decano da Faculdade de Problemas de Física e Setor Energético do IFTM (Instituto Físico-Tecnológico de Moscou), Aleksêi Leonov, falou sobre grandes projetos internacionais e do interesse dos estudantes universitários pela investigação científica e do projeto de Reator Termonuclear Experimental Internacional (ITER, na sigla em inglês).

Em entrevista ao jornal Gazeta.ru, o decano da Faculdade de Problemas de Física e Setor Energético do IFTM (Instituto Físico-Tecnológico de Moscou), Aleksêi Leonov, falou sobre grandes projetos internacionais, o interesse dos estudantes universitários pela investigação científica e o projeto do Reator Termonuclear Experimental Internacional (ITER, na sigla em inglês), que    envolve ex-alunos do IFTM, entre outros.

Confira:

Gazeta.ru:É grande o número de jovens que querem se dedicar à investigação científica na Física? Qual é o nível de preparação dos alunos escolares e universitários no país?

Aleksêi Leonov: Temos alunos talentosos suficientes, mas devemos admitir que, na Física, o banco dos suplentes ficou muito curto. O interesse na sociedade e entre os jovens pelas ciências naturais vem diminuindo.

Os estímulos e interesses na sociedade mudaram. Quando o processo seletivo termina, a concorrência em nosso instituto é grande. Os candidatos aprovados são admitidos para cursar o primeiro ano, ficam felizes e estudam com entusiasmo no segundo e terceiro anos. Depois, começam a perder o interesse porque a vida real é mais complicada do que lhes parecia inicialmente. Além disso, os jovens de hoje têm uma traço marcante curioso: eles querem tudo para já. Nem todos aceitam aguentar por alguns anos e limitar seus desejos para receber uma boa educação e tirar o maior proveito possível de seus estudos em nosso instituto.

Gazeta.ru:Qual é o papel de grandes projetos como o do Iter na mobilização de alunos universitários para a investigação científica?

A.L: Devo dizer que o Instituto Físico-Tecnológico foi concebido para a concretização de grandes projetos de dimensão nacional: a exploração do espaço, a construção de mísseis balísticos, a exploração da energia atômica, a construção de armas nucleares etc.

Nossa faculdade de problemas de física e setor energético, por exemplo, foi concebida para formar pessoal para o centro de pesquisa de Troitsk, especializado em problemas da fusão termonuclear controlada. Agora, muitos anos depois, estamos preparando o pessoal para o projeto Iter e vários outros projetos nacionais e internacionais, como programas de laser e nanotecnologia.

Mas o Iter é um dos prioritários porque todo o mundo entende que o carvão e o petróleo são recursos não-renováveis ​​e a energia alternativa não é, por enquanto, competitiva em termos de alimentação de grandes usinas industriais. Portanto, projetos energéticos como esse são a esperança da humanidade.

Gazeta.ru:Os universitários estão interessados em trabalhar em projetos tão grandes? Como é regulada a participação de universitários russos no projeto Iter?

A.L: Sim, estão. Infelizmente, até agora, não há um mecanismo claro que regule a participação de universitários russos nesse projeto. Mas nosso departamento de energia do plasma tem estreita ligação com o projeto Iter. Como resultado, nossos alunos já estagiaram em Cadarache, onde o Iter está sendo construído, e na Universidade de Karlsruhe. A demanda por profissionais não é grande, mas há necessidade de especialistas de alto nível.

Gazeta.ru:Em um recente artigo, a prestigiada revista científica Nature criticou o projeto Iter pelo atraso na conclusão das obras e despesas exorbitantes. Até onde suas críticas são fundadas?

A.L: Essa é uma coisa absolutamente normal. Críticas semelhantes foram feitas ao projeto do Grande Colisor de Hádrons. Se tomarmos como exemplo o National Ignition Facility (em tradução livre, Instalação Nacional de Ignição), em Los Alamos, veremos que as despesas com sua projeção e construção foram cerca de cinco vezes superiores às programadas. Além disso, as obras de construção levaram o dobro do tempo previsto.

Algo semelhante acontece com o Iter. Naturalmente, os desafios são muitos. Mas quando começaram a construir uma bomba atômica, por exemplo, os problemas também pareciam impossíveis de se resolver. Se os principais atores ­–EUA, Europa e Japão– abdicassem de seus programas militares e investissem os recursos assim liberados no Iter, pode-se crer que, em cinco anos, o reator ficaria pronto. Mas o financiamento é limitado e muita coisa depende disso. Os físicos costumam ser criticados por trabalharem mal, por não terem conseguido prever isso ou aquilo. Mas, na ciência e na natureza, obstáculos escondidos estão sempre presentes. Só não erra quem não faz. Nenhuma sociedade pode existir sem progressos científicos.

A íntegra da entrevista em russo está disponível em: http://www.gazeta.ru/science/2012/11/20_a_4860961.shtml

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