Foto: Oleg Urusov / RIA Nóvosti
Não é segredo que a comunidade empresarial está com os olhos voltados para as atividades espaciais há muito tempo. No final de maio, a Dragon, construída pela empresa americana SpaceX e primeira nave espacial privada, voou até a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) e retornou com êxito à Terra.
Como se costuma dizer, o caminho ficou aberto. No entanto, muitos especialistas, inclusive russos, não acreditam que os voos espaciais privados sejam altamente relevantes para o país.
Os fundadores americanos da astronáutica privada levaram muitos anos para construir veículos espaciais para este tipo de uso. Como resultado, dispõe hoje de duas espaçonaves: a Dragon, da empresa SpaceX, e a SpaceShip, da empresa Virgin Galactic.
O primeiro projeto foi concebido para realizar voos privados para o transporte de cargas para a ISS e para viagens em órbitas baixas. Como a carga levada pela Dragon em seu primeiro voo de teste não foi muito grande, é cedo para falar sobre o efeito comercial do uso desses veículos.
Por outro lado, se voos tripulados forem possíveis, o efeito pode ser muito grande. Segundo Dmítri Paison, diretor de desenvolvimento do setor de tecnologias espaciais e de telecomunicações do parque tecnológico russo Skolkovo, o transporte por astronauta para a ISS em naves Soiuz custa à Nasa (a agência espacial americana) cerca de US$ 60 milhões, enquanto a SpaceX promete reduzir esse valor para US$ 20 milhões e ainda lucrar com seu projeto.
Os veículos construídos pela empresa Virgin Galactic têm finalidades diferentes. O ônibus espacial Space Ship One foi levado a uma altura de 15 km por uma aeronave transportadora White Knight One. De lá, o ônibus partiu para uma altura de 100 km usando seu próprio motor. Após alguns minutos de ausência de gravidade, o ônibus aterrissou como avião comum e está pronto para um novo lançamento.
Na verdade, esse voo suborbital seria ideal para os amantes de sensações fortes, pois custa apenas US$ 200 mil, contra cerca de US$ 40 milhões cobrados pela estadia de uma semana à bordo da ISS e o transporte de ida e volta pela nave Soiuz russa.
Experiência
Porém, é pouco provável que a experiência americana de voos espaciais privados seja útil à Rússia. Segundo Stephen Attenborough, diretor comercial da Virgin Galactic, a Rússia já tem um arsenal tecnológico muito grande no setor espacial. Portanto, a astronáutica privada não é muito relevante para o país.
“Em 2011, a Nasa anunciou que iria transferir as operações em órbita baixa (e a manutenção do segmento americano da ISS) para a gestão do setor privado. Em 2012, a diretoria da Roskosmos (Agência Espacial Russa) disse que tinha a intenção de colocar sob a responsabilidade do setor privado a exploração prática dos resultados das atividades espaciais", diz Paison.
"Algumas empresas residentes no parque de inovações Skolkovo estão especializadas em promoção dos produtos e serviços comerciais. Devemos esperar alguns anos para ver os primeiros frutos de projetos como o Sputniks (de microssatélites), o Dauria (de satélites de pequeno porte), o Atmosfera (de resgate de estágios dos veículos lançadores por meio de paraquedas) e outros.”
O chefe da assessoria de imprensa da Roskosmos, Aleksêi Kuznetsov, também considera que ainda é cedo para tirar conclusões da experiência americana.
"A SpaceX é a primeira experiência da iniciativa privada no setor espacial", disse Kuznetsov em entrevista à revista russa Expert.
“É preciso tempo para entender qual é o lugar desse projeto nas atividades espaciais em geral, ver como ele pode ser aplicado na astronáutica nacional e se o setor privado nacional é capaz de lidar com projetos dessa dimensão. Pelo que sei, Musk Elon, proprietário da SpaceX, teve grandes despesas e até tomou um empréstimo para executar seu projeto. Não está claro se nosso setor privado está pronto para assumir tais riscos e se possui recursos financeiros e potencial humano e industrial suficientes para a execução de tais projetos", completou.
Para Pavel Bikov, vice-diretor da revista Expert, a crise dos programas espaciais globais tem reflexos também na Rússia.
“Mas o país tem um sistema viável que, em muitos aspectos, se baseia na tecnologia Soiuz, em parte obsoleta, mas que, na realidade, está em permanente processo de atualização", disse Bikov.
Segundo ele, esse sistema talvez não seja muito cômodo em termos de transporte de astronautas e cargas, mas é viável e capaz de seguir vantajoso e prático por muito tempo.
Turismo espacial
Enquanto isso, na Rússia, a participação do setor privado nas atividades espaciais só pode ter perspectivas em relação ao turismo espacial. A ideia fixa da Roskosmos de dar continuidade às viagens turísticas para a ISS, no entanto, não é bem recebida por todos.
"Para nós profissionais, infelizmente, o turismo espacial é um grande problema", disse, ainda em 2008, o vice-diretor do Centro de Voos Espaciais da Corporação de Foguetes Espaciais Enérguia, cosmonauta Pavel Vinogradov.
"O turismo espacial está destruindo os pilares de nossa astronáutica tripulada. Somos obrigados a tirar das tripulações jovens astronautas e a colocar em seus ligares turistas espaciais", disse Vinogradov.
Nessas circunstâncias, um projeto de nave suborbital privada seria muito bem vindo.
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