Países do Brics seguem tratativas para criação de fundo anticrise

Foto: Aleksêi Nikólski / RIA Nóvosti

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Estimativa é de que montante possa atingir cerca de US$ 240 bilhões; países poderão recorrer ao fundo caso enfrentem problemas de liquidez

Em uma demonstração de que seguem consolidando sua cooperação, os líderes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) seguem as tratativas para a  criação de seu próprio fundo anticrise regional.

As recentes eleições para a diretoria do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial mostraram que, apesar do peso crescente dos países emergentes na economia global, os EUA e os países da Europa não têm a menor intenção de ceder suas posições e redistribuir os votos em favor dos emergentes.

As consultas sobre o montante de recursos que formarão o fundo ainda não terminaram, mas a imprensa russa já afirma que trata-se de uma quantia comparável ao montante do "Projeto Chiang Mai", fundo anticrise criado por China, Japão, Coréia do Sul e os países da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático). Estima-se que os recursos do fundo possam atingir cerca de US$ 240 bilhões.

“Embora o montante não seja o suficiente para salvar um país de um colapso, ele servirá para prestar apoio temporário”, diz Daria Jelannova, analista sênior da empresa Alpari.

O fundo anticrise permitirá aos países do Brircs criar seu próprio sistema de créditos mútuos. Além disso, caso um dos países enfrente problemas de liquidez,  poderá utilizar os recursos no valor igual ao de sua contribuição multiplicado por um coeficiente cujo valor ainda está em discussão.

“Ele também permitirá aos países dispor de uma reserva financeira sem ter de se voltar ao FMI e o Banco Mundial, que condicionam seus empréstimos à efetivação de políticas muito duras no país devedor”, afirma o diretor de operações de investimento do banco Lanta-Bank, Oleg Poddimnikov.

O dinheiro também poderá ser usado para apoio ao crescimento econômico dos países e solução de algumas questões operacionais, como, por exemplo,  intervenções cambiais e empréstimos.

“Os recursos ainda podem ser usados para a ajuda aos países de interesse dos integrantes do Brics”, assinala o analista do  InvestCafe, Ilia Rachenkov.

Segundo Rachenkov, há cerca de 150 países no mundo cujo PIB (Produto Interno Bruto), calculado com base na paridade de poder aquisitivo, é menor do que o presumível orçamento do fundo anticrise do Brics.

Conceito

O conceito do fundo foi desenvolvido por um grupo de trabalho criado pelos países do grupo na reunião de 10 de junho de 2012 e que está elaborando o projeto de outra organização conjunta do Brics, um banco de desenvolvimento. Os recursos serão investidos em projetos de infraestrutura. Parâmetros específicos do banco e do fundo serão, provavelmente, examinados na próxmia cúpula do Brics, maraca para março de 2013, segundo informa o jornal on-line russo Gazeta.ru.

Há dois anos, era corrente a opinião de que o Brics deixaria de existir em pouco tempo ou sofreria mudanças em sua estrutura e composição. Mas os países integrantes estavam interessados em manter o grupo em seu formato atual e começaram a buscar formas de aproximação e consolidação de sua cooperação na área econômica.

Apesar de os países do Brcis apresentarem o mais rápido crescimento no mundo, a instabilidade da economia global pode desacelerar seu desenvolvimento, especialmente quando a maioria deles é dependente da conjuntura do mercado de commodities.

“Isso diz respeito não só à Rússia, cuja taxa de crescimento caiu de 7,5% para 4,5% devido aos problemas na Europa. China e Índia mantêm a liderança mundial na produção agrícola, o Brasil é o maior produtor de açúcar e café, a Rússia é um dos líderes mundiais na produção de petróleo e gás, a China lidera na produção de carvão”, ressalta o diretor do departamento de operações de investimento do Lanta-Bank, Oleg Poddimnikov.

Segundo Poddimnikov, se tais iniciativas do Brics se tornarem regulares e tiverem o efeito desejado, o papel do grupo na economia global pode crescer.

Moeda

Não se sabe, por enquanto, qual moeda e quais ativos serão usados para guardar o dinheiro do fundo. Até o momento, a opção mais discutida é o dólar americano ou Direitos Especiais de Saque (SDR, na sigla em inglês). A eventual escolha a favor do yuan colocaria a China em uma posição mais privilegiada e é, portanto, contestada pelos demais, levando ainda em conta que a moeda chinesa ainda não é totalmente conversível.

“O próximo passo no fortalecimento da cooperação no âmbito do Brics poderia ser o aumento do papel das moedas nacionais nos desembolsos recíprocos”, diz Rachenkov, analista do InvestCafe. "No entanto, esse processo pode levar muito tempo. Portanto, as relações entre os países do grupo podem se desenvolver também através de uma cooperação no comércio exterior, que, porém, podem se cruzar com os interesses da OMC (Organização Mundial do Comércio)."

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