Emblema da fundação Russkiy Mir. Ilustração: Divulgação
Criada em 2007, a fundação é um órgão governamental russo atrelado ao Ministério da Educação e Ciência e Ministério das Relações Exteriores da Rússia, que atua estabelecendo convênios com universidades de diversos países para a criação de centros de estudos russos.
Além de apoio financeiro e doação de
materiais didáticos, as atividades da fundação incluem organizar e promover
conferências, congressos e seminários acadêmicos e incentivar atividades
artísticas e culturais, como mostras de cinema, exposições e oficinas
literárias. Além do Brasil, há na América Latina centros estabelecidos em Cuba
e no Equador.
Da parceria entre o Departamento de Letras
Orientais da FFLCH e o Russkiy Mir nasceu o Leruss, Laboratório de Estudos
Russos USP-Russkiy Mir, que fica no prédio da Casa de Cultura Japonesa, no
campus da USP. Até o momento, a fundação contribuiu com o fornecimento de
livros para o laboratório brasileiro.
“Como já temos uma estrutura bem
estabelecida, com diversos professores e uma biblioteca de livros russos
bastante consistente, a fundação não precisou criar um centro de estudos do
zero, como em outros países”, explica Arlete Cavaliere, coordenadora do curso
de graduação de Língua e Literatura Russa e vice-coordenadora do programa de
pós-Graduação de Literatura e Cultura Russa da USP.
Cavaliere acredita que a procura por estudos
russos tem aumentado muito em função da aproximação das relações entre a Rússia
e o Brasil, em grande parte por conta do BRICS, grupo do qual os dois países
fazem parte.
O curso de pós-graduação de Literatura e
Cultura Russa existe oficialmente desde 2001, mas antes disso já havia alunos
desenvolvendo projetos na área, sob orientação dos professores do Departamento
de Letras Orientais.
Desde sua criação, o curso já formou 34
mestres e oito doutores. Estão matriculados atualmente 24 mestrandos e 13
doutorandos. “Trata-se do único centro formador de mestres e doutores na área
de estudos russos no Brasil e no mundo lusófono”, diz Cavaliere. Além da USP, o
único centro de ensino que oferece graduação na área de estudos russos no
Brasil é a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Além de seguir uma carreira acadêmica, a
formação em Letras dá aos alunos a possibilidade de trabalhar como tradutores,
revisores ou intérpretes. Muitos estão hoje empregados em editoras, revisando e
traduzindo textos de autores como Nicolai Gogol e Ivan Turguêniev.
O crescimento do mercado
editorial no Brasil levou as editoras a buscar cada vez mais tradutores que
possam trabalhar textos em suas línguas originais, por isso há mercado também
para pessoas fluentes em russo que não se graduaram na área.
É o caso de Lucas Simone,
que trabalha como assistente editorial e revisor na editora 34, considerada uma
das principais editoras de obras da literatura russa no Brasil. Formado em
História pela USP, Simone estuda a língua russa desde 1998. Além de revisar
textos, ele também colabora como tradutor e recentemente traduziu o romance “A
aldeia de Stepántchikovo e seus habitantes”, de Fiódor Dostoiévski, que
deve ser lançado no fim de novembro.
“Mesmo autores muito
conhecidos e consagrados ainda carecem de traduções diretas de muitas de suas
obras. No caso russo, existem diversos autores considerados clássicos em seu
país de origem e que por aqui ainda carecem de boas traduções feitas a partir do
original”, explicou.
O meio empresarial também traz opções para
quem se interessa pela Rússia. Formada em Relações
Internacionais na Universidade Russa da Amizades dos Povos, em Moscou, Ana
Carolina Freitas vê muitas possibilidades em sua área de atuação. “Existem
diversos acordos entre Brasil e Rússia e países de língua russa. A Rússia hoje
é o maior comprador de carne do Brasil, por exemplo. O Brasil também tem a
Alcântara Cyclone Space (ACS), que é uma empresa binacional que interage com
organizações do setor aeroespacial no Brasil e na Ucrânia”, disse Freitas, que
atualmente trabalha na filial brasileira da empresa russa MegaPay, que atua no
ramo de totens de autoatendimento para pagamentos eletrônicos.
Mesmo com a variedade de opções de trabalho,
para o diretor do Centro de Negócios da Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimentos (Apex) em
Moscou, Almir Americo, o relacionamento comercial entre Brasil e Rússia ainda
não trouxe uma grande necessidade de profissionais fluentes no idioma.
“Apesar da expansão da economia de ambos os
países nos últimos anos, os investimentos recíprocos ainda são tímidos. No
setor de turismo, apesar da vigência do acordo de dispensa de visto, ainda não
há um fluxo de turistas que cause o impacto que se poderia esperar pelo porte e
características dos dois países. Dessa forma, a demanda por profissionais
fluentes em russo ainda não reflete as boas relações e o momento econômico
favorável nos dois países”, disse.
Já Gilberto Ramos, presidente da Câmara Brasil-Rússia
de Comércio, Indústria e Turismo, é mais otimista. Ele acredita que hoje há uma
tendência forte do Brasil de expandir o relacionamento comercial com a Rússia,
seja na busca de novos mercados por empresas brasileiras, seja na negociação
com empresas russas, principalmente nas áreas de petróleo, gás e mineração.
“Essa aproximação justifica a busca de
profissionais que dominem o idioma russo, pois espera-se que um número maior de
empresas do Brasil passem a abrir representações na Rússia e vice-versa”,
explicou.
“Não tenho dúvida de que no futuro outras
universidades investirão no desenvolvimento de cursos na área de estudos
russos, muitos reitores brasileiros já demonstraram interesse em estreitar
relações com o país.
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: