Os desafios do novo ministro da Defesa

Novo ministro da Defesa Serguêi Choigu (à dir.). Foto: mil.ru

Novo ministro da Defesa Serguêi Choigu (à dir.). Foto: mil.ru

A impressão que fica é a de que Serguêi Choigu continuará as iniciativas positivas de Anatóli Serdiukov e corrigirá seus erros; entre os temas a serem enfrentados está a reforma da indústria armamentista.

O tema central da agenda política russa na última semana foi o afastamento de Anatóli Serdiukov da pasta da Defesa. Depois do escândalo em torno da empresa Oboronservice, subordinada ao Ministério da Defesa e acusada de desviar bilhões de rublos de fundos públicos, Serdiukov foi substituído pelo ex-ministro para a Defesa Civil, Emergências e Eliminação das Consequências de Desastres Naturais, Serguêi Choigu, que também exercia a função de governador da Região de Moscou.

O general Valéri Gerasimov, comandante do Comando Militar do Centro, foi nomeado o novo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, em substituição ao general Nikolai Makarov. Já o general Arkadi Bákhin deixou o cargo de comandante do Comando Militar do Oeste para ocupar o de primeiro vice-ministro no lugar de Aleksandr Sukhorukov. Outra ascensão a vice-ministro foi a do general Oleg Ostápenko, que comandava a Defesa Aeroespacial.

Segundo informações, estão prestes a ser demitidos a vice-ministra Tatiana Chevtsova, à frente dos setores financeiro e de habitação da pasta, e Dmítri Chúchkin, responsável ​​pela política de tecnologias de informação.

O fato de o novo ministro trazer sua equipe e nomear generais experientes para cargos dirigentes no ministério não é de surpreender. O que mais surpreende é o presidente, o primeiro-ministro e o novo ministro ainda não terem se pronunciado sobre as reformas realizadas Serdiukov e Makarov nos últimos anos.

Até o momento, conhecemos apenas a avaliação geral dada por Vladímir Pútin em artigo de campanha publicado em março passado, quando o presidente se disse satisfeito com a reforma em curso, reconhecendo, contudo, que alguns erros haviam sido cometidos e que deveriam ser corrigidos.

Durante sua recente visita ao Vietnã, o premiê Dmítri Medvedev disse que "Serdiukov foi um ministro eficaz. A prova é a reforma realizada por ele nas Forças Armadas". Depois disso, nenhum outro comentários foi feito.

Surge, portanto, a pergunta: quais passos são esperados de Serguêi Choigu e sua equipe?

 

Serdiukov

Anatóli Serdiukov foi nomeado ministro da Defesa em fevereiro de 2007. Na ocasião, foi anunciado que as reformas estavam concluídas e que o país  procederia na construção de um novo exército e de uma nova marinha. Mas  quando as tropas georgianas invadiram a Ossétia do Sul e atacaram a força de paz russa, em agosto de 2008, ficou claro que nada tinha sido feito. As tropas russas lançadas contra a Geórgia usaram esquemas e equipamentos de reconhecimento, comunicação, navegação e luta eletrônica obsoletos, além do velho sistema de comando e coordenação das tropas no campo de batalha.

O sistema de prestação do serviço militar em regime de contrato ou voluntariado não funcionava e o número de insubordinados ultrapassava os 200 mil. Os salários pagos aos oficiais subalternos equivaliam aos de um funcionário da limpeza do metrô de Moscou.

Nessas circunstâncias, Serdiukov, apoiado por altos oficiais do Estado-Maior, procedeu com a limpeza das Cavalariças de Águias no ministério da Defesa. Foram criadas três estruturas operacionais das Foças Armadas: agrupamento regional, exército e brigada, em substituição à configuração anterior, que havia se revelado ineficaz nas guerras chechenas e no conflito de agosto de 2008 na Ossétia do Sul.

No lugar das seis Regiões Militares e quatro Esquadras foram criados quatro Comandos Militares de área: do Oeste, do Sul, do Centro e do Leste. Todas as tropas estacionadas em seus territórios, menos a Força de Mísseis Estratégicos e a Defesa Aerospacial, foram colocadas sob um único comando.

A partir desse momento, os exercícios militares passaram a ser realizados com a participação de todos os ramos das Forças Armadas, Defesa Antiaérea, Tropas Paraquedistas e Corpo de Fuzileiros Navais. Nossos navios foram colocados no oceano e os aviões começaram a voar no espaço aéreo do Atlântico, do Pacífico e do Ártico. Foi criada a Defesa Aeroespacial e veículos aéreos não tripulados entraram em serviço.

Os soldados recrutas deixaram de ser usados para a guarda de depósitos e armazéns. Os serviços de limpeza e alimentação nas unidades militares  foram terceirizados. O problema habitacional deixou de marcar passo: o número de militares sem casa diminuiu de 54,5 mil, em janeiro passado, para os atuais 14,5 mil.

Dúvidas

Por outro lado, algumas iniciativas do ex-ministro geram dúvidas. Não ficou claro, por exemplo, qual o objetivo da reforma dos estabelecimentos de ensino militares. Alguns foram encerrados. Outros, transferidos para outras cidades, para onde professores e especialistas não quiseram ir.

O Estado-Maior da Armada e o Comando Geral da Marinha foram transferidos para São Petersburgo e 250 mil postos de oficial foram extintos. Mais tarde, 70 mi foram trazidos de volta. Muitas policlínicas e hospitais foram fechados.

À luz disso tudo, a impressão que fica é a de que o novo ministro da Defesa irá continuar as iniciativas positivas de Serdiukov e corrigirá seus erros. Em reunião com o novo chefe do Estado-Maior, general Gerasimov, o presidente Vladímir Pútin disse que um dos principais objetivos continua a ser o rearmamento das Forças Armadas e o aprimoramento do sistema de comando e controle das tropas. Outro desafio importante é a reforma da indústria armamentista. O governo resolveu disponibilizar três trilhões de rublos (cerca de US$ 90 bilhões) para a modernização da indústria armamentista russa até 2020. 

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