Esquema do Reator Termonuclear Experimental Internacional (ITER, na sigla em inglês).Ilustração: Divulgação
No dia 1º de novembro de 1952, os EUA testaram a primeira bomba de hidrogênio do mundo, no Eniwetok Atoll (nas Ilhas Marshall). Nove anos depois, a União Soviética explodiu uma munição termonuclear de 50 megatons, o equivalente a 50 milhões de toneladas de explosivos convencionais.
Desde então, munições termonucleares estão presentes nos maiores exércitos do planeta. No entanto, esse tipo de reação pode ser usada não só para criar uma arma de alto poder de destruição como também para salvar nossa civilização da crise energética.
As fontes tradicionais de energia estão se esgotando. "Com o atual nível de consumo de energia, as reservas de petróleo, gás e urânio vão durar cerca de 100 anos. Por isso, a busca de fontes alternativas é um imperativo", diz Erik Galimov, membro da presidência do Conselho para as Atividades Espaciais da ACR (Academia de Ciências da Rússia).
Hidrogênio
Uma fonte de energia realmente inesgotável é a reação de fusão termonuclear que utiliza a energia de fusão de núcleos leves como, por exemplo, os de hidrogênio e de seus isótopos: deutério e trítio.
As reações nuclear e termonuclear têm uma afinidade importante: ambas desprendem uma energia enorme, sendo que a quantidade liberada na segunda é quatro vezes superior à obtida na primeira. Mas enquanto a bomba H (termonuclear) foi desenvolvida e testada em pouco tempo, o problema da reação termonuclear controlada é estudado pelos melhores cientistas soviéticos e norte-americanos desde os anos 1920.
No início dos anos 1970, a comunidade internacional percebeu que a construção de um reator termonuclear exigia a junção de esforços de vários países. Em setembro de 1985, a União Soviética propôs a alguns países o desenvolvimento conjunto do Reator Termonuclear Experimental Internacional (ITER, na sigla em inglês).
No início dos anos 1990, cientistas de Rússia, EUA, Japão e da Europa elaboraram um projeto conceitual de um reator do tipo. Em julho de 1992, sob os auspícios da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), um grupo internacional de físicos e engenheiros, entre os quais especialistas do Canadá e da China, levou projeto à prática.
O objetivo principal do projeto do ITER é demonstrar que os planos de obter energia a partir de reações de fusão de isótopos de hidrogênio são cientificamente e tecnologicamente viáveis. Estima-se que o ITER deva produzir cerca de 500 MW de energia a uma temperatura do plasma de 100 milhões de graus.
Em novembro de 2006, União Europeia, Rússia, Japão, EUA, China, Coreia do Sul e Índia assinaram um acordo para a realização conjunta do Projeto ITER. As obras de construção do reator começaram em 2007.
Rússia
A participação da Rússia consiste em elaborar, construir e transportar até a sede do ITER, na cidade francesa de Cadarache, o principal equipamento tecnológico e contribuir com uma quantia financeira equivalente a 10% do valor total das obras. EUA, China, Índia, Japão e Coreia contribuirão com a mesma quantia.
As obras, orçadas em € 5 bilhões, estavam previstas para serem concluídas em 2016. Com o tempo, porém, o valor estimado da despesa dobrou. Como resultado, a data de início de experiências ficou para 2020.
O papel da liderança no projeto pertence aos especialistas russos, que, pela primeira vez na história, conseguiram levar à prática um projeto de dispositivo nuclear quase-estacionário com uma capacidade nominal de cerca de 500 milhões de watts.
O instituto de estudos sobre equipamento eletrofísico Efremov, em São Petersburgo, está realizando testes com equipamentos para o ITER e os primeiros resultados devem ser obtidos no final de novembro, segundo informou a Agência russa para o ITER.
O presidente do Kurchatovski Institut, Evguêni Velikhov, havia dito anteriormente que a Rússia cumpre com êxito seus compromissos no âmbito do projeto e tem um índice de envolvimento mais alto do que os outros países.
No final de julho de 2009, em seu discurso no centro de pesquisas nucleares Arsamas-16, nos arredores de Níjni Novgorod, o então presidente Dmítri Medvedev fixou metas para os trabalhos.
"A fusão termonuclear é um projeto de longo prazo. A construção de um reator comercial é esperada para 2040 a 2050. O processo terá três fases: aprender a operar o regime de longa queima de hidrogênio em reações termonucleares, demonstrar a produção de energia elétrica e construir usinas", disse Medvedev.
Em meados de 2007, o acadêmico Evguêni Velikhov disse duvidar que a primeira usina termonuclear pudesse ser construída antes de 2030.
Acredita-se, entretanto, que a produção industrial de energia termonuclear com 1 GW de potência comece na Rússia em 2050 e que, no final do século 21, seja atingida a meta de 100 GW, o que equivale a mais de 40% da capacidade atual do setor energético do país.
Enquanto isso, o "gênio" termonuclear indomável deve permanecer preso em um "jarro" forte.
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