Ilustração: Dmítri Dívin
Como se sabe, o SU-35 já participou mais de uma vez da concorrência organizada pelo governo brasileiro, mas nunca chegou até o final. Além do SU-35, participaram desse edital, que teve início ainda em 2007, três aviões: o Rafale, da francesa Dassault, o americano F/A-18E/F Super Hornet, da Boeing, e o sueco JAS 39 Gripen, produzido pela Saab.
A licitação tinha em vista o fornecimento de 36 aviões até 2015, além da
produção de mais 84 até 2024 pelos próprios brasileiros, com a concessão que
seria fornecida juntamente com os caças. Os favoritos eram o Rafale e o Gripen,
mais baratos e fáceis de usar. Mas a decisão final ainda não foi tomada.
A concorrência já foi adiada mais de uma vez. Na primavera de 2011, por
exemplo, ela foi interrompida por falta de recursos. Hipóteses foram levantadas
após uma visita de consulta do ministro da Defesa do Brasil, Celso Amorim, à
Índia, logo depois de o Rafale vencer uma licitação no país em fevereiro com
126 caças multifuncionais de porte médio. Então, uma série de jornalistas
anunciou que o favorito seria o caça francês.
O avião russo SU-35, um caça da geração 4++ com a vantagem de ser pouco
visível, corresponde totalmente às exigências da quinta geração. Ele é capaz de
desenvolver uma velocidade de 2,5 mil quilômetros por hora, superando os 3,4
mil quilômetros. O raio de combate do caça alcança 1,6 mil quilômetros. O SU-35
está armado com peças de calibre de 30 milímetros. Além disso, o avião possui
12 pontos de suspensão para foguetes e bombas de diferentes tipos.
Detecção de alvos
Uma característica muito importante da aeronave é que seu sistema de controle
de armamento é a nova estação de radar de grade faseada “Irbis-E”, que possui
características únicas no que diz respeito à capacidade de detecção de alvos. De
acordo com especialistas russos, seu alcance de detecção de alvos em regime
“ar-ar” ultrapassa 400 quilômetros. Esse índice é significativamente mais
elevado que o de caças análogos.
O RLS instalado no avião com radar de grade faseado também tem mais alcance de
detecção de alvos aéreos. Além disso, pode analisar simultaneamente o espaço em
terra e aéreo e descobrir, acompanhar e bombardear um maior número de alvos
(aéreos: acompanhar 30 alvos e atacar 8; em terra: acompanhar 4 alvos e atacar
2).
Uma ampla gama de armas de longo, médio e curto alcance diferencia o SU-35 de
outras aeronaves. Ele pode transportar 8 toneladas de carga de combate,
incluindo meios aéreos dirigidos para derrotar alvos em terra e ar de longo
alcance, assim como de médio e curto – RLS, antinavio, bombas corrigíveis e
outros. As características potenciais do avião permitem superar todos os caças
táticos da geração 4 e 4+ do tipo “Rafale” e EF 2000, assim como caças
modernizados dos tipos F-15,F-16, F-18, F-35 e equiparar-se ao F-22A.
Assim, a razão do insucesso da aeronave no edital brasileiro pode ser a pressão
dos países interessados na vitória de suas empresas com o governo do Brasil,
segundo especialistas. Quando o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy soube que
Dilma viajaria a Moscou e poderia discutir com Pútin a compra do SU-35, voou
com urgência a Brasília, diz-se, para defender os interesses da Dassault.
Seu esforço teria tido frutos quando o edital foi lançado e o SU-35 ainda não
fazia parte das forças armadas russas. Então, o Brasil não iria querer comprar
aviões russos que ainda não voavam nem na terra natal. Agora, porém, o
Ministério da Defesa da Rússia assinou contrato com a Sukhôi para compra de 48
caças SU-35. A
primeira esquadrilha já entrou para o sistema de combate das forças aéreas.
Ainda em março deste ano, o diretor do Serviço Federal de Cooperação
Técnico-Militar, Aleksandr Fomin, já havia comentado a renovação da
participação do caça russo no edital brasileiro. “Se for aberta uma nova
concorrência ou se a última for renovada, estaremos preparados para cooperar
com nossos parceiros brasileiros”, disse Fomin.
A primeira chance de exportação do modelo também já foi divulgada: uma possível
venda de 48 SU-35 para a China por 4 bilhões de dólares. Mas o Brasil ainda
pode tomar a dianteira.
Vantagem à vista
Uma questão continua em aberto: o que o Brasil ganha com a compra dos caças
multifuncionais russos? Diz-se que Moscou poderá comprar aviões de passageiros
da brasileira Embraer em troca.
Principalmente porque o primeiro-ministro Dmítri Medvedev declarou recentemente que o mercado russo de transporte de passageiros necessita desse tipo de avião que o Brasil possui. O único problema seria o futuro do Sukhôi Superjet, para até 100 passageiros. Nesse segmento, existe ainda o russo-ucraniano An-148.
Há também questões relacionadas às licenças para a produção do SU-35 em
fábricas brasileiras. A capacidade local de construção de aeronaves, assim como
a qualificação dos engenheiros e pessoal técnico são bastante elevadas para
que, com a licença, a produção desse caça seja assimilada muito rapidamente.
Resumindo, ainda há muitas questões em aberto para além do desejo de fortalecer
a cooperação técnico-militar com um dos líderes do Brics, que é o Brasil. Mas
só teremos respostas após a aguardada visita da presidente Dilma Rousseff.
Víktor Litóvkin é editor-chefe da
revista “Nezavissimoie Voiennoie Obozrénie” (do russo, “Observador Militar
Independente”).
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: