Fundador da rede social VKontakte, Pavel Durov (à esq.), e fundador da Wikipédia Jimmy Wales (à dir.). Foto: Getty Images / Fotobank
Em 2006, enquanto a Rússia estava no meio do boom econômico, um jovem empresário chamado Albert Popkov teve uma ideia paradoxal: capitalizar sobre as tendências nostálgicas de seus compatriotas para erguer uma empresa do século 21, fundando a rede social Odnoklassniki (“colegas de classe”, em português), um misto de reunião de antigos colegas de escola e redes sociais.
Dentro de um ano, um milhão de russos aderiram ao site, onde podiam reestabelecer contato com pessoas diversas, desde garotos com quem haviam dividido uma barraca no acampamento de verão 30 anos atrás a seus ex-vizinhos. O site ganhou o primeiro lugar em diversas premiações nacionais para internet e, em 2008, Popkov foi nomeado “empresário do ano” pela revista “GQ”.
O Odnoklassniki prosperou e recebeu quase 30 milhões de visitantes de países de língua russa até julho de 2008. Hoje em dia, o site possui o mesmo número de acessos, porém, diariamente. É a segunda rede social mais popular da Rússia, e sua meta é ultrapassar a líder no mercado russo, Vkontakte, que dispõe de 35 milhões de visitas por dia.
No início de 2008, Popkov foi acusado de roubar informações cruciais de uma empresa britânica para qual havia trabalhado antes de fundar o Odnoklassniki. Embora tenha negado as acusações, foi solto somente depois de vender seu projeto de estimação por um valor estimado em 10 a 20 milhões de euros para a DST, uma holding que mais tarde passou a se chamar Mail.ru Group.
O Mail.ru detém agora 100% do Odnoklassniki, controla o principal serviço de e-mail da Rússia e tem uma participação de 40% na concorrente Vkontakte.
Mas o Odnoklassniki continuou a gerar lucros. A empresa faturou US$ 103 milhões nos primeiros três trimestres de 2011, garantindo um lucro líquido de US$ 45 milhões.
Guêrman Klimenko, editor do site de monitoramento público liveinternet.ru acredita que o sucesso atual do Odnoklassniki é impulsionado pela integração com os serviços oferecidos por sua controladora, Mail.ru.
“Com a mesma conta, o usuário controla tanto o e-mail quanto seu perfil na rede social, além de cruzar informações. Esse é um incentivo significativo para os anunciantes”, diz Klimenko. Ele acrescenta que, ao contrário dos seus concorrentes, o Odnoklassniki oferece anúncios em vídeo. “Portanto, trata-se de um ponto de venda muito forte.” Integração e cooperação, ao que parece, são as palavras de ordem.
Músicas e emoticons
No entanto, a assimilação completa pelos investidores externos é um destino que Pável Durov, fundador do Vkontakte, tem procurado evitar.
Quando Durov lançou o Vkontakte (“em contato”, em português) no final de 2006, ele foi acusado de clonar descaradamente o Facebook, copiando até mesmo o esquema de cores.
No entanto, o estudante de filologia inglesa que frequentou a Universidade Estatal de São Petersburgo seguiu em frente com sua ideia, oferecendo aos usuários o livre compartilhamento de arquivos de vídeo e áudio. As acusações de roubo de propriedade intelectual caíram rapidamente como uma bomba, mas os usuários adoraram o conteúdo gratuito. Eles ainda adoram.
As listas de reprodução do Vkontakte são um sucesso, especialmente entre os adolescentes e os jovens de 20 e poucos anos. Não só porque as músicas e clipes motivam os usuários a dar um “check in”, mas também por mantê-los atualizados sobre as novidades.
De acordo com os dados coletados pelo site comscore.com, cada visitante passou, em média, 490 minutos por mês no Vkontakte em 2011, em comparação aos 340 minutos no Odnoklassniki e apenas meia hora no Facebook, que fez sua primeira incursão séria no mercado russo há dois anos.
Estima-se que o Facebook tenha agora 14 milhões de usuários registrados, e é bastante popular entre donos de empresas que gostam de se promover em outros meios de comunicação – sobretudo na TV – como tendo uma conta no Facebook.
A decisão de um tribunal de segunda instância russo no início deste ano de que o download e compartilhamento gratuito de arquivos caracterizava violação de direitos autorais poderia ter criado problemas para o Vkontakte, mas a empresa se adaptou.
Em vez disso, a rede social se baseou na experiência do YouTube, e permitiu que os proprietários dos direitos autorais deletassem o conteúdo pirata enquanto oferecia ajuda a eles para promoção de suas páginas. A empresa também pagou uma multa de US$ 6.780, um valor irrisório em meio ao mar de receita, que cresceu, em 2011, para US$ 106 milhões e US$ 16,6 milhões de lucro líquido – um aumento de 41,7% e 13,9%, respectivamente, em relação ao ano anterior.
Os bons resultados podem ser parcialmente explicados pela avaliação de preços feita pelos marqueteiros russos sobre o poder do conteúdo gratuito, embora pirata. Dez mil anunciantes estão registradas na rede, cada um pagando antecipadamente uma média de US$ 645. Os analistas estimam que o Vkontakte esteja valendo mais de um bilhão de dólares e que a fortuna pessoal de Durov gire em torno de US$ 260 milhões.
Em maio passado, ele passou um final de semana jogando vários aviões de papel da janela de seu escritório em São Petersburgo. E esses aviões eram feitos com notas de 5 mil rublos (cerca de 159 dólares). A empresa de Durov não é tão generoso em relação a todos os seus serviços, entretanto.
“Os operadores russos e, particularmente, o Odnoklassniki, deixaram claro para os usuários desde o primeiro dia: ‘para algumas funções, é preciso pagar’. Você quer jogar on-line com seus amigos ou compartilhar um emoticon? Esse jogo ou emoticon terá um custo”, diz Ariel Weiss, ex-executivo do ICQ, o programa de mensagens instantâneas que foi febre no Brasil e hoje é propriedade do Mail.ru. “Eles perceberam que é preciso rentabilizar e sabem como adaptar modelos ocidentais às necessidades do seu público.”
Os serviços pagos oferecidos pelo Odnoklassniki incluem qualquer coisa de joguinhos e o direito de permanecer anônimo quando tiver vasculhando as páginas alheias até enviar presentes virtuais como músicas, que podem chegar a custar US$ 2,50 cada.
O Odnoklassniki quer agora elevar a receita provenientes dos produtos virtuais para o próximo nível. A empresa pretende oferecer aos seus clientes a oportunidade de obter empréstimos virtuais, e promete não impor a cobrança de dívidas.
De acordo com a consultoria J'son & Partners, os serviços pagos na Rússia geraram US$ 514 milhões em 2011. O Mail.ru Group informou que tais serviços contribuíram para que a empresa gerasse quase US$ 128 milhões no ano passado.
Nova fronteira móvel
As redes sociais de língua russa podem estar entrando em um período mais competitivo que nunca, especialmente desde que o Facebook abriu uma quota de mercado de 20%. “Um impressionante ponto de partida”, como descreve Klimenko. Ele prevê que os dois grandes jogadores locais serão obrigados a entrar em “uma batalha por cada assinante para continuar prosperando”.
Popkov, o homem que lançou o Odnoklassniki, chefia agora o site de comparação de preços Sravni.ru, que, segundo ele, desfruta de “sucesso moderado”. Ele acredita que a internet russa pode continuar a ser um bom lugar para os investidores locais. “Os projetos estrangeiros raramente têm sucesso aqui. É possível que em poucos anos haverá apenas um ou dois líderes e todos os outros vão encolher e praticamente desaparecer.”
Outro obstáculo a ser superado pode estar fora da Rússia. Tanto o Odnoklassniki quanto o Vkontakte anunciaram planos de expansão internacional. Em abril, o Odnoklassniki informou que vai oferecer versões locais para seu público uzbeque, armênio, georgiano e moldavo, e planeja uma versão em inglês para satisfazer seu contingente norte-americano. Segundo as estimativas, há mais de um milhões de membros nos EUA.
O Vkontakte, por sua vez, já está disponível em 70 idiomas, inclusive inglês e português brasileiro, e foi recentemente rebatizado como VK.com em uma tentativa de se tornar mais atraente para o público internacional.
No entanto, Popkov acredita que ainda há muitas oportunidades dentro da própria Rússia. Nascido na ilha de Sakhalin, no Extremo Oriente russo, ele vê futuro nas redes que se aventuram em regiões remotas para aproveitar a crescente popularidade de dispositivos móveis.
“A banda larga foi o mais recente e importante impulso para as redes sociais”, relembra. “O mesmo pode acontecer com o celular quando o acesso à internet se tornar mais rápido. Quem for inteligente e rápido o suficiente para oferecer serviços móveis de alta qualidade deverá ganhar o mercado.”
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