Editor-chefe da revista Russia in Global Affairs Fiódor Lukiânov. Foto: Divulgação Fiesp
Na semana passada, caças da Força Aérea turca obrigaram um Airbus A-320 que seguia de Moscou para Damasco a pousar para uma inspeção por suspeita de transporte de carga ilegal.
Após a vistoria no aeroporto de Ancara, a polícia turca apreendeu equipamentos de comunicação, rádios e jammers (equipamento bloqueador de sinal).
Segundo o porta-voz da diplomacia russa, Aleksandr Lukachévitch, a Rússia exigiu explicações de Ancara pela interceptação do avião sírio que colocou em perigo os 17 passageiros russos presentes aeronave.
Em entrevista à emissora de rádio Kommersant FM, o editor-chefe da revista “Russia in Global Affairs”, Fiódor Lukiânov, fez comentários a respeito da polêmica.
Kommersant FM:É verdade que realmente havia equipamento militar a bordo da aeronave síria?
Fiódor Lukiânov: Não tenho
informações para afirmar nada, mas a Turquia diz que sim. A parte russa não diz
nada de concreto a esse respeito, mas eu não descarto a possibilidade. No
entanto, interceptar um voo comercial e obrigar a aeronave a pousar sem ter certeza
de que realmente transporta algo ilegal é uma questão bastante grave.
K.FM:A Força Aérea turca tinha o direito de interceptar e inspecionar a aeronave síria?
F.L: Não. Mesmo se a Turquia tivesse a informação de que a aeronave transportava carga militar, a Síria não é alvo de sanções internacionais. Digo, sanções internacionais universalmente aprovadas e confirmadas pelo Conselho de Segurança da ONU, e não aquelas impostas unilateralmente pela União Europeia ou pelos EUA. Portanto, a Turquia não tinha direito legal de fazer isso. E a Rússia vai naturalmente chamar a atenção para esse fato.
K.FM:Como ficarão agora as relações entre a Turquia e a Síria, e entre a Turquia e a Rússia, depois do ocorrido?
F.L: Acho que, a partir de agora, as relações entre a Turquia e a Rússia ficarão mais tensas. Tudo vai depender se os dois países desejarão agravar ainda mais o conflito, mas não acho que seja o caso. A Turquia está interessada na Rússia.
Até há pouco, parecia que as grandes divergências existentes entre os dois países quanto ao problema sírio não afetariam as relações bilaterais e que os dois países conseguiram separar uma coisa da outra. Infelizmente, agora a situação mudou. A Turquia está muito envolvida no conflito interno da Síria.
O problema sírio deixou de ser regional e virou turco também, pois os territórios ao longo da fronteira turca passaram a ser controlados pelos militantes do Partido Curdo do Trabalho (PKK), e não pelo governo sírio. Para a Turquia, trata-se de uma ameaça real, porque seus piores inimigos podem criar postos avançados bem perto da fronteira.
Originalmente publicado no site do Kommersant
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