“Adesão russa é bem-vinda”, diz diretor-geral do Cern

Rolf Heuer Foto: fnal.gov

Rolf Heuer Foto: fnal.gov

Em entrevista ao site de notícias Gazeta.ru, o diretor-geral do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em inglês), Rolf Heuer, falou sobre as expectativas da organização na parceria com a Rússia, que deverá se tornar membro associado da organização. Entre os benefícios trazidos pela futura cooperação, Heuer destacou o conhecimento russo nas áreas de ciência e engenharia.

Gazeta.ru:Em abril, as autoridades russas prometeram iniciar as negociações sobre a adesão da Rússia ao Centro Europeu de Pesquisa Nuclear, mas não houve mais informações sobre o assunto. Em que fase está o acordo?


Rolf Heuer:
Estamos em contato direto com a parte russa. O Cern recebeu um memorando de entendimento da Rússia, no qual as autoridades reafirmam o interesse em aderir ao Cern como membro associado. Esperamos receber seu pedido oficial de adesão em um futuro próximo.

Criado em 1954, o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear é o maior laboratório de física de partículas do mundo. A organização é constituída por 20 países-membros e realiza pesquisas de ponta na área de física nuclear.

G.R:Quais benefícios a presença no Cern proporcionará à Rússia? 

R.H: Os russos poderão trabalhar diretamente no Cern [atualmente, a Rússia envia seus físicos ao Cern somente em missão de serviço, portanto, não são funcionários do Cern nem recebem salários do órgão]. As empresas industriais russas terão acesso aos trabalhos de pesquisa e desenvolvimento e poderão se tornar fornecedores de produtos tecnológicos para a organização.

Além de os cientistas russos poderem participar dos programas de bolsas de investigação do Cern, o país terá direito de participar dos nossos programas educacionais voltados, por exemplo, para universitários e professores do ensino médio. Enfim, a filiação oficial é uma sólida base para uma parceria duradoura e mutuamente vantajosa.

G.R.:O que leva o Cern a abrir suas portas para a Rússia?

R.H.: Um país como a Rússia, forte não só em ciência, mas também em engenharia, é sempre um parceiro bem-vindo. Queremos intensificar nossos contatos nessas áreas e isso será possível quando a Rússia se juntar ao Cern como membro associado.

A nossa colaboração remonta aos anos 1960, e o papel da Rússia em nossas experiências recentes é grande. Cabe lembrar que o país concedeu boa parte dos ímãs para o [maior acelerador de partículas do mundo] Grande Colisor de Hádrons.

G.R:Quanto custará a adesão ao Cern para o país?

R.H.: É impossível dizer agora qual percentual de seu PIB a Rússia irá pagar como membro do Cern. O montante das contribuições de um membro efetivo é calculado conforme o seguinte esquema: o orçamento anual do Cern é dividido entre os países-membros proporcionalmente à sua Renda Nacional Líquida. As contribuições de países grandes como a Alemanha equivalem a 20% do orçamento anual do Cern e de alguns países pequenos, a menos de 1%. Trata-se de um percentual do orçamento anual do Cern, e não do PIB de um país.

No caso de membros associados, a situação é diferente, porque, em cada caso específico, os deveres e diretos das partes são objeto de negociações. Mas, de qualquer maneira, a contribuição mínima de um membro associado não deve ser inferior a 10% do valor que ele pagaria como membro efetivo.

G.R:Quais são os planos do Cern a longo prazo? Há realmente a intenção de construir um Colisor Linear Internacional (ILC, na sigla em inglês) na cidade russa de Dubna?

R.H: Até 2030, planejamos continuar os trabalhos relacionados ao Grande Colisor de Hádrons e submetê-lo a várias atualizações. Os resultados obtidos vão nos mostrar o tipo de acelerador de que precisaremos para continuar nossos trabalhos no futuro. Quanto ao local para construção de um novo ILC, vai depender de questões políticas envolvendo diferentes regiões do mundo.

Originalmente publicado pelo jornal on-line Gazeta.ru

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